A questão a seguir trata sobre a prosa de Machado de Assis.
Monsenhor Caldas fez um gesto de assentimento, sem perder de vista a bengala que José Maria conservava atravessada sobre as pernas. Este preparou vagarosamente um cigarro. Era um homem de trinta e poucos anos, pálido, com um olhar ora mole e apagado, ora inquieto e centelhante. Apareceu ali, tinha o padre acabado de almoçar, e pediu-lhe uma entrevista para negócio grave e urgente. Monsenhor fê-lo entrar e sentar-se; no fim de dez minutos, viu que estava com um lunático. Perdoava-lhe a incoerência das idéias ou o assombroso das invenções; pode ser até que lhe servissem de estudo. Mas o desconhecido teve um assomo de raiva, que meteu medo ao pacato clérigo. Que podiam fazer ele e o preto, ambos velhos, contra qualquer agressão de um homem forte e louco? Enquanto esperava o auxilio policial, monsenhor Caldas desfazia-se em sorrisos e assentimentos de cabeça, espantava-se com ele, alegrava-se com ele, política útil com os loucos, as mulheres e os potentados.
(ASSIS, Machado, 50 Contos de Machado de Assis selecionados por John Gledson, 2007, p. 273)
No trecho do conto “A Segunda Vida”, de Machado de Assis, podemos identificar as marcas da sua obra, relacionadas a seguir:
I. Machado de Assis, em suas narrativas, abandona as descrições da natureza, voltando-se para a exploração psicológica das personagens.
II. Um dos dispositivos técnicos mais modernos da narrativa machadiana é a invenção do leitor incluso, ou seja, o narrador se dirige ao um interlocutor que não faz parte da narrativa.
III. As narrativas machadianas são formulações de psicologia aplicada ou instrumentos de problematização da existência. O autor reinventa nelas aquilo que observava nas pessoas, procurando explorar, em profundidade, os componentes essenciais da ética, da moral e da psicologia.
Assinale a alternativa correta: