O regime democrático cumpre um papel conhecido e alardeado, que é a menina dos olhos de quem o defende: ele aceita um teor de conflito na sociedade. Admite como normal que haja tensões entre pessoas ou grupos. Pela primeira vez na história do mundo, desobriga os homens de viver num todo harmônico, equilibrado. Porque a harmonia é uma empulhação. No Ocidente, a comparação do Estado a um corpo harmônico e saldável autorizou considerar o divergente um membro gangrenado ou doente, que deve ser amputado. Quem não obedece ao amor do príncipe não é apenas um divergente, uma pessoa livre para pensar de outra forma: é um traidor, um ingrato, um infame.
(Renato Janine Ribeiro. A democracia acalma conflitos. Revista Filosofia, setembro de 2014. Adaptado)
A consideração sobre a democracia apresentada por Renato Janine Ribeiro pressupõe a pluralidade de ideias e seus respectivos conflitos. Nesse sentido, é uma prática que não condiz com a percepção do autor em torno da defesa da democracia: