Os retirantes, de volta ao Nordeste
É uma cena que se repete há cem anos e, como mostram os relatórios oficiais, veio ganhando expressão à medida que o tempo avançava. Ficou evidente nos anos 30 do século XX, com a expansão da produção agrícola no estado de São Paulo, e ainda mais pujante na década de 60, com o boom experimentado pela construção civil na capital e pelo acelerado processo de industrialização puxado pelo setor automobilístico, que começava a se desenvolver nos municípios do ABC. Primeiro eles somavam alguns milhares; depois passaram a ser contados aos milhões. O contingente de nordestinos que deixaram os estados de origem, fugindo da fome, da miséria e da seca atrás de melhores oportunidades e condições de vida no Sudeste, em especial na cidade de São Paulo, mudou para sempre a cara do Brasil.
"A industrialização e a urbanização da capital paulista sempre atraíram os brasileiros do Nordeste", observa a socióloga Dulce Maria Tourinho Baptista, docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. "Dadas as precárias condições de vida no lugar de origem, eles continuam correndo atrás de uma vida melhor, alimentados pela ilusão de que São Paulo é a resposta a seus desafios", diz. Essa interpretação da cidade como local do emprego e da boa qualidade de vida, no entanto, começou a ruir anos atrás, fazendo com que parcela considerável dos migrantes passasse a observar melhor o destino de suas andanças antes de se aventurar na direção do Sudeste.
Além disso, um outro processo vem sendo observado. Apelidado de migração de retorno, o fenômeno decorre, dentre outras coisas, da elevada taxa de desemprego amargada pelos paulistanos e dos baixos salários pagos às pessoas com pouca ou nenhuma capacitação. "Há duas ou três décadas, o tempo consumido pelo migrante para conseguir um emprego não era mais que uma semana ou um mês, na pior das hipóteses", explica Luiz Bassegio, secretário do Serviço Pastoral dos Migrantes e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Grito dos Excluídos Continental. "Agora, não só é mais demorado como quase não se encontra trabalho. Além disso, há os sérios problemas da falta de moradia e da violência."
O adeus a São Paulo, portanto, parece compor uma tendência irrefreável, e ninguém coloca em dúvida que o próximo censo exibirá números ainda mais encorpados acerca dos migrantes que estão indo embora.
(NÍTOLO, Miguel. Problemas Brasileiros, nov./dez. 2006. Adaptado.)
Os dois últimos parágrafos do texto apresentam uma série de citações em discurso direto. Os itens abaixo apresentam em (a) trechos com citações diretas e em (b) sua reformulação em discurso indireto.
1. a) "A industrialização e a urbanização da capital paulista sempre atraíram os brasileiros do Nordeste", observa a socióloga Dulce Maria Tourinho Baptista.
b) A socióloga Dulce Maria Tourinho Baptista observa a industrialização e a urbanização da capital paulista, que sempre atraíram os brasileiros do Nordeste.
2. a) "Dadas as precárias condições de vida no lugar de origem, eles continuam correndo atrás de uma vida melhor, alimentados pela ilusão de que São Paulo é a resposta a seus desafios", diz Dulce Baptista.
b) Segundo Dulce Baptista, as precárias condições de vida no lugar de origem levam-nos a procurar uma vida melhor, alimentados pela ilusão de que São Paulo é a resposta a seus desafios.
3. a) "Há duas ou três décadas, o tempo consumido pelo migrante para conseguir um emprego não era mais que uma semana ou um mês, na pior das hipóteses", explica Bassegio. "Agora, não só é mais demorado como quase não se encontra trabalho”.
b) Bassegio compara o tempo para o migrante conseguir emprego há duas ou três décadas com a atualidade: antes ia de uma semana a, no máximo, um mês; atualmente não só é mais demorado como quase não se encontra trabalho.
A reformulação mantém as informações da citação direta correspondente em: