O sentimentalismo é uma daquelas muitas qualidades mais fáceis de reconhecer do que de definir. Os dicionários, como não surpreende, apontam todos para as mesmas características definidoras: um excesso de emoção falsa, doentia, e sobrevalorizada em comparação com a razão. Os dicionários maiores – por exemplo, o Oxford English Dictionary – são etimológica, mas não psicologicamente mais detalhados do que os menores. O OED observa que, originalmente, a palavra sentimental tinha conotações positivas: um homem que fosse chamado de sentimental, de meados do século XVIII até seu fim, hoje seria chamado de compassivo, o contrário de um vulgar brutamontes filisteu. A mudança de conotação começou a ser operada por volta do começo do século seguinte por Robert Southey, poeta romântico e revolucionário que virou um Tory conservador, ao escrever em tom de zombaria a respeito de Rousseau, e completou-se na virada do século XX.
A definição acima não menciona uma importante característica do tipo de sentimentalismo para o qual desejo chamar atenção – seu caráter público. Não mais basta derramar uma lágrima em particular, longe da vista alheia, pela morte da Pequena Nell; é necessário fazê-lo, ou seu equivalente moderno, à plena visão do público.
Suspeito, ainda que não possa provar, que isso seja em parte consequência de viver num mundo, incluindo um mundo mental, tão amplamente saturado por produtos da mídia de massa. Nesse mundo, aquilo que é feito ou que acontece no mundo privado não é feito ou não aconteceu absolutamente, ao menos não no sentido mais pleno possível. Não é real no sentido de que um reality show é real.
A expressão pública do sentimentalismo tem consequências importantes. Em primeiro lugar, ela demanda uma resposta daqueles que a testemunham. Essa resposta deve, de maneira geral, ser simpática e afirmativa, a menos que a testemunha esteja preparada para correr o risco de um confronto com a pessoa sentimental e ser acusada de dureza de coração ou de pura e simples crueldade. Há, portanto, algo coercivo ou intimidador em exibições públicas de sentimentalismo. Tome parte ou, no mínimo, evite criticar.
Uma pressão inflada também age sobre essas exibições. Não há muito sentido em fazer algo em público se, de fato, ninguém repara, Isso significa que exibições emotivas cada vez mais extravagantes se tornam necessárias, se se pretende que elas compitam com outras e sejam notadas. Os tributos florais ficam maiores; a profundidade de um sentimento é medida pelo tamanho do buquê. O que conta é a veemência e o volume expressivo.
Em segundo lugar, exibições de sentimentalismo público não coagem apenas transeuntes ocasionais, como que os sugando para o fétido pântano emocional, mas quando são suficientemente fortes ou disseminadas, começam a afetar as políticas públicas. Como veremos, o sentimentalismo permite que o governo jogue ossos para o público em vez de enfrentar os problemas de maneira determinada e racional, ainda que também inconvenientemente controversa.
Há, porém, aqueles que defendem o sentimentalismo. Ao afirmar que não há nada de errado com ele, que, pelo contrário, ele deve ser aplaudido, eles na verdade nos dão uma intuição mais precisa do que está errado com ele.
Entre os defensores mais notáveis do sentimentalismo estava o filósofo americano Robert C. Solomon, que faleceu em 2007. Solomon acreditava, com razão, acho eu, que as emoções eram necessárias para toda atividade cognitiva e pensamento racional. Sem uma postura emocional em relação ao mundo, no fim das contas, ninguém faria nada, pensaria nada nem buscaria nada. Um estado de completa neutralidade emocional logo levaria à morte por inanição.
DALRYMPLE, Theodore. Podres de mimados: as consequências do sentimentalismo tóxico.
O parágrafo final do texto apresenta uma relação de: