O ser humano é um paradoxo.
Nós somos um paradoxo porque somos animais capazes de refletir sobre o tempo e entender que temos uma dimensão finita neste planeta. Nós somos criaturas que nascemos, crescemos e, finalmente, morremos. Mas também somos capazes de ver um ciclo no qual a própria natureza repete essa ordem. Toda forma de vida repete essa fórmula: nascer, crescer e, finalmente, morrer. Ou seja, existe um ponto de criação e de destruição no universo e nós somos partes desse ciclo. Portanto, uma das grandes indagações do espírito humano é tentar compreender de onde nós viemos: por que nós estamos aqui? Qual é o sentido da nossa existência? Nós somos os únicos animais capazes de formular esse tipo de pergunta. É possível, contudo, que existam outras inteligências espalhadas pelo universo como supunha o filósofo italiano Giordano Bruno (1548 – 1600), todavia seus modos de expressão serão completamente outros.
Uma das lições que aprendemos com a ciência moderna, que julgo ser essencial, porém pouco discutida, é a da exclusividade do ser humano no universo. Dito isto, posso assegurar que não há outro ser humano no universo.
Ou seja, é impossível que, dentre a vasta existência dos planetas que existem no universo, possa ter havido outro planeta que tenha tido uma evolução e uma história similar à da Terra – com mais de 4,5 bilhões de anos – e que tenha forjado a emergência de outra espécie primata semelhante à nossa. Desta forma, aquilo a que me refiro é algo muito importante, isto é, apenas a nossa espécie existe como ser humano. Ainda que haja outros seres extraterrestres bípedes e com uma simetria bilateral eles não serão humanos, eles serão diferentes. Porque a história da vida, em cada planeta, reflete a história da vida daquele planeta.
Portanto, o que houve aqui – e sabemos que existe vida no planeta há algo em torno de 3,5 bilhões de anos – foi uma sucessão de acidentes cósmicos que fazem parte da história da Terra. O mais famoso desses acidentes sendo justamente aquele que extinguiu os dinossauros há 65 milhões de anos – a queda de um asteroide com aproximadamente dez quilômetros de diâmetro, no México, que acabou com 45% da vida no planeta. Caso isso não houvesse ocorrido, por exemplo [...], a história da vida na Terra seria diferente e nós não estaríamos aqui. É muito importante compreender isto porque, de um modo metafórico, coloca o ser humano de volta ao centro do universo.
Se nos voltarmos a uma perspectiva histórica, por exemplo, a noção de um homem como Pedro Álvares Cabral (1467 – 1520) era a de que a Terra era o centro, imóvel, e que havia várias esferas carregando os planetas [...].
Todavia, [...] houve uma mudança nessa concepção cósmica, ou seja, a Terra deixou de ser o centro do universo para se tornar apenas mais um planeta. [...]
Destarte, aquilo a que me refiro é, precisamente, a restituição da centralidade do humano no universo provocada pela ciência moderna. Nós somos, portanto, até segunda ordem, como o universo reflete sobre si mesmo porque temos a capacidade de imaginar o mundo e de tentar explicá-lo. (Texto de Marcelo Gleiser. In: INCERTI, F. (coord.). À escuta do infinito: estamos mais perto de Deus? Curitiba, PUCPress, 2018).
Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para a alternativa de acordo com o texto:
O texto de Marcelo Gleiser parte da tese de que o ser humano é um paradoxo porque é o único ser que consegue refletir sobre a existência de outras formas de vida/inteligências do universo.