Em um trecho do diálogo Eutidemo, Sócrates conta a Críton como discutiu com Clínias a possibilidade de haver uma arte ou ciência que leve os homens à felicidade. Após descartar diversas artes, eles dedicaram-se a considerar a “arte política”, identificada por eles com a “arte real”, ou seja, com a arte do governo do rei. Todavia, o desdobramento do diálogo mostra que também essa “arte política” ou “real” não pode exercer a função de levar os homens à felicidade, porque sua ação não torna os homens melhores eticamente. Eles constatam, assim, que chegaram a um impasse na argumentação, isto é, uma aporia.
A esse respeito, leia o fragmento:
[SÓCRATES] Mas que ciência então? De que maneira a usaremos? Pois é preciso que ela não seja artífice de nenhuma das obras que não são nem boas nem más, mas sim que transmita nenhuma outra ciência a não ser ela própria. Devemos dizer então que <ciência> é esta afinal, e de que maneira a usaremos? Queres que digamos, Críton: é aquela com a qual faremos bons os outros homens?
[CRÍTON] Perfeitamente.
[SÓCRATES] Os quais serão bons em quê? e, em quê, úteis? Ou diremos que farão bons ainda outros, e esses outros <farão bons> outros? Mas em quê, afinal, são bons, não nos é claro de maneira nenhuma, já que precisamente desprezamos as obras que se diz serem da política [...]; e, é exatamente o que eu dizia, estamos igualmente carentes, ou ainda mais, no que se refere ao saber qual é afinal aquela ciência que nos fará felizes.
[CRÍTON] Por Zeus, Sócrates! Chegastes a uma grande aporia, segundo parece.
(PLATÃO, Eutidemo, 292d-e)
EXPLIQUE por que, segundo Sócrates e Críton, a mesma arte não pode ser responsável por governar os homens e, simultaneamente, torná-los bons.