Questão
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA - UEMA SUL
2024
1ª Fase
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O trecho a seguir faz parte do livro, Um amor conquistado: o mito do amor materno, escrito pela pesquisadora francesa Elisabeth Badinter que desenvolveu uma análise crítica, a partir de uma perspectiva histórica e cultural das sociedades ocidentais, sobre a maneira que a ideia do amor materno é concebida e reproduzida socialmente.

O amor materno é apenas um sentimento humano. E como todo sentimento, é incerto, frágil e imperfeito. (...) Observando-se a evolução das atitudes maternas, constata-se que o interesse e a dedicação à criança se manifestam ou não se manifestam. A ternura existe ou não existe. As diferentes maneiras de expressar o amor materno vão do mais ao menos, passando pelo nada, ou o quase nada. Na França, em meados do século XVIII o envio das crianças para a casa de amas se estende por todas as camadas da sociedade urbana. Dos mais pobres aos mais ricos, nas pequenas ou grandes cidades, a entrega dos filhos aos exclusivos cuidados de uma ama é um fenômeno generalizado. Todavia, é no último terço do século XVIII que se opera uma espécie de revolução das mentalidades. A imagem da mãe, de seu papel e de sua importância, modifica-se radicalmente, ainda que, na prática, os comportamentos tardassem a se alterar. São inúmeras as publicações que recomendam às mães cuidar pessoalmente dos filhos e lhes "ordenam" amamentá-los. Elas impõem, à mulher, a obrigação de ser mãe antes de tudo, e engendram o mito que continuará bem vivo duzentos anos mais tarde: o do instinto materno, ou do amor espontâneo de toda mãe pelo filho. Moralistas, administradores, médicos puseram-se em campo e expuseram seus argumentos mais sutis para persuadi-las a retornar a melhores sentimentos e a "dar novamente o seio". Outro discurso, mais sedutor aos seus ouvidos, esboçava-se atrás desse primeiro. Era o discurso da felicidade e da igualdade que as atingia acima de tudo. Durante quase dois séculos, todos os ideólogos lhes prometeram mundos e fundos se assumissem suas tarefas maternas: “Sede boas mães, e sereis felizes e respeitadas. Tornai-vos indispensáveis na família, e obtereis o direito de cidadania”. A curiosa, a ambiciosa, a audaciosa metamorfoseia-se numa criatura modesta e ponderada, cujas ambições não ultrapassam os limites do lar.

BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. Adaptado

Ao analisar, sociologicamente, o texto, é correto afirmar que esse sentimento materno é
A
uma concepção pessoal que visa, a partir da assimilação, a indicar padrões antagônicos às mulheres de sua própria sociedade, incentivando a procriação, a fim de garantir a sobrevivência das sociedades.
B
uma representação inata, que regula e orienta a comunicação entre os grupos sociais, além de promover a igualdade entre as mulheres de classes divergentes, mediante o incentivo e a incitação à maternidade.
C
um mito criado socialmente que visa a justificar a transformação do pensamento das mulheres, tendo como base suas experiências vividas que são racionalizadas, culminando na acomodação satisfatória à maternidade.
D
um processo dissociativo e complexo estruturado nas relações sociais, possibilitando uma desconexão social, em favor de um novo indivíduo que transformará a vida das mulheres parturientes.
E
uma construção social, que passa por transformações ao longo do tempo e do espaço, alterando as estruturas de personalidade e os comportamentos individuais, produzidos e reproduzidos coletivamente no processo de socialização.