Rondó, a dança circular das palavras: o que é, características e variações

Rondó, a dança circular das palavras: o que é, características e variações

Marcado pela forte expressividade artística e pela musicalidade, o Rondó é uma estrutura de destaque na poesia medieval francesa

Entre as formas fixas que marcaram a tradição poética ocidental, o rondó ocupa um lugar de destaque pela engenhosidade de sua estrutura e pela musicalidade que emerge de sua construção. 

Originado na poesia medieval francesa, o rondó é caracterizado sobretudo pela repetição de um ou dois versos – o chamado refrão – ao longo do poema, conferindo-lhe, assim, uma cadência melódica e um efeito de circularidade que se aproxima da composição musical. 

Neste artigo, exploraremos a origem, a estrutura e as características dessa forma poética que transforma o eco em arte.

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Definição de rondó

O rondó é uma forma poética fixa em que sucedem-se tipos iguais de quadras ou estrofes maiores, em versos de sete sílabas. Os dois primeiros versos de uma estrofe, então, são retomados adiante, em outra estrofe.

Essa repetição pode ocorrer em diferentes posições dentro do poema, mas normalmente aparece no início e se repete ao fim de certas seções, criando um movimento circular que remete à ideia de retorno, sendo um elemento central de sua estrutura. 

Trata-se, portanto, de uma composição marcada pela simetria, equilíbrio e sonoridade, em que os versos recorrentes funcionam como âncora temática e rítmica do poema.

Longe de ser mera redundância, essa repetição cumpre uma função estética e crítica: retoma sentidos, enfatiza ideias e conduz o leitor a uma experiência rítmica marcada pela reiteração e pela variação. Assim, o rondó revela-se uma forma que combina rigor formal e expressividade artística.

Embora tenha se originado na tradição francesa medieval, especialmente associada à poesia trovadoresca e à música cortesã, o rondó ultrapassou fronteiras linguísticas e culturais, sendo alvo de releituras e adaptado por autores de diferentes épocas e estilos. 

Sua combinação de melodia verbal, repetição intencional e forma fechada faz dele um exemplo de como a técnica pode servir à emoção poética, abrindo espaço tanto para o lirismo quanto para a sátira, a crítica social ou a celebração amorosa.

O rondó na história da literatura

O rondó surge ainda na Idade Média, especialmente na literatura francesa dos séculos XIII e XIV, período em que floresceu a produção dos trovadores e dos poetas da chamada Ars Nova. 

Nessa fase, o rondó possuía forte vínculo com a música: era cantado nas cortes, acompanhado de instrumentos e inserido em contextos de celebração amorosa ou espiritual. 

Seu caráter cíclico refletia não somente uma busca por beleza formal, mas também a valorização da memória e da oralidade, aspectos centrais da cultura trovadoresca.

Com o passar dos séculos, o rondó foi se afastando do campo exclusivamente musical e passou a ocupar lugar de destaque na literatura escrita, sendo praticado por poetas interessados nas potencialidades formais da linguagem.

Na França renascentista, por exemplo, a escola de poetas conhecidos como Plêiade valorizou a forma fixa como uma maneira de organizar as emoções e dar forma clara às ideias por meio da medida e da simetria verbal. 

Esses poetas viam no rondó uma oportunidade de mostrar habilidade técnica e, ao mesmo tempo, criar poemas belos e equilibrados, em que cada repetição servia para reforçar o conteúdo e envolver o leitor no ritmo da linguagem.

Já no século XIX, o rondó foi redescoberto por poetas simbolistas, especialmente os franceses, que viam nessa estrutura uma possibilidade de sugerir mais do que dizer, de evocar sensações e atmosferas por meio da musicalidade e da retomada de imagens. 

A repetição dos versos no rondó, nesse contexto, deixava de ser apenas um recurso formal para tornar-se instrumento de sugestão e ambiguidade, características centrais da estética simbolista, bem como o uso de construções que trabalhassem com aspectos sensoriais e subjetivos, presentes em poemas de Paul Verlaine, por exemplo.

Assim, ao longo da história, o rondó mostrou-se uma forma mutável; ora adaptando-se ao espírito de seu tempo, ora servindo como resistência ao uso prosaico da linguagem poética. 

Da oralidade trovadoresca à introspecção simbolista, essa forma fixa conservou seu poder de encantamento justamente por mesclar simplicidade estrutural e sofisticação artística.

Tipos e variedades de rondós

Rondó francês

É a forma mais tradicional do rondó e tem 15 versos, divididos em três estrofes, com o esquema de rimas aabba / aabC / aabbaC. O verso C repete o início do poema e funciona como refrão, encerrando as duas últimas estrofes.

Essa estrutura pode variar de duas formas: uma delas, ao invés de conter três estrofes, acaba unindo as duas primeiras, formando duas estrofes com o esquema aabbaaabC / aabbaC; já a outra possui 12 versos, seguindo um padrão abba / abC / abbaC, também podendo unir as duas primeiras estrofes.

Um exemplo dessa versão mais enxuta aparece no poema “Volta”, de Manuel Bandeira.

Enfim te vejo. Enfim no teu
Repousa o meu olhar cansado.
Quando o turvou e escureceu
O pranto amargo que correu
Sem apagar teu vulto amado!


Porém já tudo se perdeu
No olvido imenso do passado:
Pois que és feliz, feliz sou eu.
Enfim te vejo!


Embora morra incontentado,
Bendigo o amor que Deus me deu.
Bendigo-o como um dom sagrado.
Como o só bem que há confortado
Um coração que a dor venceu!
Enfim te vejo!

Rondó dobrado

O Rondó Dobrado, conhecido pelo nome francês Rondeau Redoublé, é uma variação menos comum do rondó tradicional. Ele se diferencia por ter uma estrutura mais extensa: seis estrofes, cada uma formada por quatro versos (quartetos), além de um verso final avulso, chamado rentrement, que costuma ser retirado do primeiro verso do poema.

A construção rítmica é baseada em duas rimas apenas, seguindo o esquema: abab / baba / abab / baba / abab / baba / rentrement. Diferente do rondó francês clássico, esse refrão final não precisa rimar com os versos anteriores, funcionando como um encerramento solto e marcante.

Rondó portguês

O Rondó Português, por sua vez, apresenta uma estrutura mais flexível em comparação ao francês, podendo ter um número variável de estrofes. No entanto, é comum encontrar composições com oito quadras ou quatro oitavas. O diferencial dessa forma está na repetição de uma quadra ao final das estrofes, seja após cada oitava ou a cada duas quadras. 

Essa quadra recorrente possui um tipo especial de rima, chamada rima encadeada, em que o som do primeiro verso rima com uma palavra dentro do segundo verso, e assim por diante, criando um efeito sonoro entrelaçado. 

O verso preferencial é o heptassílabo, também conhecido como redondilha maior, muito usado na tradição poética de língua portuguesa. Veja abaixo, como exemplo, o poema “Rondó dos Cavalinhos”, de Manuel Bandeira.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.


Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
O sol tão claro lá fora,
E em minh’alma – anoitecendo!


Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
Alfonso Reyes partindo,
E tanta gente ficando…


Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando…


Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo…
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minh’alma – anoitecendo!

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