Comédia no teatro: definição, características e obras

Comédia no teatro: definição, características e obras

De Aristófanes a Ariano Suassuna: explore a trajetória da comédia, suas principais características, tipos e autores

A comédia é um dos pilares do gênero dramático, e sua presença no teatro atravessa séculos com o poder de provocar risos, críticas sociais e reflexões.

Neste artigo, vamos explorar como a comédia se desenvolveu no teatro, suas principais características e as obras mais relevantes para as provas de vestibular. Confira!

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O que é a comédia?

A comédia é um dos subgêneros do drama e sua essência está em provocar o riso. Ao contrário da tragédia, que desenvolve dilemas profundos, a partir da mitologia grega, com deuses e semideuses como personagens, a comédia se alimenta dos vícios e contradições humanas no cotidiano e seus personagens são pessoas comuns da sociedade.

Função da comédia no teatro

Entretanto, a comédia não é mero entretenimento. Essa peça teatral, desde a Antiguidade, tinha função de fazer críticas sociais por meio da sátira dos costumes ou das instituições políticas, e, desse modo, promover a reflexão sobre as ações humanas, seus vícios e a hipocrisia. Tudo isso, de modo artístico, leve e inteligente.

Origem da comédia no teatro

A origem da comédia no teatro se confunde com a da tragédia. Ambas surgiram nos festivais realizados em honra a Dionísio, na Grécia Antiga.

Na primavera, era comum haver um cortejo chamado komos, do qual derivou o nome “comédia” (komoida, “procissão jocosa com cantos”). Nesses cortejos, as pessoas saíam cantando e dançando poemas jocosos sobre personalidades públicas e instituições.

Contudo, com a vitória de Esparta na Guerra do Peloponeso, o regime democrático ruiu e as comédias já não podiam expressar críticas políticas como outrora. Assim, começaram a abordar episódios da vida cotidiana de pessoas comuns.

Nesse contexto, o ateniense Aristófanes (450 a.C.) tornou-se um expoente da comédia grega e escreveu 40 peças. Dessas, as mais famosas são: “Os babilônios”, “As vespas”, “As aves”, “Assembleia de mulheres” e “Lisistrata”.

Estrutura e personagens

Estrutura da peça cômica

Em geral, a comédia costuma seguir uma estrutura simples: uma desordem inicial (um conflito, um engano, uma confusão) que se resolve no final.

Ademais, segundo o modelo de comédia antiga de Aristófanes, a estrutura era composta por:

  1. Prólogo: exposição inicial;
  2. Párodo: intervenção do coro;
  3. Ágon: conflito e debate;
  4. Parábase: fala direta ao público;
  5. Apresentação de episódios breves; e
  6. Êxodo: um desfecho festivo.

Personagens da comédia

Quanto aos personagens da comédia, esses são frequentemente tipos sociais: um palhaço (ou arlequim), um bobo, um caipira, uma casamenteira, um malandro, um corrupto etc. Esses personagens representam comportamentos reconhecíveis pela plateia, o que gerava uma maior identificação.

Tipos de comédia

  • Comédia de caráter: o humor desse tipo de comédia está em explorar a personalidade e os defeitos de um personagem (a avareza, o ciúmes, a vaidade, por exemplo), fazendo uma crítica mais leve que leve o público a rir;
  • Comédia de situação: esse tipo de comédia mistura histórias que se cruzam, gerando mal-entendidos ou situações engraçadas. Também conhecida como sitcom, atualmente é apresentada como séries televisivas com elenco fixo e episódios contínuos, geralmente em um mesmo local;
  • Sátira: o objetivo principal é criticar costumes, instituições ou comportamentos sociais, utilizando a ironia, o sarcasmo e o exagero. Porém, ao contrário da comédia de caráter, nem sempre a sátira busca provocar o riso, mas denunciar ou desmoralizar. Um exemplo de sátira pode ser observada nas produções de Gregório de Matos, o qual satirizava a sociedade baiana colonial com versos ácidos;
  • Comédia burlesca: consiste em uma paródia, caricatura ou sátira, voltada especialmente à crítica mordaz de instituições, hábitos e valores sociais. Em sua gênese, era comum a ridicularização de textos gregos clássicos, como as epopéias;
  • Comédia pastelão: esse tipo se utiliza da comédia física (Slapstick, em inglês), visto que o humor consiste em os personagens sofrerem acidentes, como quedas e golpes, que podem parecer muito falsos quando encenados. Além disso, possui pouca ou nenhuma profundidade psicológica;
  • Farsa: é uma pequena peça cômica que apresenta situações grotescas e ridículas, também com a função de criticar os costumes;
  • Auto: é uma peça curta com teor principalmente religioso e moralizante. Durante a Idade Média, as personagens costumavam representar vícios e virtudes (como a generosidade e a avareza). Nesse viés, os textos de Gil Vicente são exemplos clássicos dos autos medievais, o que também inspirou autos modernos, como Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.

A comédia brasileira no vestibular

Há algumas obras e autores brasileiros que são essenciais conhecer para resolver questões no Enem e em vestibulares. Veja alguns exemplos:

  • Martins Pena: considerado o precursor da comédia de costumes no Brasil, aborda temas como casamentos, dívidas, corrupção e casamentos. Os personagens de suas obras frequentemente eram pessoas típicas das áreas rurais. Nesse viés, em O Juiz de Paz na Roça, é retratado com humor as más condutas de um juiz na vida rural. Já em O Noviço, a comédia gira em torno das ações interesseiras do manipulador Ambrósio e suas repercussões na vida de Florência e seus herdeiros;
  • Artur Azevedo: conhecido por obras com foco no cotidiano burguês e costumes da sociedade carioca. Dentre suas produções teatrais, destacam-se A Capital Federal e A Jóia;
  • Ariano Suassuna: é conhecido por mesclar em suas produções elementos da cultura popular nordestina (como o cordel, o teatro de mamulengo e a oralidade) com aspectos eruditos da tradição literária europeia. Em Auto da Compadecida, por exemplo, há elementos religiosos e populares, para criticar dentre outras coisas, a justiça humana, corrupta e elitista, bem como  a desigualdade social;
  • Nelson Rodrigues: autor conhecido por produzir obras que ressaltam aspectos psicológicos das personagens e apresentam costumes dos subúrbios cariocas, com humor ácido e provocador e, muitas vezes, misturado ao trágico. Algumas de suas principais produções teatrais satíricas são Os Sete Gatinhos e Bonitinha, Mas Ordinária.

Assim, esses autores usam o humor como ferramenta de crítica, revelando um Brasil com suas contradições, costumes e absurdos.

Outras obras cômicas 

  • A Megera Domada — William Shakespeare 
  • Sonho De Uma Noite de Verão — William Shakespeare
  • As Preciosas Ridículas — Molière
  • O Médico À Força — Molière
  • A Farsa de Inês Pereira — Gil Vicente
  • A Família e a Festa na Roça — Martins Pena
  • Quem Casa Quer Casa — Martins Pena
  • O Santo e a Porca — Ariano Suassuna
  • A Farsa da Boa Preguiça — Ariano Suassuna

Como analisar um texto cômico?

Agora que você já sabe o que é a comédia e suas características, é necessário também aprender a analisar um texto cômico. Para isso, é crucial entender o que ele revela sobre a sociedade, os personagens e o momento histórico. Veja algumas dicas:

  • Identifique o tipo de comédia e os recursos usados;
  • Observe como o humor revela críticas sociais ou morais (a crítica é direcionada a uma personalidade, a um tipo social ou a uma instituição); e
  • Analise o contexto histórico e cultural  em que se passa a obra (no Brasil contemporâneo ou na Europa medieval, por exemplo).

Para elucidar, leia o trecho a seguir da peça O Santo e a Porca, acompanhado de uma breve análise:

EURICÃO — Ai, gritaram "Pega o ladrão!". Quem foi? Onde está? Pega, pega! (...) Ouvi gritar "Pega o ladrão!". Ai, a porca, ai meu sangue, ai minha vida, ai minha porquinha do coração! Levaram, roubaram! Ai, não, está lá, graças a Deus! (...) Terão desconfiado porque tirei a porca do lugar? Deve ter sido isso, desconfiaram e começaram a rondar para furtá-la! (...)”

No trecho da obra é observado o comportamento exagerado e paranoico do avarento Euricão, personagem central dessa comédia predominantemente de caráter, ao ouvir o grito “Pega o ladrão!”, revelando seu apego obsessivo à porca de madeira, local onde guarda suas economias. 

Suassuna utiliza, de forma inteligente, o humor para expor o conflito frequentemente observado entre o material e o espiritual, já que Euricão, embora devoto de Santo Antônio, demonstra que sua fé vacila diante da ameaça de perder seus bens, expondo a hipocrisia e a fragilidade moral do personagem.

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