Veja outros conflitos armados ao redor do mundo além de Ucrânia x Rússia e suas motivações
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Veja outros conflitos armados ao redor do mundo além de Ucrânia x Rússia e suas motivações

Além de Ucrânia x Rússia, conheça quais são os conflitos armados que ocorrem atualmente ao redor do mundo e saiba suas motivações

A guerra que acontece nesse momento entre Ucrânia e Rússia é o conflito armado mais comentado mundo afora. A invasão russa se dá principalmente pelas intenções do país vizinho em se aliar à União Europeia e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Mas esse conflito não é o único que acontece no planeta em 2022. São, pelo menos, 28 combates armados registrados no ano, segundo levantamento do Projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados (Acled, sua sigla em inglês).

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No artigo abaixo, mostraremos os tipos de conflitos armados existentes, suas principais motivações e alguns locais em que guerras e confrontos ainda estão acontecendo, com entrevista da professora de Geografia e Atualidades do Estratégia Vestibulares, Priscila Lima. Vamos lá?

Tipos de conflitos armados

O Direito Internacional Humanitário (DIH) classifica os conflitos armados em duas categorias: internacionais e não internacionais. O primeiro ocorre quando dois ou mais Estados se enfrentam, já o segundo é quando o confronto é entre forças governamentais e grupos não governamentais ou até mesmo entre dois grupos não governamentais.

Para se caracterizar um conflito armado não governamental, é necessário cumprir dois critérios:

  • Nível mínimo de intensidade: hostilidades são de natureza coletiva ou o governo tem a necessidade de usar força militar e não apenas forças policiais; e
  • Grupos não governamentais forem parte do conflito, ou seja, possuírem forças armadas organizadas, com estrutura de comando e capacidade de manter operações militares.

Ainda segundo o DIH, a definição de conflito armado internacional se dá por “qualquer controvérsia que surja entre dois estados que leve à intervenção das forças armadas”, não importando a duração, mortandade ou até mesmo declaração de guerra.

Principais motivações para conflitos armados

São muitas as motivações usadas por grupos não governamentais ou por Estados para que uma guerra ou conflito armado comece ou se mantenha. Desentendimentos religiosos, como em Jerusalém, interesses políticos e econômicos, como no conflito entre Ucrânia e Rússia, rivalidades étnicas, como na Ruanda e disputas territoriais, como na guerra da Sérvia e discordâncias com o governo, em guerras civis como na Angola ou em Myammar são algumas das justificativas usadas.

Além disso, são muitas as narrativas existentes em uma guerra, já que cada lado terá pelo menos uma motivação para se defender, atacar ou contra-atacar em um conflito armado. Priscila, professora de Geografia e Atualidades do Estratégia Vestibulares, pontua como olhamos para essas situações e os cuidados que devemos tomar.

“É muito difícil entender as diferenças entre o que está acontecendo e o que é narrativa, porque não estamos lá para ver. Nós recebemos as informações. Então, a grande sacada ao olhar e pensar os conflitos é nunca olhar um viés só, sempre entender que ali tem no mínimo dois lados disputando, então você precisa entender quais são as visões e as narrativas desses dois lados”.

Holofotes no conflito Rússia x Ucrânia

Nos últimos meses estamos acompanhando a cobertura nacional e internacional sobre o conflito dos russos contra ucranianos que acontece totalmente dentro do território da Ucrânia. A invasão já gerou mais de seis milhões de refugiados, que se espalham mundo afora em busca de cidadania e sobrevivência.

O conflito fez com que a comunidade ocidental declarasse uma série de sanções contra o governo russo, que vão desde bloqueios financeiros até mesmo a suspensões esportivas e culturais. Além disso, empresas estão abandonando o país, o que causa crises internas. Mais de 250 já tomaram tal atitude.

Toda essa cobertura e holofote se dá por vários motivos: uma guerra na europa, que tem forte influência no Brasil, o fato de que a Rússia é uma potência mundial bélica e toda a complexidade mundial que o conflito acarreta são alguns deles. Priscila comenta seus pontos de vista sobre o assunto.

“No caso do Brasil, somos fortemente influenciados pelos Estados Unidos e pela Europa, então os discursos realizados nesses país nos comove mais, diferentemente do que acontece em alguns países da Ásia, por exemplo. Tem uma forte relação de qual país te influencia tanto culturalmente quanto socialmente para saber quais são os relatos que nós temos”.

Além disso, o fator histórico também pesa, segundo a professora: “Historicamente a história é contada pelos olhos europeus [no Brasil], e como o conflito que acontece em solo europeu e com impacto direto na vida dos europeus, os holofotes acabam sendo maiores”.

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Outros conflitos armados que estão acontecendo

Com cobertura menor, diversos conflitos acontecem em vários pontos do mundo. Veja alguns deles e suas situações.

Etiópia

A Etiópia está em guerra há mais de um ano, com relatos de assassinatos de civis e estupros em massa. A motivação é uma disputa entre diferentes grupos étnicos que tentam conviver há 30 anos. 

O governo etíope considerou ilegal eleições realizadas em uma das regiões do país — a província de Tigré, ao norte —, o que causou o início do conflito. No momento, soldados da Eritreia, país vizinho, também lutam no local. Não há movimentações e negociações em andamento.

O atual presidente do país, Abiy Ahmed, vencedor do Nobel da Paz de 2019 é acusado de limpeza étnica e uma série de outros crimes na região, atos que ele e seu governo negam. A região do Tigré é fronteiriça com a Eritreia, o que aumenta as tensões também no país vizinho.

Mianmar

No Mianmar, país do sudoeste asiático, também há um forte conflito que aumentou com a tentativa de golpe por militares do Tatmadaw, o exército local, após o resultado de uma eleição geral ter sido contestada pelo grupo. Estima-se que mais de 14 milhões de pessoas precisem de ajuda humanitária no país.

O exército do país, por meio de seu comandante Min Aung Hlaing assumiu o poder e prometeu restabelecer a democracia assim que o estado de emergência decretado acabar. Um dos atos do governo golpista foi prender líderes do país, como o antigo presidente Win Myint e a conselheira do Estado e ganhadora do Nobel da Paz de 1991, San Suu Kyi.

Mianmar foi uma ditadura por 50 anos e vivia um período democrático desde 2011. As eleições que ocorreram em 2020 foram marcadas por ampla vitória do partido de Suu Kyi, que conquistou 83% dos cargos disputados. A partir daí, oposicionistas passaram a alegar fraudes, se recusando a aceitar o resultado, mesmo sem apresentar nenhuma prova da acusação.

Síria

Outro conflito noticiado, mas com menos frequência é o sírio. Até o momento é estimado que mais de 380 mil pessoas morreram e mais 200 mil estão desaparecidas em decorrência da guerra civil que assola o país há mais de 10 anos, quando as manifestações pró-democracia inspiradas pela Primavera Árabe começaram.

Relatos estimam que mais de 2 milhões de pessoas sofreram algum tipo de ferimento em decorrência da guerra, o que mostra o grau de instabilidade e violência no local. Muitos refugiados sírios procuram o Brasil para seguir suas vidas, considerando o histórico do país em abrir as portas para árabes.

Ainda que a guerra esteja menos intensa atualmente, com mais áreas dominadas pelo governo local, muitas cidades e regiões ainda contam com resistência de grupos armados, o que deve manter a instabilidade do país por alguns anos, estimam observadores internacionais.

Grupos islâmicos espalhados pela África

Além disso, há diversos grupos militares islâmicos tentando dominar regiões de diversos países africanos como Somália, Congo, Moçambique, Niger, Burkina Faso e Mali. Isso vem acontecendo principalmente após a derrocada do Estado Islâmico (EI) no Oriente Médio, em 2017.

Os grupos jihadistas agem destruindo cidades e vilarejos, com assassinatos em massa, sequestros e decapitações, o que já gera inúmeros problemas humanitários no continente, em que governos fragilizados não conseguem se defender de forma eficaz.

Vários desses países buscam apoio de forças internacionais ou vizinhos. É o caso de Moçambique, país lusófono que aceitou receber tropas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) — bloco regional com diversos países — e da Ruanda.

Haiti

O assassinado do então presidente do país Jovenel Moïse em julho de 2021 desencadeou uma onda de violência na ilha. Membros aliados ao governo afirmaram que o grupo que executou o assassinato era composto de mercenários colombianos e haitianos americanos.

Seu primeiro-ministro, Ariel Henry, assumiu a presidência, mas é contestado por gangues do país, inclusive tendo escapado de um atentado em janeiro de 2022. Estima-se que mais de 800 pessoas foram sequestradas por guerrilheiros até então.

A situação na ilha já instável passou também por um desastre natural em agosto de 2021: um terremoto assolou o Haiti e matou mais de 2 mil pessoas, o que gerou um fluxo intenso de imigrantes tentando chegar aos Estados Unidos após o ocorrido. No momento, a escalada de tensão gera um temor de que as disputas entre gangues se torne um conflito armado.

Caso Iêmen

Considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o pior desastre humanitário do mundo, o conflito no Iêmen tem contabilizadas mais de 230 mil mortes, com mais de 70% da população local necessitada de assistência humanitária ou proteção para que sobrevivam, o que representa mais de 20 milhões de pessoas.

O conflito se fortificou no momento de transição política gerado após a Revolução Iemenita de 2011, outro acontecimento da Primavera Árabe. Grupos separatistas aproveitaram a troca de poder e fragilidade do novo governo para tomar controle de regiões distintas do país. O envolvimento de governos que são rivais, como Irã e Arábia Saudita, potencializaram a catástrofe.

Priscila comenta o que houve no Iêmen e porque a cobertura local é pouco ativa sobre o conflito. “Os impactos do que acontece no Iêmen são menores em comparação ao Brasil. O Iêmen está cercado, tanto que é a maior crise humanitária, segundo a ONU, mas a gente quase não ouve falar tanto disso porque não gera tantos refugiados. O problema do Iêmen é muito deslocamento interno”. 

“Os países não estão amando quem sofre ou deixa de sofrer com a guerra, eles estão preocupados em quanto o conflito vai afetar a vida dentro daquele país. E no caso do Iêmen afeta bem menos, então o pessoal acaba dando menos visibilidade para isso”, explica.

Sanções no caso Rússia x Ucrânia

Uma comparação feita por muitos na mídia e em espaços como o esporte e cultura é a existência de sanções contra a Rússia e a ausência delas em outros conflitos, principalmente no caso do Estado de Israel contra a Palestina. Priscila pontua o que está por trás de cada ação tomada.

“Quando a gente fala de sanções, temos que pensar que é um pacto econômico, e tudo em geopolítica é discurso. Depende do jeito que eu falo para criar uma narrativa. É interessante criar uma narrativa onde a Rússia está acabando com o mundo, etc…”.

As narrativas, pontuadas pela professora, mostram a profundidade que os temas precisam ser tratados, para que haja a melhor compreensão possível das motivações e como o xadrez de um conflito pode impactar a economia e política mundial.

“E aí falam ‘Nós temos um ditador na Rússia, temos uma cara que extrapola os limites’, mas isso não é falado isso quanto a Arábia Saudita, mesmo sabendo que existe uma visão muito oposta à dos árabes na europa e que existe uma islamofobia presente no mundo ocidental”. 

“Acaba que não falamos muito sobre o ditador na Arábia Saudita porque existem interesses econômicos ali. Se a sua ditadura favorece a minha dinâmica econômica, eu vou passar um pano para você”, exemplifica a professora sobre como os países agem em detrimento de suas estabilidades. “Por isso a gente não vê uma pressão por parte dos Estados Unidos e países europeus quanto a todo impacto de Israel na vida dos palestinos”.

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