O Ramadan é um período importante para a cultura islâmica, presente em todo o mundo. O mês é sagrado e envolve uma série de mudanças nos hábitos diários dos muçulmanos que respeitam e admiram as tradições da religião.
Questões que abordam religiões distintas e as interações socioculturais entre elas são tendências nos vestibulares do país e em discussões acadêmicas. O tema é tocado desde práticas tradicionais e efeitos práticos à intolerância religiosa.
O período é marcado principalmente por um jejum, que foi feito pelo profeta Mohammed e citado em um trecho do Alcorão, livro sagrado do Islam. Mas não é só isso. Veja abaixo mais sobre o que é o Ramadan e detalhes contados por Lucélia Mattos, praticante da religião.
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O que é o Ramadan?
Também conhecido como Ramadã e Ramadão, o período é o mês sagrado para os muçulmanos. Nessas semanas, é feito jejum de comida e água entre o nascer e o pôr do sol. Mas não é só isso: Lucélia explica quais são outras abstenções são feitas.
“O jejum é uma prática de purificação intensa. O jejuador não se abstém somente de alimentos e bebidas. Ele se afasta de quaisquer atividades que não sejam compatíveis com a adoração. Isso significa que o mês de Ramadan não é um período para assistir programas televisivos, vídeos na internet, bater papo com amigos, dar um rolê, essas coisas…”
Ramadan “terra quente e ensolarada”, que é o clima característico da região do oriente médio no período. Ele se inicia no nono mês do calendário lunar islâmico e seu início é determinado pelo aparecimento da lua nova.
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Como funciona o Ramadan?
No mês, segundo o Alcorão, Maomé recebeu revelações divinas, no século VII. É também o período em que Mohammed fica um mês sem comer. Segundo a tradição islâmica, a prática do jejum começa a partir dos 12 anos de idade, mas há localidades em que o costume é praticado por crianças mais jovens.
Lucélia explica como a fé move o período. “Durante o mês sagrado, estamos no nosso modo ‘offline’ e ‘off’ tudo. É um período de seclusão [isolamento] com Deus, em que voltamos toda nossa atenção somente para ele. Além das orações que são intensificadas e da leitura do Alcorão, as únicas atividades que fazemos são as necessárias para nossa sobrevivência, como cozinhar, dormir, nos alimentarmos nos horários permitidos e a única socialização são as atividades comunitárias”.
Nesse mês, as orações são intensificadas e o sentimento de comunidade é ampliado, com o objetivo de auxiliar e aproximar a realidade dos mais necessitados, com atos de caridade que pregam compaixão pelo próximo.
“É uma oportunidade para dar uma guinada na prática espiritual e também um reinício, como um processo de limpeza profunda: o jejum ajuda a liberar toxinas do corpo e renovar as células, o foco das adorações é voltado para realizar uma limpeza mental. Por fim, as adorações em si limpam nosso coração de tudo o que acumulamos ao longo do último ano”.
A conversão para o islamismo
Lucélia não nasceu em uma família muçulmana, ela se converteu após conhecer e estudar a religião e as práticas que envolviam a fé. Praticante há mais de dez anos, ela fala como foi iniciar-se no Islam.
“Comecei a me interessar bastante pelos estudos relacionados aos povos árabes, à Palestina e outros povos muçulmanos. Fiquei intrigada e quis me aprofundar nos aspectos legais do Islam para compreender melhor a questão. Descobri, então, que não poderia me atirar nesse campo sem compreender o sistema como um todo. Meses se passaram, até que tive a oportunidade de entrar em contato com adeptos e também com o livro dos muçulmanos, o Alcorão”.
Após conhecer mais sobre a religião, ela decidiu fazer a shahada, que é o “testemunho de fé”, considerada o primeiro pilar da fé islâmica. A conversão costuma ser feita em mesquitas, em que a pessoa recita a shahada em árabe, para outras testemunhas muçulmanas. Para isso, é necessário estudar e conhecer as crenças fundamentais do islamismo.
Como foi a inserção à prática do Ramadan?
Como Lucélia não nasceu em convívio com a fé islâmica, o Ramadan foi uma prática que ela precisou se adaptar. “Quando me converti estávamos bem no mês do Ramadan, na metade do mês para ser mais precisa. Naquele momento, eu morava em Vitória (ES) e não conhecia adeptos do Islam lá. Eu tentei fazer o jejum, seguindo os muçulmanos e as entidades religiosas do estado de São Paulo pela web”.
“Nos primeiros dias, senti a habitual dor de cabeça, que mais tarde fui descobrir que uma das principais causas é a desidratação e a solução é beber muito mais água à noite e ingerir alimentos aquosos como melancia, melão, pera e pepino. Ao mudar minha percepção, mudei também a forma de me preparar para o jejum”, pontua.
A partir desse momento, Lucélia conseguiu alcançar resultados mais saudáveis, que a deixaram mais satisfeita. “Aperfeiçoei a dieta e obtive resultados muito bons. Nunca mais tive dor de cabeça, nem experimentei uma fadiga muito intensa. Pelo contrário, com o passar dos anos, os dias de jejum se tornaram um exercício devocional com muita energia e, apesar de haver momentos de maior cansaço, os resultados depois são compensatórios”.
Há exceções para o jejum no Ramadan?
A relação com a comunidade é aumentada também nos casos de pessoas que, por diversos motivos, não podem fazer o Ramadan, ou pelo menos não de forma completa. Mulheres menstruadas, grávidas, lactantes, diabéticos, idosos e crianças não o fazem. Em compensação, há doação de comida e distribuição de cestas básicas a pessoas carentes por cada dia não jejuado.
Como o período impacta as rotinas pessoais?
A rotina dos muçulmanos muda no período, já que ele exige um certo esforço físico para que tudo corra bem. Lucélia Mattos conta um pouco sobre o processo.
“Tudo muda. Para alcançar os objetivos do Ramadan é necessário mudar a rotina e o foco durante todo o mês. Para começar, é muito recomendado aumentar as adorações noturnas, isto é, de madrugada, porém isso não significa trocar o dia pela noite. Pelo contrário, durante o mês a gente come menos e dorme menos também. Ao longo do dia, temos nossas tarefas habituais (trabalho, estudo, tarefas domésticas) e à noite, as orações e meditações”.
Atualmente, mais de dois bilhões de pessoas no mundo são praticantes do islamismo, e isso inclui, obviamente, celebridades, atletas e pessoas influentes mundialmente. No clube de futebol masculino do Liverpool, por exemplo, dois de seus principais nomes são muçulmanos: Mohammed Salah (egípcio) e Sadio Mané (senegalês).
O clube, para se adaptar à realidade dos jogadores, passou a treinar em horários diferentes e oferecer uma dieta específica para os atletas, a fim de mantê-los saudáveis e também respeitar o período sagrado.
“É muito comum circularem vídeos pela internet durante essa época mostrando atletas que jejuam e mantêm a rotina esportiva. Personalidades de diferentes nacionalidades tentam demonstrar que o jejum é não apenas possível, como benéfico também. Na verdade, o grande sustentador do nosso jejum e da nossa prática é Deus. É ele que nos dá a força necessária para realizarmos coisas que achávamos que fossem impossíveis”, reforça Lucélia sobre sua crença.
O que acontece quando termina o período do Ramadan?
Quando o Ramadan acaba acontece a maior festividade do calendário islâmico, que é a Eid al-Fitr. Na ocasião, os muçulmanos vestem suas melhores roupas, decoram suas casas e comércios e oferecem alimentos aos membros da sua comunidade, partilhando o momento com todos ao seu redor.
As celebrações são feitas no primeiro dia pós-jejum, que é feriado em praticamente todos os países islâmicos. O Eid-al-Fitr de 2022 será no início da noite do dia 02 de maio e vai até o início da noite do dia seguinte, com orações e celebrações tradicionais.