Alfa, Beta, Delta, Ômicron… são muitas as variantes conhecidas do SARS-CoV-2, responsável pela pandemia de Covid-19. Entender quais são suas formas de reprodução e como os vírus sofrem mutação tão rápido pode fazer a diferença no entendimento da doença e em questões de vestibular com essa temática.
Para falarmos sobre o assunto, conversamos com Bruna Klassa, professora de Biologia do Estratégia Vestibulares. Além de comentar sobre o tema, ela nos contou como se sair bem nas perguntas sobre as estruturas dos vírus. Vamos lá?
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O que é um vírus e quais são suas características
Vírus são microorganismos simples e não são considerados seres vivos por não possuírem metabolismo próprio. Portanto, eles são classificados como parasitas intracelulares obrigatórios.
Tem dimensões que variam de 20 a 1.000 nanômetros. Sua estrutura é bem simples em comparação a bactérias e são conhecidos principalmente pelas doenças que alguns deles causam em humanos.
O organismo de um vírus é formado por duas partes principais: o material genético, que pode ser DNA ou RNA, e uma capa proteica, também chamada de capsídeo. É possível também encontrar vírus com uma estrutura que o reveste, um envelope viral. Geralmente essa estrutura é constituída por carboidratos, lipídios e proteínas.
Como é o vírus do Covid-19
O SARS-CoV-2 é um vírus RNA (+) considerado estável, ou seja, que muda de forma mais lenta à medida que se espalha. Ainda assim, suas mutações — que são aleatórias — afetam a capacidade do vírus no que tange à contaminação de pessoas. Sua transmissão é horizontal por meio do trato respiratório e seu tratamento, assim como nos outros vírus, é feito apenas para seus sintomas.
Por que os vírus sofrem mutação tão rápido
As mutações são consideradas erros no momento da multiplicação viral. Normalmente, elas acontecem durante a cópia da molécula de RNA ou DNA, mas, se houver um erro nesse processo, a sequência gênica originada será diferente da original.
Quando o erro facilita a entrada no hospedeiro, ele será replicado mais vezes e passado adiante para as várias cópias virais, já que o processo deu certo. A velocidade em que uma nova variante se multiplica, portanto, está atrelada diretamente à sua capacidade de adaptação e entrada no organismo invadido.
As mutações são mais frequentes em vírus do que em bactérias pela capacidade que um vírus tem em armazenar informações de RNA e DNA, diferentemente das bactérias que só conseguem fazer esse processo em DNA.
Bruna Klassa explica como as mutações do SARS-CoV-2 acontecem em nosso organismo. “Nosso DNA é escrito por apenas quatro letras: A T C G, formando nosso código genético. Quando uma molécula de DNA vai se formar, existe uma enzima responsável por montar essa molécula e revisar possíveis erros de montagem, consertando-a. Essa enzima é o DNA polimerase”.
A professora pontua que vírus de DNA minimizam os erros na replicação, o que evita um número alto de mutações. Ela também explica a diferença entre o DNA e RNA polimerase. “Nos vírus de RNA, como o SARS-CoV-2, quem replica o material genético é a enzima RNA polimerase, e, diferentemente da DNA Pol, ela não possui sistema de revisão e reparo. Assim, as mutações são bem mais frequentes nos vírus de RNA”.
“Dentre os vírus de RNA é difícil estimar a taxa exata de mutação”, explica Bruna sobre a velocidade com que surgem novas variantes da Covid-19 no mundo e como elas se tornam predominantes, como é o caso da ômicron atualmente.
Quais as diferenças entre mutação, linhagem, cepa e variante
Os quatro termos são muito usados nos noticiários e publicações sobre a Covid-19, mas eles têm significados diferentes. Veja abaixo quais são:
Mutação
É uma mudança na sequência de RNA ou DNA, seja ela qual for, sendo, portanto, a base para as outras nomenclaturas. Vale ressaltar que elas ocorrem de forma aleatória.
Linhagem
São organismos que compartilham um ancestral comum, apresentando mutações similares. É um conjunto de variantes que se originaram de um mesmo vírus, que foi identificado anteriormente.
Cepa
Ocorre quando uma mutação altera uma característica observável, fenotípica. Se há alteração em pontos como sintomas, como atingem nosso sistema imunitário, capacidade de transmissão ou de multiplicação, constitui-se cepa. A diferença para uma linhagem é que aqui há um comportamento diferente do vírus ancestral.
Variante
Se uma sequência genética viral se difere em uma ou mais mutações, elas são chamadas de variantes. Portanto, se há uma mudança durante seu processo de replicação, ela se encaixa aqui.
Quais são os efeitos das mutações
As mutações podem aumentar ou diminuir diversas capacidades dos vírus, como transmissibilidade ou até mesmo capacidade de agravar quadros de saúde. A ômicron, por exemplo, é vista como menos agressiva que a delta, mas com capacidade de transmissão muito alta.
Bruna comenta como as variantes se propagam. “Nem toda mutação é fixada na população. Muitos erros durante a replicação viral podem passar, mas nem todos serão fixados — selecionados — ou seja, nem todos deixam o vírus mais forte. Nesse sentido, quanto mais o vírus circula entre as pessoas, mais chances de sofrer uma mutação que poderá ser fixada. Por isso a necessidade de continuar com as medidas preventivas”.
Ômicron: o que é e suas características
Já dominante no Brasil, a ômicron tem características diferentes das outras cepas. Dentre os principais relatos, destacam-se a dor de garganta, cansaço, febre e tosse. Em compensação, há menos relatos de perda de paladar e olfato, sintomas comuns nos primeiros meses da doença no mundo.
Além disso, é possível notar algumas características únicas como duração mais curta dos sintomas, aumento na transmissão doméstica e maior proporção de pessoas sem sintomas, quando comparamos a ômicron às demais variantes.
Esse último dado vem de um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na África do Sul, que notou que pessoas sem sintomas e testadas de forma rotineira foram infectadas em maior proporção — aproximadamente 16% — enquanto com a beta e delta essa taxa era de 2,6%.
O Instituto Butantan também levantou que mais de 90% dos casos positivos de Covid-19 da segunda quinzena de janeiro correspondem à ômicron, enquanto a variante delta e gama representaram 5,2% e 3,6% respectivamente.
Como a vacina age em cepas distintas
Como já foi dito acima, o SARS-CoV-2 sofre mutação de forma lenta, o que é considerado uma boa notícia, já que as vacinas se mantêm eficientes por mais tempo. Ainda assim, é necessário ficar alerta em relação a essa possibilidade.
Cientistas que estão estudando as vacinas e o comportamento do vírus em laboratórios pelo mundo afirmam que por enquanto nada diz que será necessário produzir vacinas diferentes a cada ano, como acontece com a gripe, por exemplo.
Como os vestibulares podem abordar o tema
Bruna Klassa, professora de Biologia do Estratégia, exemplificou como o tema pode cair nos vestibulares nos próximos anos. “Esse assunto pode aparecer relacionado à atuação do sistema imune, funcionamento das vacinas, expressão gênica, mutações, evolução, virologia, e, obviamente, patologias e doenças virais.
“Além dos temas de Biologia, conhecimento de outras disciplinas, podem ser cobrados: Sociologia, Matemática, História, Geografia e outros”, pontua Bruna. O movimento é comum e indica que questões com a temática podem ser frequentes, haja vista que o tema é o grande assunto dos últimos anos.
A professora comentou sobre o volume de questões sobre o tema: “Muitos vestibulares abordaram a estrutura de vírus em comparação com organismos vivos. Esse tipo de questão foi bem evidente nos últimos exames”.
Como se dar bem sobre o assunto nas questões de Biologia
Em Biologia, o tema já era conteúdo programático na maioria dos vestibulares. Bruna dá dicas para se dar bem nessas questões: não tem segredo, tem que estudar!
“Para se sair bem o aluno deve ter a base da Biologia bem sólida, começando pelas diferenças entre os tipos celulares em comparação com a estrutura de um vírus. Conhecimento sobre citologia e fisiologia também é essencial para mandar bem nas questões que estão por vir”.
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