Futebol feminino: desenvolva repertórios socioculturais para vestibular

Futebol feminino: desenvolva repertórios socioculturais para vestibular

Confira alguns assuntos sobre o futebol feminino que podem aparecer como repertório sociocultural em redações; #PodeCairNoVestibular

A Copa do Mundo de Futebol Feminino começa no dia 20 de julho e o Brasil é um dos 32 países participantes. A competição será realizada na Austrália e na Nova Zelândia e a estreia da seleção brasileira será no dia 24, às 8h, no horário de Brasília.

Mas, se engana quem pensa que o futebol feminino vive apenas de glórias. A modalidade foi proibida por décadas no país, e até hoje muitas jogadoras relatam histórias de abusos e sacrifícios para prosseguir praticando sua profissão, seja no Brasil ou em vários outros países do mundo.

A série de repertórios do Portal Estratégia Vestibulares abordará o futebol feminino: o histórico no país, filmes e documentários sobre o tema, referências, dados e curiosidades sobre o assunto, além de mostrar como o tema pode cair nos vestibulares nos próximos anos. Vamos lá?

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Histórico do futebol feminino no Brasil

Os primeiros registros de partidas de futebol feminino no País surgiram nos anos 20 em diversos estados brasileiros. Mas, o contexto ainda não era o esportivo, mas sim o de performance e show circense, como uma atração mesmo. 

Há relatos de jogos em periferias até os anos 40, quando começaram a existir jogos em estádios, como no Pacaembu. O esporte era considerado violento e bruto, e por isso somente homens deveriam praticá-lo. As notícias de jogos nessa década eram acompanhadas por repressão: junto com tais partidas, movimentos contrários também surgiram dentro da sociedade civil e por parte de autoridades diversas.

A prática foi proibida em 1941, quando um decreto-lei dizia que as mulheres não deveriam praticar esportes inadequados à sua natureza. E o futebol foi enquadrado como uma prática não natural feminina e, portanto, a prática foi proibida.

O fim da proibição veio 38 anos depois, em 1979. Mas nenhum incentivo aconteceu, já que a data marca apenas o final de tal proibição. O esporte só foi regulamentado em 1983, cinco anos antes do primeiro torneio Fifa, em 1988. O Brasil voltou da China com o terceiro lugar e a medalha de bronze. A primeira Copa do Mundo foi em 1991, também na China.

A estreia da modalidade nas olimpíadas aconteceu em 1996, em Atlanta, e o Brasil terminou em quarto lugar. Em 1999, a primeira medalha de Copa do Mundo, com o bronze e em 2004, a medalha de prata nas olimpíadas de Atenas consagram o que é considerada a melhor geração da história do Brasil na modalidade.

Marta surge nesse meio tempo e alcança o auge individual em 2006, quando foi eleita a melhor do mundo pela primeira vez. Outro nome importante foi Formiga, volante da seleção brasileira que disputou sete copas do mundo, recorde entre homens e mulheres. 

O Brasil conquistou mais uma prata em olimpíadas em 2008, na China, após o bicampeonato nos jogos panamericanos do Rio de Janeiro, em 2007 (o primeiro título veio em 2003, no Pan de Santo Domingo, na República Dominicana). 

A primeira libertadores veio somente em 2009, enquanto a primeira edição do campeonato brasileiro foi organizada em 2013. Atualmente, existem três divisões no campeonato, com acessos e rebaixamentos, assim como no futebol masculino, mas com fórmulas de competição distintas.

Quais são os principais desafios da modalidade

São muitos os desafios que a modalidade enfrenta atualmente: misoginia, diferença salarial, falta de investimento, assédios e exploração, além de melhores condições de trabalho são algumas delas. Veja alguns exemplos que podem aparecer em vestibulares e no Enem sobre o assunto ou em temas relacionados.

Misoginia inglesa (e mundial, por que não?)

Um estudo realizado no Reino Unido mostrou que 68% dos homens possuem atitudes abertamente misóginas em relação ao futebol feminino. Quase dois mil homens foram ouvidos e foi a primeira vez que uma pesquisa abordou o tema no mundo.

Diferença salarial já foi tema de questão do Enem

A diferença salarial entre jogadores de futebol homens e mulheres também é um ponto discutido na modalidade. O assunto, inclusive, foi pauta de uma pergunta no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2021, em que o exercício comparava os salários de Neymar e Marta.

Dentre as causas apontadas para a discrepância estão a falta de patrocínio e visibilidade do futebol feminino, fatores que podem ser atrelados diretamente ao pouco incentivo que a modalidade tem em relação ao futebol masculino.

Um exemplo curioso é o de Nycole, atacante do Benfica, de Portugal, que no embarque da seleção brasileira para a Copa encontrou o pai, auxiliar de rampa no aeroporto de Brasília, e pôde se despedir dele de uma forma inusitada. Um caso como esse dificilmente seria visto no masculino, já que os salários dos jogadores que alcançam o patamar de seleção são multimilionários, o que não é o caso das mulheres da modalidade.

Assédio, abuso de poder e xenofobia

Outro ponto recorrente no futebol feminino são os casos de assédio e abusos sistêmicos, como o caso de abuso sexual recente no time feminino do Boca Juniors, da Argentina, e múltiplas denúncias contra o técnico da Zâmbia, seleção que estará presente no mundial da Austrália e Nova Zelândia.

Há também casos de assédio moral e psicológico, como na denúncia em carta aberta feita pela atleta brasileira Giovana Queiroz, contra o Barcelona e relatos de assédio moral e abuso de poder feitos contra um dirigente do Palmeiras, em janeiro de 2023. 

A denúncia conta também com casos de xenofobia feitos pelo treinador do time, Ricardo Belli. Ambos seguem nos seus respectivos cargos, respaldados pela diretoria palmeirense, que inclusive é o único presidido por uma mulher entre os times de Série A do país.

Falta de incentivos

Há, ainda, e atrelado a diversos fatores, a já citada falta de incentivos para que a modalidade tenha mais prosperidade entre fãs, marketing e exposição midiática. Em levantamento feito pela Quaest Consultoria e Pesquisa, foi constatado que entre os 21% dos torcedores que declararam ter o costume de assistir a jogos no estádio, apenas 10% deles já foram ver um jogo de futebol feminino presencialmente.

Isso evidencia que há a necessidade de se promover o esporte por meio de políticas que incentivem os torcedores a acompanhar o esporte feminino, seja pela diminuição de valores dos ingressos (problema recorrente também no masculino), pela ausência de canais de divulgação ou mesmo políticas promocionais.

Participação feminina nos estádios e audiência em geral

E enquanto muitos setores do esporte, clubes, confederações, instituições e torcidas organizadas ignoram ou desvalorizam a participação feminina no público do futebol, a pesquisa “Marcas em Campo! O futebol e a mídia dentro e fora das quatro linhas”, feita pela Kantar Ibope, afirma que o público feminino já representa 44% da base de fãs de futebol no Brasil.

O estudo destaca também que, em 2021, mais de um terço (34%) dos interessados em futebol acompanham o futebol feminino, número que reforça a necessidade de incentivos que levem os torcedores aos estádios e a consumir campanhas publicitárias relacionadas à modalidade.

Presença feminina no jornalismo esportivo

Outro ponto polêmico é o aumento da presença de mulheres no jornalismo esportivo brasileiro, inclusive em postos cuja participação feminina era praticamente zero, como na narração. A reportagem do Uol Esporte intitulada “‘Intrusas’ no gramado”, aborda dados sobre o assunto e casos de desrespeitos, machismo e diversos tipos de agressões sofridas por profissionais da área.

A escalação de narradoras em jogos do Campeonato Brasileiro e da Copa do Mundo de futebol masculino gerou uma série de ataques virtuais as profissionais sobre suas capacidades técnicas e conhecimentos sobre o esporte, algo relacionado única e exclusivamente ao gênero.

Número de treinadoras também é questão

A Copa do Mundo de Futebol Feminino conta com 32 equipes, mas apenas oito das seleções são treinadas por mulheres. Pia Sundhage, sueca, é a treinadora do Brasil desde 2019 e soma 50 jogos no cargo.

Filmes, séries e documentários sobre futebol feminino

O Portal Estratégia Vestibulares destacou cinco filmes, séries ou documentários que abordam o futebol feminino como tema e que podem ser usados como repertório sociocultural em redações nos vestibulares brasileiros. Confira:

Futebol feminino, uma história invisível

O documentário brasileiro foi desenvolvido como uma reportagem no programa “Caminhos da Reportagem”, da TV Brasil e está disponível no YouTube. A produção aborda a dupla jornada de meninas que jogavam futebol na Era Vargas, enfrentando repressões constantes do governo brasileiro da época, traçando paralelos com as dificuldades atuais da modalidade.

Absolutas: O futebol feminino contra-ataca

A série documental conta a história de mulheres que venceram preconceitos para seguirem praticando futebol. São oito episódios e a série foi resultado de uma parceria entre a Federação Paulista de Futebol com o Facebook.

Ela é o cara

A comédia romântica hollywoodiana conta a história de uma jovem que era impedida de jogar com os garotos após o encerramento do futebol feminino na sua escola. Ela resolve se passar por um menino e jogar futebol no time masculino da escola do irmão.

Futebol para melhor ou para pior

O documentário mostra a história do FC Rosengard, time da Suécia historicamente conhecido no futebol feminino, mas que é cercado de dificuldades econômicas. A obra, que tem participação de Marta, acompanha uma reformulação completa para que o clube se consolide no mercado. 

Respeita as minas

As jogadoras do futebol feminino do Corinthians contam suas rotinas, dificuldades e desafios quando o assunto é ser mulher e atleta no Brasil. O ponto de vista é das profissionais, baseado no estilo do “The Players Tribune”, portal conhecido por editar e compor textos e materiais diversos produzidos por atletas de esportes variados ao redor do mundo.

Questão sobre futebol feminino

Confira a questão citada acima, do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), sobre a disparidade salarial entre homens e mulheres no futebol mundial:

Enem (2020)

O suor para estar em competições nacionais e internacionais de alto nível é o mesmo para homens e mulheres, mas não raramente as remunerações são menores para elas. Se no tênis, um dos esportes mais equânimes em termos de gênero, todos os principais torneios oferecem prêmios idênticos nas disputas femininas e masculinas, no futebol a desigualdade atinge seu ápice. Neymar e Marta são dois expoentes dessa paixão nacional. Ela já foi eleita cinco vezes a melhor jogadora do mundo pela Fifa. Ele conquistou o terceiro lugar na última votação para melhor do mundo. Mas é na conta bancária que a diferença entre os dois se sobressai.

Disponível em: http://apublica.org. Acesso em: 9 ago. 2017 (adaptado).

O esporte é uma manifestação cultural na qual se estabelecem relações sociais. Considerando o texto, o futebol é uma modalidade que

A apresenta proximidades com o tênis, no que tange as relações de gênero entre homens e mulheres.
B se caracteriza por uma identidade masculina no Brasil, conferindo maior remuneração aos jogadores.
C traz remunerações, aos jogadores e jogadoras, proporcionais aos seus esforços no treinamento esportivo.
D resulta em melhor eficiência para as mulheres e, consequentemente, em remuneração mais alta às jogadoras.
E possui jogadores e jogadoras com a mesma visibilidade, apesar de haver expoentes femininas de destaque, como Marta.

Resposta: O texto mostra que, ainda que tenhamos uma relação de participação efetiva das mulheres no esporte, os homens são mais bem remunerados, fruto de uma visão paternalista do futebol, entendido durante muito tempo como um esporte masculino.

Alternativa correta: B

Referências sobre futebol feminino

Desde 2015 o Museu do Futebol, localizado no estádio do Pacaembu, em São Paulo, traz a exposição virtual “Visibilidade para o futebol feminino”, que conta parte da história da modalidade no Brasil e no mundo, além de promover uma série de eventos e outras exposições sobre o esporte ao longo dos anos de atividade.

O Centro de Referência do Futebol Brasileiro, do próprio Museu do Futebol, produziu um artigo com oito livros que tratam sobre o protagonismo feminino nos esportes, curadoria que dispensa demais apresentações. 

Dentre os livros citados estão “As mulheres e o esporte olímpico brasileiro”, de Katia Rubio, “O dia em que as mulheres viraram a cabeça dos homens”, de René Simões e “A verdadeira regra do impedimento: a história do futebol feminino cearense”, de Karine Nascimento.

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