O século XVII marca o nascimento da modernidade filosófica, um período de ruptura com a tradição medieval e busca por um fundamento inabalável para o conhecimento. Com a ascensão da ciência moderna, o racionalismo estabeleceu-se com a ideia central de que a razão é a única fonte segura da verdade.
Através das ideias inatas, filósofos como Descartes, Espinosa e Pascal analisaram a realidade com o mesmo rigor da matemática. Buscando reduzir a complexidade da experiência humana a estruturas estritamente lógicas, acabou ignorando dimensões subjetivas, o que gerou tensões em seu próprio fundamento.
Navegue pelo conteúdo
Descartes: o fundamento da dúvida e a crítica ao subjetivismo
René Descartes, pai do racionalismo moderno, buscava encontrar uma verdade tão evidente que fosse impossível de duvidar, servindo de base para todas as outras ciências. Para isso, ele instituiu a dúvida metódica, que rejeitava qualquer conhecimento que apresentasse a menor sombra de incerteza.
Duvidando dos sentidos, argumentando que eles frequentemente nos enganam, Descartes em seguida, avançou para a hipótese do sonho: como podemos garantir que não estamos sonhando agora?
Foi no fundo desse abismo de incerteza que ele encontrou sua primeira rocha: o cogito, ergo sum (“Penso, logo existo”). Mesmo que cheio de incertezas, ele precisaria existir para poder indagar. O pensamento, portanto, é a prova irrefutável da existência do sujeito. A partir daqui, a subjetividade torna-se o centro da filosofia.
O problema da dualidade: res cogitans e res extensa
Em suas análises, Descartes dividiu o universo em duas substâncias distintas: a res cogitans (mente) e a res extensa (corpo/matéria). Esta é a fundação do dualismo cartesiano.
A crítica central está na incapacidade de explicar a interação entre essas duas esferas. Se a mente é imaterial e o corpo é mecânico, a dúvida é a forma que eles interagem. O pensador tentou solucionar o enigma apontando para a glândula pineal no cérebro, mas essa explicação puramente física falhou em satisfazer a lógica do seu próprio sistema.
O racionalismo cartesiano gerou uma separação entre mente e corpo que assombrou a filosofia e a ciência por séculos, criando um beco sem saída para a compreensão da unidade do ser humano.
Daí vem a garantia teológica, ela explica que para transitar do “eu que pensa” para o “mundo exterior”, é necessário a existência de Deus. Sendo ele um ser imperfeito, a ideia de um Ser perfeito (Deus) em sua mente só poderia ter sido colocada lá pelo próprio Deus.
Aí reside a fissura lógica, onde a autonomia da razão, que ele tanto buscou, acaba dependendo de um artifício teológico para validar a realidade externa, enfraquecendo a independência do pensamento racional.
Espinosa: o Deus-natureza e o determinismo absoluto
Enquanto Descartes separava Deus do mundo e a mente do corpo, Baruch de Espinosa buscava a unificação total. Influenciado pelo método geométrico, ele propôs um sistema lógico que trazia consequências polêmicas para a liberdade humana.
No monismo de Espinosa, não existem duas substâncias, mas apenas uma única substância infinita, que ele chama de Deus ou Natureza (Deus sive Natura). Tudo o que existe são apenas “modos” ou manifestações dessa única substância. Deus não é um criador externo ao mundo; Deus é o mundo.
Se tudo é Deus e tudo segue as leis necessárias da natureza divina, ocorre a negação do livre-arbítrio. Para Espinosa, o que chamamos de “livre-arbítrio” é apenas um nome que damos à nossa ignorância das causas que nos determinam. Um pássaro acha que voa por vontade própria, mas voa porque sua natureza e as causas externas o impelem a isso.
Portanto, ser livre é entender por que somos determinados a agir de certa forma. Ele introduz o conceito de Conatus, a força vital que impele cada ser a perseverar em seu próprio ser, mas sempre dentro das leis da causalidade universal.
A crítica central: determinismo vs. moralidade
A fissura no sistema de Espinosa surge no confronto com a experiência vivida. Apesar de sua lógica rigorosa, o determinismo absoluto anula a ideia de responsabilidade moral. Se um criminoso, por exemplo, foi determinado a agir assim pela natureza, a ideia de culpa perde fundamento.
Nesse sentido, a ética de Espinosa corre o risco de se tornar apenas um exercício intelectual de aceitação da realidade. Sua filosofia oferece paz de espírito através do entendimento racional, mas pode ser vista como uma negação das ações e liberdades humanas.
Pascal: o racionalismo cético e a crítica à suficiência da razão
Blaise Pascal, gênio da matemática e da física, conhecia o poder da razão como ninguém, mas foi justamente esse racionalismo cético que fez ele perceber as limitações da lógica e onde ela para de funcionar.
Espírito de geometria vs. Espírito de sutileza
Pascal que estabeleceu a distinção entre o Espírito de geometria e o Espírito de sutileza. O primeiro é a razão analítica, que opera com definições e deduções lógicas, como na física. O segundo é a razão intuitiva, que percebe os princípios de forma direta e imediata.
Sua máxima mais famosa, “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, não é um sentimentalismo barato, mas sim uma afirmação epistemológica que existem verdades que a lógica não alcança, mas que o “coração” entende.
O pensador foca na fragilidade humana. Ele descreve o homem como um ser fraco da natureza, mas superior porque tem consciência da própria morte. A razão, ao tentar explicar o universo, acaba revelando o vazio e a insignificância do homem diante do universo.
Para fugir dessa angústia, o homem busca divertimento, não apenas festas, mas atividades (trabalho, guerra, jogos) que nos impeça de ficar sozinhos em um quarto tentando preencher o abismo do sentido da vida.
Ao tentar explicar tudo, o racionalismo ignora a “miséria do homem sem Deus”. Pascal usa da própria lógica para defender a fé. Se você aposta que Deus existe e Ele existir, seu ganho é infinito. Se Ele não existir, sua perda é pequena.
Portanto, o comportamento racional, diante da dúvida, seria apostar na existência do divino. No entanto, essa “aposta” revela a própria limitação da razão racionalista, que precisa recorrer ao cálculo para justificar o que deveria ser uma experiência de fé.
O legado e a superação do racionalismo clássico
O racionalismo clássico do século XVII foi o motor que impulsionou a ciência moderna. Nele o rigor do método foi criado, a confiança na ciência construída foi estabelecida e a tecnologias para estudar mais afundo o universo foram criadas.
Sem a “matematização do mundo” proposta pelos racionalistas, não teríamos a precisão científica que define a nossa era. Contudo, as limitações do racionalismo mostraram que a razão pura não dava conta da complexidade da experiência humana.
O empirismo, representado por John Locke e David Hume, reagiu a esse modelo ao afirmar que a mente não possui ideias inatas. Para esses filósofos, o conhecimento nasce da experiência sensorial, sendo a mente uma “folha em branco” moldada pelas percepções.
Immanuel Kant realizou uma síntese filosófica com o criticismo ao afirmar que todo conhecimento começa com a experiência sensível. No entanto, essa experiência só se torna conhecimento porque é organizada por estruturas vindas da razão, como as categorias do entendimento.
Dessa forma, Kant supera a oposição entre racionalismo e empirismo, mostrando que a razão não é passiva diante do mundo. Ela atua ativamente na organização da realidade, estabelecendo as condições que tornam possível o conhecimento científico.
Por fim, a fenomenologia de Husserl e Heidegger rompe com a abstração excessiva desses sistemas e propõe o retorno à “coisa mesma”. O foco desloca-se para a experiência vivida, concreta e anterior a qualquer formalização teórica. Com isso, a filosofia recoloca o ser humano no centro da reflexão, mostrando que compreender o mundo exige partir da vida tal como ela é vivida.
Alcance a aprovação com o Estratégia Vestibulares!
Tire suas dúvidas e domine os conteúdos que realmente aparecem nas provas mais concorridas do país. Nossos materiais são pensados para que você possa atingir seu potencial e alcançar a vaga dos sonhos. Clique no banner e comece agora mesmo!



