Os versos de poemas podem ser construídos para que tenham uma musicalidade na enunciação das palavras, conforme o desejo do autor. Em muitas escolas literárias, em que há valorização da estética e da sonoridade, os escritores montam os versos contando sílabas poéticas, para desenvolver uma harmonia dentro do texto.
O conceito de sílabas poéticas é próprio da literatura e muito explorado em poesias clássicas. Apesar disso, a separação silábica literária é realizada a partir das características sonoras das palavras, diferentemente da divisão de sílabas utilizadas durante o processo de alfabetização.
Neste artigo, leia mais sobre o conceito e características das sílabas poéticas. Aprenda também como fazer a separação delas em um verso e como eles podem ser classificados a partir do número de sílabas que possuem.
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O que são sílabas poéticas?
Sílabas poéticas são entidades da literatura, em que a separação entre as sílabas das palavras leva em consideração a sonoridade entre elas. A contagem silábica, chamada de escansão, garante uma relação matemática dentro dos poemas. É possível, também, definir as sílabas poéticas como as menores unidades que compõem os poemas, essenciais para a construção deles, especialmente entre os poetas mais clássicos.
Por exemplo, um poeta pode definir que todos os versos de sua obra possuirão 10 sílabas e, a partir disso, escrevê-la. Nas academias literárias que prezam pela estética e sonoridade da obra de maneira perfeccionista, os autores utilizam esse recurso para enriquecer a estrutura, com padrões bem definidos.
Inclusive, essas sílabas são consideradas verso a verso, considerando-se a marcação do som entre elas. Por exemplo, existem sons mais fortes, que são chamados de tônicos, enquanto as sílabas poéticas de sonoridade mais fraca e amena, são consideradas átonas.
Com essa diferenciação entre os sons, os poetas conseguem adicionar uma ritmicidade harmônica em uma obra de literatura. Ou seja, é um conceito que permite adicionar um novo sentido para os textos, além da perspectiva visual, também será atingida a parte auditiva.
Como contar sílabas poéticas?
Uma vez que as sílabas poéticas são um conceito que considera a sonoridade dos versos, é importante que a contagem delas nos versos seja feita a partir de uma pronúncia e audição atentas aos sons.
Em boa parte das vezes, as sílabas poéticas coincidem com as sílabas gramaticais, entretanto a questão sonora deve predominar na divisão. Deve ser observado se dois sons, mesmo que estejam em sílabas gramaticais diferentes, acabam se unindo quando pronunciados. Para facilitar a compreensão, acompanhe o exemplo da frase a seguir:
“Eu saí da água sozinha”
Ao pronunciar a oração anterior, note que com o som vocálico da letra “a” se uniu entre a preposição “da” e a palavra “água”. Isso faz com que da+a estejam em uma única sílaba poética.
Outro ponto importante da escansão é que a contagem termina exatamente na última sílaba tônica do verso. Ou seja, não importa se existem outras sílabas gramaticais no fim da última palavra, a última que será contada é a tônica.
Tomando como exemplo a mesma frase (“Eu saí da água sozinha”), note que “sozinha” é uma paroxítona, com a penúltima sílaba tônica. Então, ao fazer a escansão do verso, a última sílaba a ser contada é “zi”, assim:
Em alguns casos, quando a última palavra do verso é uma oxítona ou monossílabo, a última sílaba da palavra coincide com a última sílaba tônica do verso. Então, a contagem vai até o fim da frase, como em:
Em resumo, as principais regras para a escansão de um verso serão:
- Os ditongos (encontro de duas vogais, da gramática clássica, formam sempre uma única sílaba poética;
- Quando duas sílabas gramaticais se unem sonoramente, serão consideradas uma única sílaba poética; e
- A última sílaba poética é a sílaba tônica da última palavra do verso.
Como classificar sílabas poéticas?
Conforme foi mencionado anteriormente, as sílabas poéticas, ou sílabas métricas, são utilizadas, principalmente, para a criação de textos bem estruturados, com uma cadência sonora. Para isso, foram criadas diferentes formas fixas de poemas, em que a estrutura é predefinida e o autor deve encaixar sua obra dentro daquele padrão.
O exemplo mais clássico são os sonetos, poesia com exatas quatro estrofes, em que: duas estrofes possuem quatro versos e duas estrofes contêm três versos cada. É necessário, ainda que cada um dos versos seja decassílabo, ou seja, tenham 10 sílabas métricas.
“Ah! minha Dinamene! Assi deixaste
quem não deixara nunca de querer-te?
Ah! Ninfa minha! Já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!
Como já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te,
que não visses quem tanto magoaste?
Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!
Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
Que inda tenho por pouco o viver triste?”
Soneto de Luís de Camões
Para facilitar a construção dessas estruturas, os versos foram classificados conforme o número de versos que possuem. Basicamente, é adicionado um sufixo numérico ao termo “ssílabo”:
- 1 sílaba poética = Monossílabo
- 2 sílabas poéticas = Dissílabo
- 3 sílabas poéticas = Trissílabo
- 4 sílabas poéticas = Quadrissílabo
- 5 sílabas poéticas = Pentassílabo (também chamado de Redondilha Menor)
- 6 sílabas poéticas = Hexassílabo
- 7 sílabas poéticas = Heptassílabo (também chamado de Redondilha Menor)
- 8 sílabas poéticas = Octossílabo
- 9 sílabas poéticas = Eneassílabo
- 10 sílabas poéticas = Decassílabo
- 11 sílabas poéticas = Hendecassílabo
- 12 sílabas poéticas = Dodecasílabo
- 13 sílabas poéticas ou mais = Bárbaro
Questão de vestibular
Na questão abaixo, há uma correlação entre sílabas poéticas, escansão e uma escola literária. Acompanhe o enunciado e depois veja a resolução proposta pelo Estratégia Vestibulares.
Para responder à questão, leia o poema da escritora portuguesa Florbela Espanca, publicado originalmente em 1919.
Vaidade
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo…
Aquela de saber vasto e profundo
Aos pés de quem a terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho… E não sou nada!…
(Florbela Espanca. Poemas, 1996.)
Tendo em vista as escolhas formais mobilizadas pela escritora, como o emprego do gênero soneto e de versos decassílabos, o poema aproxima-se da estética
a) modernista.
b) realista.
c) naturalista.
d) parnasiana.
e) romântica.
É no Parnasianismo que se preza pelo rigor formal e os sonetos, com contagem padrão de sílabas poéticas faz menção a essa preocupação com a estética.
Gabarito: D
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