Tempo em prosa: o que significa e importância para a literatura

Tempo em prosa: o que significa e importância para a literatura

Compreenda como o tempo em prosa organiza os acontecimentos e orienta a forma como o leitor vivencia cada etapa do enredo

Em toda narrativa, o tempo é um elemento essencial. É ele quem organiza os acontecimentos, define o ritmo da história e ajuda o leitor a compreender o desenvolvimento das ações. 

Saber identificar o tipo de tempo utilizado para compor uma obra literária — seja cronológico, psicológico ou simbólico — é fundamental para interpretar o enredo e o comportamento dos personagens.

Continue lendo este artigo que a Coruja preparou para entender como o tempo atua na prosa e por que ele é tão importante nas análises literárias dos vestibulares e do Enem.

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Conceitos fundamentais do tempo narrativo

Para entender como o tempo funciona na prosa, é importante distinguir dois conceitos que aparecem com frequência nas análises literárias: tempo da história e tempo do discurso. Embora pareçam semelhantes, eles se referem a dimensões diferentes da narrativa.

Tempo da história (duração)

O tempo da história corresponde à cronologia real dos acontecimentos narrados, ou seja, quanto tempo se passa na vida dos personagens. Pode ser um dia, uma semana, anos ou até gerações inteiras. Esse tempo é aquele que pertence ao universo ficcional, ao que acontece dentro da narrativa.

Exemplo:

  • Em Dom Casmurro, de Machado de Assis, o tempo da história se estende desde a juventude de Bentinho até sua vida adulta, ou seja, muitos anos se passam dentro da narrativa.

Tempo do Discurso (Extensão ou Ritmo)

Já o tempo do discurso diz respeito ao modo como o narrador organiza e conta esses eventos, ou seja, ao tempo da narração. Aqui o foco é no ritmo e na proporção entre o que aconteceu e o quanto o narrador dedica para narrar.

Um único dia pode ocupar páginas inteiras (como em Ulisses, de James Joyce), enquanto anos inteiros podem ser resumidos em poucas linhas. Portanto, o tempo do discurso é o tempo da leitura, da narrativa em si, e não o da história contada.

Exemplo:

  • Em Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o narrador dedica páginas a descrever um momento severo de seca, o que torna o ritmo da narrativa mais lento, podendo ser lido, interpretado como um reflexo do tempo psicológico e da aridez do sertão.

Tempo e enredo: uma relação essencial

O enredo é a organização dos acontecimentos no tempo, ou seja, é a forma como o tempo é manipulado para construir sentido. O tempo é a matéria-prima; o enredo, a estrutura que dá forma a essa matéria.

Enquanto o tempo representa a passagem dos acontecimentos, o enredo decide como e em que ordem eles serão apresentados: de modo linear, com flashbacks, antecipações ou rupturas. Desta forma, entender o tempo narrativo é imprescindível para compreender como o autor conduz o leitor dentro da história.

As duas grandes dimensões do tempo

Na narrativa, o tempo pode ser percebido de duas formas principais: o tempo cronológico e o tempo psicológico. Essa distinção ajuda o leitor a compreender como a passagem do tempo é representada dentro da história e de que modo ela influencia a experiência dos personagens.

Tempo cronológico (ou histórico)

O tempo cronológico é o tempo objetivo, aquele que pode ser medido pelo relógio ou pelo calendário. Ele segue uma ordem linear e sucessiva dos acontecimentos, como ocorre na vida real: primeiro um fato acontece, depois outro, e assim a história avança.

É o tempo que domina narrativas mais tradicionais e realistas, nas quais o enredo é organizado de forma clara e sequencial.

Exemplo:

  • Em O Cortiço, de Aluísio Azevedo, o tempo cronológico é fundamental para mostrar o desenvolvimento do cortiço e a transformação social dos personagens ao longo dos anos.

Tempo psicológico (ou subjetivo)

Já o tempo psicológico é o tempo interior, aquele que se passa na mente e nas emoções das personagens. Ele é subjetivo e flexível, podendo se dilatar em momentos intensos — quando um pensamento ou lembrança ocupa muitas páginas —, ou se comprimir em passagens breves, quando o narrador resume longos períodos em poucas linhas, de forma mais sintética.

Esse tipo de tempo ganhou destaque principalmente com o Modernismo, movimento que valorizou a introspecção e a complexidade da experiência humana.

Exemplo: 

  • Em A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, o tempo psicológico predomina. O enredo se desenvolve quase todo dentro da consciência da protagonista, em um fluxo de pensamentos e reflexões (por vezes filosóficas e existenciais) que transcende o tempo real. O que importa não é quanto tempo passa, mas como o tempo é sentido.

Manipulação da ordem temporal (anacronias)

A narrativa nem sempre segue uma linha do tempo contínua. Muitos autores brincam com a ordem dos acontecimentos para criar suspense, destacar emoções ou oferecer uma nova perspectiva sobre os fatos. Essa manipulação do tempo é chamada de anacronia, isto é, uma alteração da cronologia natural da história.

Ordem linear X não linear

Na ordem linear, os eventos são apresentados na sequência em que ocorrem, seguindo a cronologia natural da vida: início, desenvolvimento e desfecho. Já na ordem não linear, o narrador rompe essa sequência, indo e voltando no tempo conforme o foco narrativo ou o ponto de vista do personagem. 

Essa quebra de cronologia estimula a curiosidade do leitor e faz com que ele possa explorar mais profundamente o interior dos personagens ou as causas e consequências de certos eventos.

Analepse (Flashback)

A analepse (também conhecida como flashback) ocorre quando há uma interrupção na ordem cronológica para narrar acontecimentos passados em relação ao momento presente da história. Esse recurso auxilia o leitor a compreender origens, motivações ou até lembranças que influenciam as ações do presente narrativo.

Tipos de analepse:

  • Analepse Externa: quando a narrativa volta muito tempo no passado, anterior até ao início da história principal; e
  • Analepse Interna: quando o narrador retorna a um passado recente, ainda dentro do período abordado pela narrativa.

Prolepse (Flashforward)

A prolepse, também chamada de flashforward, é o movimento oposto da analepse. Nela, o narrador antecipa acontecimentos futuros, revelando algo que ainda vai ocorrer.

Esse tipo de anacronia é menos frequente, mas tem função importante, uma vez que cria expectativa, ironia ou tensão. O leitor passa a conhecer o desfecho antes de acompanhar o desenrolar dos fatos.

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