Poemas de Drummond: biografia e principais obras do autor

Poemas de Drummond: biografia e principais obras do autor

Os poemas de Drummond são um dos mais famosos da literatura brasileira, grande parte deles pertence à corrente modernista. O autor é tão honrado em nossa cultura que existem estátuas e eventos que levam seu nome e caricatura. Continue lendo para conhecer a biografia e os principais poemas de Carlos Drummond de Andrade. 

Quem foi Drummond?

Carlos Drummond de Andrade é um poeta mineiro do século XX que nasceu em 1902 e faleceu em 1987, aos 84 anos. Além de escritor de poemas, crônicas e contos, o homem se dedicou aos estudos da ciência farmacêutica. 

Infância e estudos

Durante a infância ele estudou em sua cidade natal, Itabira, mas depois foi transferido para um colégio interno em Belo Horizonte. Mais tarde, com 16 anos, o autor se deslocou para estudar no Rio de Janeiro, na cidade de Nova Friburgo. 

Algumas intercorrências aconteceram durante sua estadia e então ele voltou à capital mineira, agora mais engajado na escrita e publicação de artigos, até mesmo em jornais de publicação diária. 

Logo Drummond se envolveu com os movimentos modernistas, em um contexto histórico entremeado pelo crescimento desse movimento e depois a eclosão do evento da Semana de Arte Moderna de 1922. 

Em meio a tudo isso, ainda, Carlos precisou ingressar em um curso de farmácia. Muito provavelmente essa escolha estava baseada na insatisfação da família com uma carreira puramente artística.

Casamento e política 

Drummond foi casado com Dolores Dutra, com quem teve dois filhos. Sua vida familiar permeia o tema de alguns de seus poemas, inclusive a perda de um filho que faleceu alguns minutos depois de nascer.

Além de todos os papéis citados para o autor, ele também foi um ativista político do Partido Comunista Brasileiro (PCB), com aproximação com a figura histórica do articulador político Luís Carlos Prestes. 

Drummond e os poemas

Muito relacionado com o modernismo, o autor publicou um poema na Revista de Antropofagia de São Paulo. Esse poema é famoso até os dias de hoje pela beleza formal e as ideias por trás, com uma riqueza artística. Confira:

No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Na época, entretanto, a escrita não foi bem aceita pelos críticos literários. O modernismo ainda estava abrindo um espaço na sociedade, para romper com os padrões estéticos e formais estabelecidos pela comunidade literária do período. A partir de então o autor se engajou ainda mais nessa corrente literária. 

Os poemas mais aclamados até os dias de hoje são pertencentes à Segunda Geração Modernista. Lembre-se que nessa fase do modernismo brasileiro havia uma valorização da cultura brasileira, influência dos conhecimentos psicanalíticos de Freud, uso de temáticas do dia a dia e linguagem coloquial, além de poemas menos estruturados, com mais versos livres e com menos riqueza de rimas. 

Veja um exemplo do poema “Infância”, do livro “Alguma Poesia” publicado pelo autor em 1930. 

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. 
Minha mãe ficava sentada cosendo. 
Meu irmão pequeno dormia. 
Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu 
a ninar nos longes da senzala — e nunca se esqueceu 
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha 
café gostoso 
café bom. 

Minha mãe ficava sentada cosendo 
olhando para mim:
— Psiu… Não acorde o menino. 
Para o berço onde pousou um mosquito. 
E dava um suspiro… que fundo!

Lá longe meu pai campeava 
no mato sem fim da fazenda. 

E eu não sabia que minha história 
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

Note, nessa obra, como existem versos livres, brancos, sem necessidade de métrica poemática. As rimas estão presentes em algumas partes, mas não são obrigatórias e nem seguidas rigorosamente pelo autor.

Há também um outro poema que Drummond escreveu com base em sua vida infantil e cidade natal, veja:

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Nesse poema o autor aborda suas vivências pessoais, trazendo uma subjetividade para a obra. A forma do texto não é estruturada rigorosamente, mas há uma liberdade poética, para expressar os sentimentos do eu lírico — essa característica é típica do modernismo, com maior liberdade de expressão.

Questões sobre poemas de Drummond

(Enem 2012) 

TEXTO I

Poema de sete faces

Mundo mundo vasto mundo,
Se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2001 (fragmento).

TEXTO II

CDA (imitado)

Ó vida, triste vida!
Se eu me chamasse Aparecida
dava na mesma.

FONTELA, O. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

Orides Fontela intitula seu poema CDA, sigla de Carlos Drummond de Andrade, e entre parênteses indica “imitado” porque, como nos versos de Drummond,

a) expõe o egocentrismo de sentir o coração maior que o mundo.

b) adota tom melancólico para evidenciar a desesperança com a vida.

c) invoca a tristeza da vida para potencializar a ineficácia da rima.

d) aponta a insuficiência da poesia para solucionar os problemas da vida.

e) apresenta o receio de colocar os dramas pessoais no mundo vasto.

Veja que, em ambos os poemas, os autores trazem um verso que parece introduzir uma possível solução para a questão apresentada anteriormente. Apesar disso, eles mesmos negam que aquilo de fato solucione a questão. 

O segundo autor nem cita a questão do “vasto coração/ vasto mundo”, a proximidade entre os textos também se dá pelo tom melancólico, mas esse não é o ponto de semelhança principal para Orides Fontela. A rima é utilizada como parte da estrutura poética, mas não é o foco escolhido para mimetizar CDA. Assim, a alternativa que melhor responde ao enunciado é a letra D

+ Veja também: Dia mundial da poesia: o que é, diferença entre poesia e poema, e poesias que caem no vestibular

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