O uso correto dos acentos e outros sinais gráficos é uma das habilidades cruciais para quem busca a nota máxima na prova de língua portuguesa e na redação. Afinal, um sinal diacrítico mal empregado pode, inclusive, alterar o significado de uma palavra e, consequentemente, comprometer a coerência textual e a competência gramatical do texto.
No contexto do Enem e dos vestibulares, o domínio do uso dos sinais diacríticos é indispensável para quem busca acertar tanto na resolução de questões de gramática quanto na redação.
Pensando nisso, o Portal do Estratégia Vestibulares preparou este guia para te ajudar a compreender a função, os tipos e as regras de aplicação dos sinais diacríticos. Confira!
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O que são sinais diacríticos e qual é a sua função?
Os sinais diacríticos (do grego diakritikós, que significa “que distingue”) são sinais gráficos que aplicamos sobre as letras, especialmente vogais, para modificar seu som, indicar a sílaba tônica ou distinguir palavras de grafia parecida, mas com sentidos diferentes.
Desse modo, eles modificam:
- O som (fonema): o til e a cedilha são exemplos disso;
- A indicação da tonicidade: o acento agudo e o circunflexo são responsáveis por indicar a sílaba tônica (a mais forte), crucial para a pronúncia correta da palavra;
- O sentido: o acento diferencial muda o sentido da palavra que possui grafia semelhante à outra.
Sinais diacríticos x sinais de pontuação
Cuidado para não confundir sinais diacríticos com sinais de pontuação. A pontuação (vírgula, ponto, aspas) organiza a estrutura da frase e o discurso. Já os sinais diacríticos (agudo, circunflexo, crase, til, trema, cedilha) atuam dentro da palavra.
Os sinais de acentuação e a tonicidade
Os acentos gráficos são os mais conhecidos e estão diretamente ligados às regras de acentuação: as famosas oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas.
Acento agudo (´)
O acento agudo tem a função de indicar a sílaba tônica e, principalmente, o som aberto das vogais.
Exemplos:
- café (som aberto do E)
- sílaba (marca a tônica)
- régua (som aberto do E)
- domínio (som aberto do I)
Acento circunflexo (^)
O acento circunflexo também indica a sílaba tônica, mas com a característica de indicar o som fechado e anasalado das vogais a, e, o.
Exemplos:
- vovô (som fechado do O);
- pêssego (som fechado do E);
- você (som fechado do E);
- Cômodo (som fechado do O).
Em geral, além das palavras proparoxítonas, o acento circunflexo é comumente usado em palavras oxítonas terminadas em “-e” ou “-o” e em formas verbais oxítonas que, ao se juntarem aos pronomes clíticos -lo(s) ou -la(s), perdem o -r, -s, ou -z final e resultam em vogais tônicas fechadas -ê ou -ô (exs.: detê-lo (de deter + lo), fê-lo (de fez + lo), pô-la (de pôr/pôs + la)).
Acento diferencial
Um caso importante para o vestibular é o acento diferencial, que deve ser aplicado em alguns casos para diferenciar duas palavras de grafias iguais (homógrafas) e, por vezes, de mesma pronúncia (homófonas), mas com significados diferentes.
Exemplos:
- Pode (presente do indicativo) e pôde (pretérito perfeito do indicativo) → Ele pode ir hoje. / Ele pôde ir ontem.
- pôr (verbo) e por (preposição) → “Ela decidiu pôr um casaco, pois a noite estava fria.”/ “Estudei a noite toda por causa da prova de amanhã.”
- tem (verbo no singular) e têm (verbo na 3ª pessoa do plural) → Ele tem uma oportunidade de mudar de vida. / Eles têm uma oportunidade de mudar de vida.
Sinal grave (`)
O sinal grave é o sinal diacrítico usado para indicar a ocorrência da crase. A crase é a contração de dois “a”:
- a (preposição) + a (artigo definido feminino) = à
Nesse sentido, sua aplicação está diretamente ligada à regência verbal e nominal. Se o termo regente (verbo ou nome) exige a preposição “a” e o termo regido (feminino) admite o artigo “a”, a crase é obrigatória.
Exemplos:
- Fui à escola. (Quem vai, vai a algum lugar; “escola” é palavra feminina que aceita a; A + A = À).
- Obedeci à regra. (Quem obedece, obedece a algo; “regra” é palavra feminina que aceita a; A + A = À).
O til e a cedilha
Estes sinais são responsáveis por modificar radicalmente a pronúncia das letras.
Til (~)
O til é comumente confundido como acento gráfico, mas, na verdade, ele é um sinal diacrítico de nasalização que indica que as vogais “a” e “o” devem ser pronunciadas de forma nasal.
Exemplos:
- irmão;
- corações;
- põe;
- chão;
- mão;
- furacão.
Um caso que elucida bem a função de sinal de nasalização do til e não de acentuação são as palavras órfão e órgão. Nestes exemplos, o acento agudo já indica a sílaba tônica, comprovando que o til atua apenas para marcar a nasalidade.
Perceba também que o til é crucial para a distinção de sentido nas palavras Roma (capital da Itália) e romã (fruta).
Cedilha (ç)
A cedilha é o sinal que colocamos sob o ‘c’ e tem a função de alterar o som da letra ‘c’ para o fonema /s/ , dando à letra “c” o mesmo som do ‘s’ no início de palavra.
- Regra fundamental: a cedilha (ç) só pode ser usada antes das vogais a, o, u. Jamais a use antes de e ou i (cédula, civil), nem no início de uma palavra;
- Exemplos: cabeça, coração, açúcar, maçã, caçador.
O trema no Novo Acordo Ortográfico
Antes da mudança no Novo Acordo Ortográfico, o trema tinha a função de indicar que a vogal “u” deveria ser pronunciada em sílabas como “que”, “qui”, “gue”, “gui”.
Porém, com a nova regra, o trema foi abolido da língua portuguesa no Brasil. Assim, palavras como linguiça, aguentar e sequência não recebem mais esse sinal, mas o “u” continua a ser pronunciado da mesma forma.
Mas como toda regra, há uma exceção: a única exceção é a manutenção do trema em nomes próprios estrangeiros e seus derivados. Exemplos: Müller (sobrenome) ou mülleriano (derivado).
Sinais diacríticos no Enem e em vestibulares
Seja na redação ou nas questões objetivas, os sinais diacríticos são uma parte indispensável da sua preparação. Então, atente-se às situações em que ele pode ser cobrado:
- Redação (competência 1): a falta de um acento (agudo ou circunflexo), o uso errado da crase ou qualquer erro de cedilha e til é classificado como um erro de ortografia grave, penalizando a nota da competência 1 do Enem, por exemplo. Desse modo, escrever “secretaria” no lugar de “secretária” é um exemplo de erro de acentuação que também pode comprometer a interpretação do seu texto e, por isso, merece atenção;
- Questões objetivas: é comum que a prova de Língua Portuguesa dos vestibulares exija que você identifique e justifique o emprego da acentuação e da crase, testando diretamente o seu conhecimento das regras. Além disso, a mudança de sentido causada por alguns sinais diacríticos pode ser explorada de forma contextualizada em textos.
Dicas para dominar sinais diacríticos
Para dominar os sinais diacríticos de forma eficaz, pratique leitura e redação com foco em acentuação e crase, pois a leitura internaliza as regras, enquanto a redação obriga você a reproduzi-las repetidamente, até não mais errar.
Além disso, é importante a resolução de questões mais tradicionais de gramática que cobrem a aplicação correta dos principais sinais diacríticos.
Por fim, não apenas decore as palavras e seus respectivos acentos, mas busque compreender as regras de acentuação (oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas). O mesmo é válido para as regras de uso da crase.
Questão de vestibular sobre sinais diacríticos
UNESP (2013)
O pai, hoje e amanhã, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
A civilização industrial, entidade abstrata, nem por isso menos poderosa, encomendou à ciência aplicada a execução de um projeto extremamente concreto: a fabricação do ser humano sem pais.
A ciência aplicada faz o possível para aviar a encomenda a médio prazo. Já venceu a primeira etapa, com a inseminação artificial, que, de um lado, acelera a produtividade dos rebanhos (resultado econômico) e, de outro, anestesia o sentimento filial (resultado moral).
O ser humano concebido por esse processo tanto pode considerar- se filho de dois pais como de nenhum. Em fase mais evoluída, o chamado bebê de proveta dispensará a incubação em ventre materno, desenvolvendo-se sob condições artificiais plenamente satisfatórias. Nenhum vínculo de memória, gratidão, amor, interesse, costume – direi mesmo: de ressentimento ou ódio – o ligará a qualquer pessoa responsável por seu aparecimento. O sêmen, anônimo, obtido por masturbação profissional e recolhido ao banco especializado, por sua vez cederá lugar ao gerador sintético, extraído de recursos da natureza vegetal e mineral. Estará abolida, assim, qualquer participação consciente do homem e da mulher no preparo e formação de uma unidade humana. Esta será produzida sob critérios políticos e econômicos tecnicamente estabelecidos, que excluem a inútil e mesmo perturbadora intromissão do casal. Pai? Mito do passado.
Aparentemente, tal projeto parece coincidir com a tendência, acentuada nos últimos anos, de se contestar a figura tradicional do pai. Eliminando-se a presença incômoda, ter-se-ia realizado o ideal de inúmeros jovens que se revoltam contra ela – o pai de família e o pai social, o governo, a lei – e aspiram à vida isenta de compromissos com valores do passado.
Julgo ilusória esta interpretação. O projeto tecnológico de eliminação do pai vai longe demais no caminho da quebra de padrões. A meu ver, a insubmissão dos filhos aos pais é fenômeno que envolve novo conceito de relações, e não ruptura de relações.
(De notícias e não notícias faz-se a crônica, 1975.)
“[…] e aspiram à vida isenta de compromissos com valores do passado.” Na frase apresentada, a colocação do acento grave sobre o “a” informa que
a) o “a”, por ser pronome átono, deve ser sempre colocado após o verbo, em ênclise, e pronunciado como um monossílabo tônico.
b) o verbo “aspirar”, na regência em que é empregado, solicita a preposição “a”, que se funde com o artigo feminino “a”, caracterizando uma ocorrência de crase.
c) o “a”, como artigo definido, é um monossílabo átono, e o acento grave tem a finalidade de sinalizar ao leitor essa atonicidade.
d) o termo “de compromissos com valores do passado” exerce a função de adjunto adverbial de “isenta”.
Resposta:
A colocação do acento grave sobre o “a” na frase apresentada indica que o verbo “aspirar” está no sentido de desejar/almejar (verbo transitivo indireto), e, portanto, exige a preposição “a”, que se funde com o artigo definido feminino “a” que antecede o substantivo “vida”. Logo, há uma ocorrência obrigatória de crase.
Alternativa correta: C.
+ Veja também: Transitividade verbal: conceito, importância e exemplos
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