A alusão histórica é uma das queridinhas da redação nota 1000. Referenciar processos históricos que dialogam com o presente e com o tema da dissertação é uma carta na manga que demonstra a capacidade de mobilizar vários conhecimentos na argumentação. No entanto, se usada fora de contexto ou de forma equivocada, pode se transformar em uma armadilha e prejudicar ao invés de ajudar.
Para te ajudar a compreender o que é de fato uma alusão histórica e como ela pode ser utilizada sem erro para fundamentar e embasar sua argumentação, conversamos com o professor do Estratégia Vestibulares, Wagner Santos. Alerta de Spoiler: cuidado com as citações “prontas” utilizadas fora de contexto. A redação nota 1000 precisa ser coerente, coesa, bem argumentada e problematizada.
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O que é alusão histórica?
Alusão histórica é a referência de processos e fatos históricos que integram o repertório sociocultural exigido na avaliação das redações dissertativas-argumentativas. É a capacidade de mobilizar os conhecimentos de históricos aprendidos em toda trajetória para problematizar, argumentar e reforçar a tese e tópico frasal da redação.
“A alusão histórica coloca em prática um conhecimento recebido, mas não para ser utilizado especificamente na redação, por isso é muito bem vista”, explica o professor Wagner Santos. Ou seja, o valor está na capacidade de mobilizar esse conhecimento sem parecer algo forçado ou que está ali apenas porque precisa estar.
Portanto, a alusão histórica nada mais é do que uma forma de contextualizar o problema da redação, reforçar a argumentação da tese e exemplificar aspectos da realidade.
Como utilizar a alusão histórica?
O professor Wagner alerta que é preciso cautela ao utilizar a alusão histórica, especialmente nos casos em que não se tem certeza sobre o fato histórico a ser utilizado. Além disso, ela deve fazer sentido e dialogar com a argumentação e com o tema da dissertação. “Não adianta fazer uma citação qualquer só para dizer que houve uma citação, sendo que o que é apresentado é incorreto”, afirma.
Ele alerta, ainda, que a alusão histórica não se trata de uma opinião ou interpretação de um fato histórico, mas sim de uma versão oficial dos acontecimentos: “ainda que a gente viva em um momento ideológico em que se questiona muita coisa e em que verdades históricas se tornam não-verdades, temos que tomar cuidado”.
A alusão histórica é essencialmente utilizada como forma comparativa. É preciso trazê-la para situações do presente e considerar quais são as diferenças, semelhanças, aquilo que progrediu ou regrediu, levando em conta o tema e respeitando sempre a versão oficial.
Se não tiver certeza, não arrisque
A recomendação do professor Wagner é de só fazer a citação se tiver certeza daquilo que está sendo dito. Não é necessário uma exatidão com relação às datas, por exemplo, mas o fato precisa estar correto.
“É necessário que aquilo tenha realmente acontecido para que a gente consiga entender aquilo como um processo de construção de saber válido para a prova. Eu diria que, sem a certeza, é melhor não arriscar”, avalia.
Ele explica que a cautela é necessária porque, em caso de erro, a alusão pode tirar pontos na hora da correção.”Em alguns momentos a gente acha que compreendeu as coisas, mas elas não foram compreendidas. Então é preciso que haja certeza pelo menos do que aconteceu”.
Não use achismos e não conteste a versão oficial
Em tempos de acirramento ideológico tem sido comum o questionamento e a contestação das versões oficiais dadas pela ciência e a história, enquanto ciência humana, não foge dessa regra. O professor nota que tem sido frequente a contestação ideológica dos fatos históricos, o que pode ser um problema para a nota do aluno.
“Os maiores problemas que a gente tem encontrado com relação a alusão histórica é exatamente essa revisão que alguns processos ideológicos fazem de momentos que sempre foram conhecidos de determinada forma”, relata o professor.
Ele exemplifica com relação ao período da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), conhecido como um regime autoritário advindo de um golpe de estado dado pelos militares. Segundo ele, alguns alunos têm utilizado a expressão “revolução” e atribuindo características ao período que não correspondem à realidade. “Eu recomendo que se for para o aluno problematizar a versão oficial, que não use a alusão, principalmente no Enem”.
9 exemplos de alusões históricas
Os itens a seguir são pautados a título de exemplo. Para referenciá-los em sua redação, é necessário um aprofundamento nesses itens, que você possui nas aulas de história e em outros artigos aqui do blog.
Também não se esqueça do fator comparativo entre a situação do passado e do presente, da relação estrita entre o tema e a alusão histórica, além de se manter atento à oficialidade do contexto histórico.
Redações que exijam reflexões sobre a democracia, o sistema democrático e temas equivalentes, como cidadania e direitos humanos podem recorrer à alusões sobre o surgimento da democracia. É possível citar o berço grego da democracia, bem como a implementação dos ideais da república após a revolução francesa e a consolidação após a Segunda Guerra Mundial.
Pode ser referenciada em textos que falem sobre a produção industrial, consumo e consumismo, sobre o liberalismo econômico e suas consequências nos dias atuais, sobre a relação entre desenvolvimento econômico e meio ambiente e sobre a forma de vida contemporânea. Todas essas questões integram o mundo moderno e as formas de viver na sociedade contemporânea.
Movimentos artísticos, em especial os que vieram após a modernidade retratam contextos históricos e sociais interessantes e que podem ser usados na redação. Artes contemporâneas como o dadaísmo, por exemplo, surge no contexto da Primeira Guerra Mundial, com artistas questionando a sociedade da época, inclusive o que se considerava como arte.
A ideologia nazi-fascista provocou a morte de milhões de pessoas na Europa e seus líderes protagonizaram a Segunda Guerra Mundial. Caracterizada pelo autoritarismo, pela perseguição de outras etnias e pela ideia de superioridade branca, a apologia a símbolos nazistas e fascistas hoje é crime. No entanto, será que estamos livres dessa ideologia nefasta? É possível fazer alusão ao nazi-fascismo, respeitando suas características essenciais.
Toda guerra possui um marco e deixa um legado para a sociedade em que se insere. Seja a Primeira ou Segunda Guerra Mundial, seja a Guerra do Paraguai no Brasil, ou a guerra ao terror na contemporaneidade, sempre é possível associar temas às mudanças provocadas após os conflitos. Também existem os conflitos internos e as guerras civis, como a Guerra de Canudos, que exemplifica a repressão com que as revoltas populares são tratadas no Brasil.
O período colonial produziu grande parte dos problemas e desafios enfrentados na humanidade, podendo se relacionar com os mais diversos assuntos, especialmente aqueles de temática social, como o racismo, a violência, a pobreza e os latifúndios. O Brasil colônia é um período extenso, de quase 300 anos, com escravização de negros em um regime de exploração e distribuição desigual de terra que é base das injustiças sociais de hoje.
Assim como o período colonial, o imperialismo é responsável por um rastro de pobreza e miséria, em especial no continente africano. Trata-se da divisão arbitrária de países africanos e asiáticos com o intuito de explorar e exercer domínio. A ideologia imperialista está presente nos dias de hoje, principalmente nos países do ocidente. É possível referenciar esse período em redações que demandam uma análise humanitária de relações internacionais, como as migrações e os refugiados.
A ditadura militar é um período que mancha a história democrática brasileira e seu legado deixa consequências negativas até os dias atuais, seja na ideologia autoritária de parte da população, ou sobre as diversas famílias brasileiras que ainda hoje aguardam justiça sobre os crimes desse período. O golpe militar é uma época de privação de direitos, liberdades individuais e perseguição aos que discordavam do regime.
O terrorismo é um problema contemporâneo, mas que possui sua história, causas e características próprias, que muito tem a ver com o imperialismo já citado neste artigo. A guerra ao terror, os fundamentalismos religiosos e o papel dos órgãos internacionais na contenção de atentados e crises humanitárias são temas que podem trazer esta questão à tona.
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