O trabalho na perspectiva sociológica: trabalho e sociedade

O trabalho na perspectiva sociológica: trabalho e sociedade

Estudar o trabalho na perspectiva sociológica é compreender a sociedade a partir de suas funções, considerando as relações sociais construídas conforme a posição profissional dos indivíduos. 

Para além disso, a temática pode tornar-se polêmica quando são estudadas as relações entre empregado e empregador, por exemplo. Afinal, há uma questão de sobrevivência, lucratividade e produtividade que norteiam esse relacionamento.

Como o trabalho é parte da existência humana na maior parte das sociedades existentes, é importante interpretar seu papel para além da questão econômica. Neste artigo, você encontra diversas informações sobre essa perspectiva sociológica do trabalho, com um panorama histórico. Ao final, ainda, acompanha uma questão de vestibular comentada e resolvida sobre o assunto. 

O que é o trabalho na perspectiva sociológica?

Em um olhar sociológico, o trabalho é mais do que um meio de sobrevivência ou um meio para a manutenção da economia em uma sociedade. Na verdade, trata-se de uma base para a organização social, a maneira como as relações de trabalho são construídas regem toda a estrutura daquela civilização. 

Ao longo da história, diversos pensadores se debruçaram sobre o tema para defini-lo, duas dessas visões estão apresentadas a seguir.

Para o sociólogo Émile Durkheim o trabalho é parte integrante de uma sociedade e, por meio dele, é possível que as pessoas se unam, com todas as funções sendo complementares entre si. Em suas teorias, Durkheim também postulou que as relações de trabalho podem fazer uma sociedade ser mais ou menos coesa, conforme a interdependência entre os indivíduos e suas funções. 

Já para o alemão Karl Marx, o trabalho é uma troca em que um ser humano emprega sua força e inteligência como forma de garantir sobrevivência para si e seus dependentes. Entretanto, sua visão propõe que essa divisão de trabalhos crie um conflito entre dois grupos sociais, algo que ele nomeou como luta de classes. Na época, defendia que havia um conflito social permanente criado pelo embate entre burguesia e proletariado, por exemplo. 

Relações de trabalho históricas e sociológicas

As primeiras relações de trabalho foram construídas para a manutenção e sobrevivência das primeiras civilizações. Depois, com a organização social da Idade Média a divisão trabalhista ganhou uma conotação de status social. 

Geralmente, a hierarquia social era baseada na função realizada pelo indivíduo. De forma que trabalhos braçais eram considerados menos honrosos. Já a governança, militarismo e até funções religiosas eram mais bem vistas naquela época. 

De certa forma, indivíduos que trabalhavam como pesquisadores, físicos, matemáticos e clérigos tinham maior notoriedade em meio à sociedade medieval. Até porque, naquela época, o acesso à alfabetização era precário e essa habilidade trazia um prestígio social aos possuidores.

Na Idade Moderna, houve uma revolução intelectual, em que havia um desejo maior pela emancipação entre homem e religião, e mais explicações racionais para os fenômenos cotidianos. Com o iluminismo, por exemplo, os humanos tornaram-se mais protagonistas da história do mundo e, aqueles que tinham conhecimento sobre a natureza e podiam transformar matéria prima em produtos úteis ganharam mais notoriedade social. 

A dedicação ao estudo das ciências foi intensa, até que os primeiros resquícios de industrialização surgiram na Europa. Quando as máquinas surgem, o papel do homem torna-se menos intenso para a construção do produto em si.

Agora, não era mais necessário saber construir um produto por completo; bastava cumprir um passo a passo frente a um dispositivo automatizado. Então, em vez de produzir e vender uma mercadoria pronta, os indivíduos passaram a vender sua força e disposição para empresas, onde eles cumpriam uma tarefa mecânica por muitas horas, como parte de uma linha de montagem, em sistemas conhecidos como taylorismo e fordismo. 

Capitalismo e trabalho

Com o desenvolvimento do capitalismo, na era industrial, o trabalho continua como uma mercadoria vendida para uma empresa em troca de um salário específico. Em geral, isso permite certas desigualdades dentro da sociedade: com exceções, os trabalhadores são pagos por uma empresa que retém a maior parte monetária, enquanto esses empregados recebem dividendos que não condizem com o trabalho efetuado. 

Parte do funcionamento do capitalismo e suas relações de trabalho têm um embasamento teórico-religioso. No surgimento do protestantismo, uma das vertentes religiosas propôs que o trabalho traz dignidade ao ser humano e que, a evolução financeira de um indivíduo pode indicar que ele tem uma boa relação com Deus. Com esses valores morais na sociedade, o capitalismo teve mais espaço para se desenvolver e se fortalecer. 

Trabalho na perspectiva sociológica na atualidade

Atualmente, há um debate polêmico em torno das relações de trabalho e os direitos humanos. Com o advento da internet e avanço de outras tecnologias, foram criados aplicativos e sites de e-commerce. Essas plataformas dependem de entregadores, motoristas e outros trabalhadores que realizam a parte não-virtual do trabalho. 

Para esses empregadores, foi mais benéfico contratar essas pessoas informalmente. No Brasil, isso significa que esses indivíduos não são contratados no regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), assim, eles não possuem direitos como 13º salário, férias remuneradas, descansos programados remunerados, entre outros. 

Ao mesmo tempo, esses trabalhadores não prestam contas diretamente às empresas, não possuem horário fixo de trabalho, têm flexibilidade para produzir quanto e quando puderem. Assim, muitos cidadãos utilizam essas plataformas como forma de segunda renda, ou ainda, trabalham muitas horas do dia para superar dificuldades financeiras, sem controle, pausas, intervalos. 

Diante disso, a comunidade sociológica e até os políticos têm discutido formas de conferir dignidade trabalhista a esses cidadãos, para que tenham acesso aos direitos humanos básicos no que tange à forma de trabalho. Ao mesmo tempo, alguns setores da sociedade advogam que, com essas alterações, o preço dos serviços de entrega e transporte por aplicativo, por exemplo, seriam mais caros e menos acessíveis à população. 

+ Veja também: Tema da redação Enem 2023: invisibilidade do trabalho de cuidados realizados pela mulher no Brasil

Questão sobre trabalho na perspectiva sociológica

Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) – 2023

O avanço das forças produtivas apropriadas pelo capital, aliado ao contexto de transformação das relações socioculturais que abarcam as esferas da produção e do consumo, tem possibilitado a ascensão do fenômeno da “uberização do trabalho”, termo derivado da forma de organização da empresa Uber. Esse fenômeno tem sido usualmente associado aos negócios da denominada economia de compartilhamento e abre o debate acerca das especificidades das categorias estruturantes da acumulação capitalista, que abarcam relações de trabalho virtualizadas […].

FRANCON, David Silva; FERRAZ, Deise Luiza da Silva. Uberização do trabalho e acumulação capitalista. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 17, Edição Especial, p. 844-856, nov. 2019 (fragmento).

Sobre a chamada “uberização do trabalho”, fenômeno no qual as relações de trabalho se dão por demanda, sendo mais flexíveis e informais, assinale a alternativa correta no que se refere ao contexto brasileiro.

A) Com a “uberização”, os trabalhadores gozam de plena proteção da legislação trabalhista brasileira, o que não os diferencia dos empregados regidos pela Consolidação da Leis do Trabalho (CLT).

B) Esse fenômeno tem ocorrido a partir da última década, devido ao excesso de oferta de postos de trabalho formais.

C) Na “uberização do trabalho”, o trabalhador assume a responsabilidade pelos principais meios de produção, mas não corre riscos, pois a empresa intermediadora é obrigada a assumir todos os eventuais prejuízos.

D) Na “uberização do trabalho”, o trabalhador assume a responsabilidade pelos principais meios de produção, assim como diversos riscos que existem para o oferecimento dos serviços.

E) A “uberização do trabalho” deve ser entendida como uma modernização benéfica para o trabalhador, pois este, além de gozar de ampla autonomia e de melhores remunerações, têm mantidos intactos seus direitos trabalhistas, como férias e décimo terceiro salário.

Alternativa correta: D

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