Caso Bruno Pereira e Dom Phillips: tudo o que você precisa saber
Ilustração: Reprodução/Cristiano Siqueira (@crisvector)

Caso Bruno Pereira e Dom Phillips: tudo o que você precisa saber

Vistos pela última vez no dia 5 de junho, o indigenista brasileiro e o jornalista britânico tiveram seus assassinatos confessados por pescador da região

O caso Bruno Pereira e Dom Phillips surgiu na imprensa no último dia 6 de junho, após a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) relatar o desaparecimento da dupla enquanto fazia o trajeto de barco de São Rafael até Atalaia do Norte, ambas cidades do estado do Amazonas.

O Portal Estratégia Vestibulares acompanhou uma aula do professor Marco Túlio, de História, sobre o tema e traz no texto a seguir tudo o que você precisa saber sobre o caso e como ele pode aparecer na parte de atualidades dos vestibulares.

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O que se sabe sobre o desaparecimento?

Bruno Pereira era um indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai) e Dom Phillips era um jornalista inglês que trabalhava com questões ambientais no Brasil há mais de 15 anos. Atualmente, ele era correspondente de um jornal de seu país, o The Guardian.

O desaparecimento da dupla aconteceu no dia 5 de junho em uma viagem de barco que levaria duas horas. O trajeto deveria ter sido feito pelo Rio Itacoaí, que fica na região do Vale do Javari, no Amazonas. Os corpos dos dois foram encontrados no dia 15 de junho, na Floresta Amazônica.

“Esse caso ganhou grande repercussão provavelmente por causa do desaparecimento do jornalista britânico. Então o mundo inteiro acabou se atentando ao que tá acontecendo aqui, mas convenhamos, né? Não é o primeiro e muito provavelmente não vai ser o último caso”, comenta o professor Marco Túlio.

Região do desaparecimento

O município de Atalaia do Norte, que seria o destino de Bruno e Dom, está localizado em uma região de tríplice fronteira, que liga o Brasil aos vizinhos Peru e Colômbia.

O Vale do Javari, onde fica a cidade, também é o local com maior concentração de povos indígenas isolados do mundo. E por se tratar de uma localidade de difícil acesso, acaba sendo alvo de vários crimes ligados ao meio ambiente, aos povos indígenas e até ao narcotráfico.

Localização da cidade de Atalaia do Norte, destino da dupla. – Arte: Isabela Giordan / Portal Estratégia Vestibulares

Veja também: Garimpo ilegal no Brasil: o que é, como acontece e quais conflitos são gerados

A região é rota de entrada de tráfico de drogas, sofre com pesca e caça ilegais, além do garimpo proibido em terras indígenas e a ação ilegal de missionários internacionais que invadem comunidades locais com o objetivo de catequisação.

“O combate ao garimpo, à pesca, à caça ilegais, e à entrada de missionários vem perdendo muita força nos últimos anos. Faltam recursos à Funai, falta servidor…a Polícia Federal não tem tanto efetivo para atuar, o Ibama também”, explica Marco Túlio.

Em vídeo gravado em 2020 e divulgado após o desaparecimento, o indigenista Bruno Pereira denunciou como a presença de invasores representa riscos à segurança dos povos indígenas do Vale do Javari. Ele também pediu licença da Funai em janeiro do mesmo ano, logo após ter sido exonerado do cargo de coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato em 2019.

De acordo com a Univaja, Bruno passou a ser perseguido depois de atuar em uma operação que destruiu mais de 60 balsas de garimpo ilegal na Terra Indígena Vale do Javari, em 2019.

Corpos encontrados

Em 12 de junho, seis dias após o desaparecimento de Bruno e Dom, a Polícia Federal divulgou que o Corpo de Bombeiros do Amazonas encontrou um cartão, uma mochila e outros objetos pertencentes ao jornalista e ao indigenista.

“Na região onde se concentraram as buscas foram encontrados objetos pessoais pertencentes aos desaparecidos, sendo um cartão de saúde em nome do Sr. Bruno Pereira, uma calça preta pertencente ao Sr. Bruno Pereira, um chinelo preto pertencente ao Sr. Bruno Pereira, um par de botas pertencente ao Sr. Bruno Pereira, um par de botas pertencente ao Sr. Dom Phillips e uma mochila pertencente ao Sr. Dom Phillips contendo roupas pessoais”, especificou a PF em nota.

Pertences dos desaparecidos foram encontrados em área de igapó – Foto: Corpo de Bombeiros do Amazonas

Um dia depois, em 13 de junho, Alessandra Sampaio, a esposa de Dom Phillips, afirmou ao jornalista André Trigueiro da GloboNews, que recebeu a informação da Embaixada Britânica no Brasil que os corpos do jornalista e do indigenista haviam sido encontrados pela Polícia Federal.

A Polícia Federal negou, em nota, ter encontrado os corpos: “Não procedem as informações que estão sendo divulgadas a respeito de terem sido encontrados os corpos do Sr. Bruno Pereira e do Sr. Dom Phillips”.

Confissão do assassino

A polícia passou a investigar um suspeito, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”. O homem foi preso durante a investigação por porte de drogas e munição de uso restrito das Forças Armadas. A polícia também apreendeu sua lancha, onde encontrou sangue, mas ainda não houve a confirmação se trata-se de um fluido humano.

Amarildo foi apontado após testemunhas relatarem à polícia que viram o suspeito ameaçando o indigenista Bruno Pereira. Uma testemunha também afirmou que o pescador foi visto em uma lancha, navegando logo atrás da embarcação de Bruno e Dom no dia do desaparecimento.

Apesar de inicialmente negar o envolvimento no sumiço do indigenista e do jornalista, Pelado confessou o assassinato de ambos no dia 15 de junho. Amarildo afirmou ter matado a dupla com tiros de arma de fogo e enterrado seus corpos na mata. O homem segue preso.

Perícia dos corpos

Pelado levou os policiais até o local em que enterrou Bruno e Dom, e os restos mortais foram encaminhados para perícia em Brasília. Os fragmentos começaram a ser examinados pelo Laboratório de Perícia Técnica da Polícia Federal no dia 17 de junho.

No mesmo dia em que começaram os exames, a equipe da perícia identificou que a arcada dentária de um dos corpos pertence ao jornalista Dom Phillips, confirmando sua morte. Os possíveis restos mortais de Bruno Pereira seguem em análise.

Conclusão da polícia

Ainda na sexta-feira, 17 de junho, a Polícia Federal divulgou em nota que as investigações sobre os assassinatos não apresentam indícios de ter haver um mandante ou organização criminosa por trás das mortes.

Entretanto, a PF também afirma que o tralhado ao redor do caso continua com diligência e que outras pessoas devem estar envolvidas no crime e novas prisões podem ocorrer nos próximos dias.

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) também divulgou uma nota a respeito das investigações, na qual discorda da posição da Polícia Federal sobre não haver um mandante dos assassinatos de Bruno e Dom.

Greve na Funai

Marcelo Xavier, presidente da Funai, afirmou em entrevista ao programa Voz do Brasil, que o indigenista e o jornalista deveriam ter solicitado autorização para a viagem: “Muito complicado quando duas pessoas resolvem entrar na área indígena sem nenhuma comunicação formal aos órgãos de segurança, nem mesmo à Funai, que exerce sua atribuição dentro dessa área indígena”, disse.

Após a fala do presidente do órgão, os funcionários da Funai exigiram uma retratação e aprovaram greve por 24 horas a partir do dia 14 de junho. Participaram da assembleia de deliberação a Indigenistas Associados (INA), o Sindsep-DF (Servidores Públicos Federais do Distrito Federal), da Condisef (Confederação Nacional dos Servidores Públicos Federais) e da Ansef (Associação Nacional dos Servidores da Funai).

Outra reivindicação dos servidores é que sejam implementadas medidas de segurança pública para garantir a integridade física dos funcionários das bases de proteção do Vale do Javari e das sedes das coordenadorias regionais da Funai

Dados importantes 

De acordo com um relatório da Ong Global Witness, publicado em 2020, o Brasil é o terceiro país mais letal no mundo para ativistas ambientais, ficando atrás apenas das Filipinas e da Colômbia.

“O que pode ser feito para amenizar essas questões? Primeira coisa é reforçar os investimentos nos órgãos que se voltam à defesa desses territórios: a Funai, o Ibama, a Polícia Federal. Porque sem isso, não tem como”, aponta o professor Marco.

O quadro fica ainda mais perigoso com o recorte de gênero, de acordo com pesquisa do Instituto Igarapé, oito em cada dez mulheres ativistas por direitos ambientais já sofreram violência na Amazônia brasileira por seu trabalho.

Foram ouvidas ativistas que já sofreram ou testemunharam violências, e precisaram deixar suas terras ou fazem parte de programas de proteção governamentais, no Acre, Amazonas, Maranhão, Pará e Roraima. E ainda, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), entre 2012 e 2020, 48 ativistas foram assassinadas.

Já nas ameaças contra povos indígenas, o Altas da Violência 2021 evidenciou um aumento de 21,6% no número de assassinatos de 2009 a 2019.

Como cai no vestibular?

Na aula, o professor Marco Túlio aponta a importância dos dados sobre violência na região amazônica, e indica que eles podem ser aplicados nas redações.

Além disso, ele destaca a maior probabilidade de instituições das regiões Norte e Centro-Oeste abordarem o tema, uma vez que são localidades com grandes concentrações de povos indígenas.

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