O Conto da Aia: como usar a série no repertório sociocultural da redação
Foto: AdoroCinema/Copyright George Kraychyk/Hulu

O Conto da Aia: como usar a série no repertório sociocultural da redação

O Conto da Aia aborda temas como política, direitos humanos, opressão de gênero e extremismo religioso; veja como usar a obra na redação

No dia 9 de abril de 2025, foi lançada a sexta temporada de O Conto da Aia, The Handmaid’s Tale em inglês, série inspirada no livro homônimo da escritora Margaret Atwood.

Inclusive, o livro já foi utilizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) como base para realização da redação do vestibular 2025, que questionava os limites da religião no papel de gênero das mulheres, com o tema: “O governo de uma nação pode exercer controle sobre o corpo feminino com base em princípios religiosos?”.

O universo distópico criado por Atwood, apesar de fictício, é construído a partir de fatos e estruturas históricas reais. Por isso, a obra se destaca como uma opção de repertório sociocultural para redações de vestibulares que abordam temas como política, direitos humanos, opressão de gênero e liberdade individual.

Pensando nisso, o Portal Estratégia Vestibulares reuniu alguns temas em que a série pode ser aplicada nessas argumentações. Confira abaixo!

Curso de Redação

Envie redações ilimitadas para correção

O que é o repertório sociocultural?

O repertório sociocultural é usado nas redações para fundamentar um argumento. No  Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ele faz parte da competência número dois de avaliação da proposta de redação.

Nessa competência, a banca avalia se o candidato conseguiu “compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.” 

No repertório sociocultural podem ser apresentados conceitos teóricos, citações de estudiosos, referências de acontecimentos históricos, atualidades, política e até mesmo música, filmes e séries, desde que utilizados coerentemente.

O Conto da Aia: sinopse e contexto

A série, inspirada na obra homônima de Margaret Atwood, narra a trajetória de June Osborne em uma realidade distópica, marcada por um regime autoritário e fundamentalista chamado Gilead. 

Nesse novo sistema, os direitos individuais são abolidos e as mulheres, principalmente as férteis, são transformadas em “aias”, ou seja, escravas sexuais designadas para a reprodução. 

Desigualdade de gênero

The Handmaid’s Tale é, antes de tudo, um grito contra a opressão feminina. Em Gilead, as mulheres perdem todos os seus direitos: não podem trabalhar, estudar, possuir bens ou sequer ler um livro. Reduzidas às funções de esposas, tias, martas ou aias, elas são categorizadas e tratadas conforme sua utilidade para o regime. 

No início da série, a protagonista, June, é transformada em aia e separada de sua filha, sendo submetida a rituais periódicos de estupro institucionalizado com o objetivo de engravidar. Essa realidade mostra uma desigualdade que, apesar de parecer “exagerada”, reflete diversas formas de violência de gênero ainda presentes na sociedade atual. 

A série pode ser usada para reforçar discussões sobre o machismo estrutural, a invisibilização das mulheres nos espaços de poder e a necessidade de políticas públicas que assegurem equidade de gênero. 

O retrato das “tias”, mulheres que cumprem o papel de doutrinar as aias com base em uma suposta moral cristã, também evidencia como o próprio patriarcado pode unir-se a figuras femininas para manter sua estrutura de poder.

Autoritarismo e supressão de direitos

O regime de Gilead surge após um golpe de Estado nos Estados Unidos, que se inicia com a suspensão da Constituição, a perseguição de opositores e o uso da força para consolidar o novo sistema. 

Nesse cenário, todos os direitos civis e políticos são retirados da população, que passa a viver sob uma vigilância constante. Câmeras, espiões e punições públicas mantêm a ordem, enquanto qualquer forma de dissidência é severamente punida. 

Mulheres são enforcadas, mutiladas ou enviadas para as colônias contaminadas como forma de punição exemplar. June, ao longo da série, representa a resistência silenciosa e, depois, ativa, contra esse regime brutal. 

Esse contexto pode ser usado como analogia para discutir os perigos do autoritarismo e os sinais de retrocesso democrático, mostrando como, em determinadas conjunturas, regimes opressores podem se instaurar por meio de discursos de “salvação” da sociedade. 

Extremismo religioso

Em Gilead, a religião é usada como ferramenta de dominação. Textos bíblicos são reinterpretados para justificar a opressão das mulheres e a criação de um sistema de castas. 

O ritual de reprodução das aias é chamado de “cerimônia” e é sustentado por uma leitura distorcida das Escrituras. A bíblia é, inclusive, proibida para leitura comum, sendo acessada apenas por autoridades religiosas masculinas. Esse uso da fé como justificativa para a violência e para o controle social evidencia os riscos do fundamentalismo religioso. 

A série, portanto, é um bom recurso para tratar de temas como a intolerância religiosa, os perigos da mistura entre religião e Estado, e a necessidade de garantir a laicidade como forma de proteção das liberdades individuais. 

Inscreva-se em nossa newsletter🦉

Receba dicas de estudo gratuitas e saiba em primeira mão as novidades sobre o Enem, Sisu, Encceja, Fuvest e outros vestibulares!

Controle dos corpos femininos

A ideia de que o corpo feminino deve ser controlado pelo Estado é central na narrativa de O Conto da Aia. Em Gilead, a infertilidade causada por catástrofes ambientais leva o regime a transformar mulheres férteis em propriedades do Estado. 

As aias, como June, são constantemente monitoradas, forçadas a manter uma alimentação e uma rotina regrada, e não têm qualquer controle sobre seu próprio corpo. 

Esse retrato distópico dialoga com debates atuais sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, como a legalização do aborto e o acesso a métodos contraceptivos. 

A série pode ser utilizada para argumentar sobre como o controle do corpo feminino é, historicamente, uma estratégia de dominação, e como isso ainda persiste em legislações que negam às mulheres o direito de decidir sobre sua própria saúde e maternidade. 

Inclusive, o uso do uniforme vermelho e do véu branco simboliza a tentativa de apagar a individualidade dessas mulheres, reduzindo-as à função de “ventres” para a reprodução.

Liberdade de expressão e censura

Outro aspecto explorado pela série é a ausência de liberdade de expressão. A imprensa é extinta, as bibliotecas são fechadas, e qualquer forma de manifestação cultural ou artística que contrarie o regime é proibida. 

Um exemplo marcante é quando June encontra uma frase escrita em latim escondida no armário de seu quarto: “Nolite te bastardes carborundorum” (“Não deixe os bastardos te oprimirem”), um resquício de resistência deixado por uma aia anterior. Essa frase, aparentemente simples, representa o poder da palavra como instrumento de resistência em um contexto de silêncio imposto. 

A série pode ser usada em temas que abordam a censura, o papel da mídia livre e o perigo da manipulação da informação. A ausência de debate e de pluralidade de ideias em Gilead mostra como o controle da linguagem e do pensamento é uma arma usada pelos regimes autoritários, o que reforça a necessidade de proteger a liberdade de expressão em sociedades democráticas.

Retrocessos sociais

Talvez o elemento mais perturbador de The Handmaid’s Tale seja a forma como Gilead surge de maneira gradual. A sociedade anterior era semelhante à nossa: moderna, tecnológica, com mulheres no mercado de trabalho e com acesso à educação. 

No entanto, após crises políticas e econômicas, discursos conservadores começam a ganhar força, e mudanças nas leis vão lentamente retirando direitos, até que é tarde demais. 

A série mostra que a perda de direitos muitas vezes ocorre de forma sutil, disfarçada de moralidade ou segurança. Dessa forma, O Conto da Aia é um alerta sobre a importância da memória coletiva, da mobilização social e da participação política como formas de impedir que conquistas sociais sejam desfeitas.

Arrase na redação com o Estratégia Vestibulares

Você quer ter todas as suas redações corrigidas e com feedback? Saiba que o Estratégia Vestibulares oferece isso! Aqui você pode enviar um número ilimitado de redações para serem corrigidas por nossos professores, que respondem com dicas de onde e como melhorar.

Além disso, a Coruja oferece aulas dinâmicas, um Banco de Questões super completo, salas VIP, monitorias e cursos focados em diversas bancas de vestibulares do Brasil. Clique no banner e conheça melhor o Estratégia Vestibulares!

CTA - Estratégia Vestibulares 2

Você pode gostar também