Todos os anos, diversas instituições de Ensino Superior divulgam, junto às informações do vestibular, uma lista de obras obrigatórias. Essas obras, que normalmente são livros, mas também podem ser álbuns musicais ou artes plásticas, por exemplo, compõem o conteúdo da prova e, por isso, é necessário que os candidatos as conheçam.
Ou seja, as informações presentes em cada obra, independente de qual seja, devem fazer parte da rotina de estudos durante a preparação para o vestibular, já que seu conteúdo será cobrado nas questões. Confira mais a seguir:
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Por que os vestibulares cobram obras obrigatórias?
Ao exigir a análise de uma obra, os vestibulares formulam questões baseadas naquele produto cultural. Segundo a professora Luana Signorelli, que dá aulas de Literatura para os alunos do Estratégia Vestibulares, o objetivo da banca é contribuir também para a formação crítica daquele candidato que deseja ingressar na instituição.
Para ela, a análise da obra é importante para “ganhar bagagem cultural, melhorar os argumentos da redação, construir vocabulário, ampliar a maneira de ver a vida”.
Quais são os tipos de obras obrigatórias?
A maioria das instituições cobram livros como obras obrigatórias, como é o caso da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), que pedem a leitura de oito, três e doze títulos, respectivamente.
Já em listas como da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Estadual de Londrina (UEL), músicas também são cobradas como obras obrigatórias. A Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), por sua vez, é uma das exceções com uma lista tão ampla, e inclui também textos normativos, peças teatrais, obras plástico-visuais e audiovisuais.
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Como as obras obrigatórias são cobradas no vestibular?
Confira, a seguir, como as obras obrigatórias são abordadas em questões pelas bancas dos vestibulares:
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Universidade Estadual de São Paulo (USP) 2021
I
— Traíste-me, Sem Medo. Tu traíste-me.
(…)
Sabes o que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumento. Chego a pensar se não és homossexual. Tu queiras-me só, como tu. Um solitário do Moyombe.(…)
Desprezo-te. (…) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia (…) cada sucesso que eu tiver, será a paga da tua bofetada, pois não serei um falhado como tu.
Pepetela, Mayombe. Adaptado.
II
—Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um imbecil. E quis igualar o ingualável.
Pepetela, Mayombe. Adaptado.
Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre as personagens Comissário e Sem Medo em momentos distintos do romance. Em I e II, as falas do Comissário revelam respectivamente,
A) incompatibilidade étnica entre ele e Sem Medo, por pertencerem a linhagens diferentes, e superação de sua hostilidade tribal.
B) decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu favor na conversa com Ondina, e desespero diante do companheiro baleado.
C) suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência de que isso não passara de uma crise de ciúme dele.
D) forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo, e aceitação da verdade orientação sexual do companheiro.
E) ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa que o atinge ao perceber que sua demonstração de coragem colocara o companheiro em risco.
Veja a resolução:
A alternativa B está correta. No primeiro trecho, o Comissário Político João chama seu amigo Sem Medo de traidor, porque ele havia se envolvido com sua noiva, Ondina. João e Ondina eram noivos no início da narrativa, mas já não se entediam mais. Seu relacionamento perdeu a química, pois tinham personalidades diferentes: Ondina era empoderada e trabalhava como professora, ao passo que João é retratado como se ainda fosse imaturo. E o segundo trecho trata-se de um momento emocionante de reconciliação, pois o Comissário Político entende que Sem Medo está em um momento delicado, temendo pela sua morte e, consequentemente, pela perda definitiva do amigo. Esse episódio ocorre depois da ocupação no domínio português de Pau Caído.
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) 2022
Tudo na vida é mortal, tudo se apaga. Se a tua chama se apaga é em ti que está a falta. Faz o que te digo e magia nenhuma te derrubará nesta vida. Tu és feitiço por excelência e não deves procurar mais magia nenhuma. Corpo de mulher é magia. Força. Fraqueza. Salvação. Perdição. O universo inteiro cabe nas curvas de uma mulher.
(Paulina Chiziane, Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 38.)
O excerto acima corresponde a uma das primeiras lições que a conselheira amorosa oferece a Rami, a personagem principal do romance. Tendo em vista as várias peripécias vividas por Rami, essa lição é
A) aceita pela protagonista, mas sua trajetória lhe ensina que o corpo feminino é, no fim das contas, perdição.
B) abandonada pela personagem principal, uma vez que seu marido não se encanta com seus novos ardis.
C) frustrada, pois Rami, ao conhecer suas rivais, percebe que não possui todos os atributos desejáveis.
D) confrontada com a experiência pessoal de Rami e de suas rivais, transformando-as de modo significativo.
Veja a resolução:
A alternativa D está correta. Para esse romance moçambicano contemporâneo, a palavra- chave é ressignificação. O amadurecimento e a superação são primeiramente vividos pela protagonista, que motiva as outras mulheres também, incluindo as amantes de Tony: Mauá; Julieta; Saly e Luísa.
Universidade Estadual de Londrina (UEL) 2022
Leia o fragmento a seguir, retirado da obra O vendedor de passados, de José Eduardo Agualusa, e responda à questão
Félix conheceu Ângela Lúcia na inauguração de uma mostra de pintura. Creio – mas isto é mera suposição – que se apaixonou por ela assim que trocaram as primeiras palavras, porque a vida inteira o preparara para se entregar à primeira mulher que, vendo-o, não recuasse horrorizada. Quando digo recuar, entendam-me, não é para ser tomado de forma literal. Ao serem apresentadas a Félix Ventura, há mulheres que recuam realmente, dão um curto passo atrás, ao mesmo tempo que lhe estendem a mão. A maior parte, porém, recua em espírito, isto é, estendem-lhe a mão (ou o rosto), dizem “muito prazer”, e a seguir desviam os olhos e lançam algum comentário frouxo sobre o estado do tempo. Ângela Lúcia estendeu-lhe o rosto, ele beijou-a, ela beijou-o, e depois disse: – É a primeira vez que beijo um albino.
Adaptado de. AGUALUSA, José Eduardo. O vendedor de passados. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018. p. 131-132.
Sobre o romance, considere as afirmativas a seguir
I. A passagem “mas isto é mera suposição…” contribui para a verossimilhança do relato, pois o narrador se restringe ao espaço físico da casa de Félix Ventura, sem acompanhá-lo em todos os lugares.
II. O trecho “A maior parte, porém, recua em espírito…” explicita que o narrador tem conhecimento das práticas de discriminação experimentadas pelo protagonista na vida social.
III. No trecho “lançam algum comentário frouxo sobre o estado do tempo.”, o narrador discorre com ironia, tão comum em outras passagens do romance, sobre a dissimulação humana.
IV. No trecho “É a primeira vez que beijo um albino.”, o narrador compromete a veracidade do relato, pois ele desconhece se Ângela teve experiências afetivas com outros albinos em sua vida.
Assinale a alternativa correta.
A) Somente as afirmativas I e II são corretas.
B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
Veja a resolução:
A alternativa D está correta.
Afirmação I: correta. O narrador é a osga que, por mais que seja uma hospedeira da casa e acompanhe os passos de Félix Ventura, não tem como conhecer seus detalhes íntimos.
Afirmação II: correta. Félix Ventura, o vendedor de passados, é um negro albino no país de Angola. Sofre muito preconceitos, especialmente na sua vida amorosa.
Afirmação III: correta. A ironia é um dos principais recursos para um narrador que de humano reencarnou numa lagartixa. Ele aponta para o fato de que as mulheres desconversam quando estão com Félix Ventura e o repudiam.
Afirmação IV: incorreta. Trata-se de uma fala direta de Ângela.
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