Dia Internacional das Vítimas do Terrorismo: saiba a definição do termo e como o tema impactou as últimas décadas

Dia Internacional das Vítimas do Terrorismo: saiba a definição do termo e como o tema impactou as últimas décadas

Mesmo 20 anos depois do atentado de onze de setembro o terrorismo ainda é tema recorrente na sociedade

O dia onze de março é marcado como o Dia Internacional das Vítimas do Terrorismo. O termo não tem uma definição exata e pode ser usado para diversos tipos de atentados ou violências, mas basicamente é um ato que busca aterrorizar o público, criar caos. 

Por não ter uma definição clara, muitas vezes governos e organizações classificam atos contrários como terroristas, o que traz confusão e acaba por desqualificar o termo. No Brasil, por exemplo, há a Lei Antiterrorismo, que busca classificar e punir atos diversos, colocando-os nessa classificação.

O tema, portanto, pode ser apropriado por esferas políticas e sociais ao redor do mundo, o que abre margem para polêmicas distintas. Para falar sobre o assunto, entrevistamos o professor de Geografia do Estratégia Vestibulares, Saulo Takami. Acompanhe o artigo abaixo.

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O que é terrorismo

Segundo definição do dicionário Oxford, o termo significa “modo de impor a vontade pelo uso sistemático do terror” e “a prática de atentados e destruições por grupos cujo objetivo é a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder.”

O surgimento do termo vem do filósofo irlandês Edmund Burke, se referindo a Revolução Francesa, mais precisamente quando os jacobinos estavam no poder. A classificação, portanto, critica as perseguições e guilhotinadas distribuídas pelos jacobinos entre 1792 a 1794.

Já a Organização das Nações Unidas (ONU), afirma que é necessário diferenciar uma ação terrorista de uma violenta de acordo com o contexto geral que motivou a tomada de decisão do autor ou grupo.

Um ato terrorista tem como objetivo provocar o terror na sociedade, um ato que impacta além das suas vítimas, mas sim uma construção social. Nisso, as movimentações midiáticas, órgãos do governo e as redes sociais têm grande impacto na disseminação de sentimentos como medo, repulsa e revolta em populações atingidas, e isso é proposital.

Dentre os pontos em comum é possível citar sua finalidade política, o planejamento de cada ato para que a audiência e o impacto seja alto e imediato, o fato de que as vítimas são civis, geralmente em espaços públicos e de grande circulação e a clandestinidade dos grupos, ou seja, não são uma entidade ou partido político.

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Tipos de terrorismo

Como a motivação para um ato terrorista é diversa, é possível classificá-los em tipos. Veja abaixo alguns deles:

Indiscriminado

O terrorismo indiscriminado acontece quando não há um alvo específico. O intuito, nesse caso, é causar destruição de um espaço público, a fim de chamar a atenção e trazer o temor para a população afetada. 

Seletivo

Aqui há um alvo específico que o grupo terrorista vai focar, como em atos racistas e xenofóbicos, por exemplo. Quando um grupo ataca uma minoria ou parcela da população que tem uma característica em comum, o ato é seletivo. Um exemplo é o nazismo, que atacava toda e qualquer minoria que não fosse considerada ariana.

Estado

A Alemanha nazista também se encaixa no terrorismo de Estado, que é quando um grupo promove tais atos como governo, contra grupos políticos contrários ou quaisquer manifestações que vão contra o interesse desse Estado opressor.

Comunal

Quando o grupo terrorista vem de uma organização da sociedade que não faz parte de um estado, e seus atos são justamente contra os governantes, ele é chamado de comunal.

Atentado do onze de setembro

O atentado do onze de setembro que atingiu as torres gêmeas em Nova Iorque, nos Estados Unidos, é o maior marco quando falamos de terrorismo. A partir dele houve uma série de outros atentados, além de retaliações e invasões americanas em territórios como Iraque e Afeganistão. 

Soma-se isso ao terror causado no mundo, com a imagem chocante de dois aviões indo de encontro aos prédios, matando quase três mil pessoas. O atentado mudou o curso da história, gerando maior atenção à segurança, aumento de tecnologia de defesa e de vigilância e trazendo à tona a islamofobia.

O grupo que reivindicou a autoria dos ataques desse dia foi a Al-Qaeda, do terrorista mundialmente conhecido após o acontecimento, Osama Bin Laden. Com isso, os Estados Unidos passaram a ter um alvo bem claro para atacar e buscar sua destruição.

Saulo Takami, professor de Geografia do Estratégia Vestibulares, comenta sobre como as relações internacionais foram afetadas após o atentado. “As fronteiras começaram a ficar cada vez mais vigiadas, os aeroportos cada vez mais monitorados e a tecnologia da segurança deu um salto nesse período, tanto virtual como real”.

“Algumas nações começaram a ter um certo receio em negociar com países islâmicos, não pelo fato da transação, mas que talvez poderiam ter algum tipo de sanção por parte dos EUA”, explica o professor já indicando um movimento de contra-ataque estadunidense.

Outros atentados terroristas

O onze de setembro despertou uma onda de atentados terroristas, principalmente em capitais e grandes cidades da Europa. Em 2004, houve um atentado em Madri que atingiu diversas estações de trens, e matou 190 pessoas, com mais de 2000 feridos.

No mesmo ano, na Rússia, houve o massacre de Beslan, em que um grupo fez 1200 reféns em uma escola, e acabou com 330 mortes. Um ano depois, em Londres, diversas explosões em estações de metrô mataram cerca de 50 pessoas, com mais de 700 feridos.

Cinco anos depois, em Moscou, terroristas chechenos explodiram locais da cidade matando 39 pessoas. Meses mais tarde, a casa de shows Bataclan foi um dos alvos de terroristas na capital francesa, deixando 137 mortos e mais de 400 feridos.

Islamofobia

Conforme grupos extremistas islâmicos foram assumindo alguns desses ataques, somado ao onze de setembro, uma onda de repulsa ao islamismo ganhou força no mundo ocidental. A chamada islamofobia e seu aumento de casos é um dos reflexos notados desde então.

Filmes sobre a temática do terrorismo, charges, como as do Charlie Hebdo, e outros tipos de produções culturais mostram como a mídia e, de certo modo, as artes e a indústria cultural podem moldar o pensamento das massas. Saulo pontua sobre o assunto.

“A islamofobia existe, principalmente, por causa dos EUA, haja vista que por meio da publicidade, sobretudo cinematográfica, começou a tratar os muçulmanos como terroristas, tanto é que muitas pessoas ao verem alguém com uma vestimenta típica do Oriente Médio, automaticamente associa com homem-bomba”.

Talibã e Al-Qaeda

O Talibã é um grupo terrorista formado por fundamentalistas islâmicos no Afeganistão, e foi um dos alvos dos ataques estadunidenses após o onze de setembro por dar cobertura à Al-Qaeda em territórios montanhosos da região. A invasão dos Estados Unidos no território afegão durou 20 anos, e terminou no dia onze de setembro de 2021, quando tropas americanas e da Otan se retiraram da região.

Saulo comenta sobre o grupo e seu surgimento. “[O Talibã] É visto como uma ameaça ao bem-estar da população afegã, uma vez que é um grupo formado por ex-combatentes que lutaram contra a força soviética na década de 1980. Assim, a instauração de um regime totalitário, ou algo perto disso, é mais fácil de acontecer”.

Atualmente, o Afeganistão está sob poder do Talibã, que já suprimiu uma série de liberdades individuais de mulheres e outros grupos minoritários. Até o presente momento, civis afegãos seguem tentando sair do país em busca de refúgio em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil.

Terrorismo de Estado

Ao assumir o poder, o Talibã passou a exercer o que é caracterizado por terrorismo de Estado, já citado acima. Atualmente são vários países ou grupos que são oprimidos pelo seu governo, mas que não necessariamente recebem tal alcunha.

Assim são constituídas diversas ditaduras no continente africano, no Afeganistão e em países do Oriente Médio e em outras porções do mundo. Há grupos oprimidos pelo governo na Turquia, Leste Europeu, Belarus… E tiranias como a da Coreia do Norte, em que o país foi dividido e atualmente a população vive sob um regime totalitarista e extremista.

Saulo explica as associações entre os termos. “É difícil não associar o terrorismo ao extremismo. Dessa forma, se essa característica ascende ao poder, fará com que a população viva em um regime tirânico. Como é o caso da Coreia do Norte, por exemplo”.

Estado Islâmico e suas estratégias de divulgação

O Estado Islâmico (Isis) incluiu estratégias modernas em seu modo de fazer terrorismo, com vídeos e publicações produzidos pelo próprios membros e divulgados via internet. A intenção é trazer o terror para mais pessoas em atos que até então eram considerados isolados.

Além disso, o grupo conseguia, por meio das publicações, cativar possíveis novos membros, como explica Saulo. “Com o uso da internet, os grupos terroristas passaram a ter um número muito maior de seguidores, simpatizantes e participantes, ativamente ou não. Isso fez com que os atos terroristas ficassem mais organizados e difundidos ao redor do mundo, em outras palavras, a internet contribuiu para que eles crescessem”.

O Isis é um outro grupo fundamentalista religioso islâmico, que tem como intenção estabelecer um califado nas regiões de maioria sunita dos territórios da Síria e Iraque. Uma das marcas do grupo foi o fato de que eles destruíram monumentos históricos. O professor explica as motivações do grupo.

“O fato de destruir monumentos, principalmente religiosos, diz respeito ao fato de que se não for referente ao Islamismo, está errado. Vale ressaltar que outras religiões também já tiveram uma conduta radical”. Ao todo, mais de 13 locais históricos foram destruídos pelo Estado Islâmico, muitos filmados e publicados on-line.

“É importante salientar também que a destruição pode estar ligada à mudança, no caso, convencer as pessoas a se converterem ao Islamismo. Então, tanto a internet como esses atos contribuem para fortalecer o terrorismo. A linha entre terrorismo e Islamismo é muito tênue, muitas pessoas levam como sinônimo”, pontua Saulo sobre as intenções do grupo.

Ditadura brasileira

O exemplo mais recente próximo ao terrorismo de estado que ocorreu no Brasil foi a ditadura implantada em 1964, quando militares tomaram o poder e permaneceram lá por mais de duas décadas. Nesse período, diversos ataques, torturas e ameaças aconteceram para suprimir e calar vozes contrárias ao regime, além de exílios por parte de pessoas que estiveram em perigo no período.

A ditadura não é considerada um exemplo de terrorismo, mas tem características que denotam o termo, “haja vista que os militares tomaram o poder, muitas pessoas foram violentadas, mortas e algumas desaparecidas”, completa Saulo.

Lei Antiterrorismo (nº 13.260/2016)

A Lei Antiterrorismo (n° 13.260/2016) foi sancionada pela então presidenta Dilma Rousseff, em março de 2016. Seu intuito foi proteger e conter atos violentos nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. Em seu texto, a Lei considera que:

“O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública”.

Além disso, ela classifica que seriam atos de terrorismo “usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa”.

Ao longo do tempo, a Lei passou a sofrer propostas de endurecimento, visando incluir trechos que foram vetados por Dilma na época de sua sanção, ou até mesmo reescrever novos pontos, o que gerou debates sobre ela se tornar um instrumento do governo para reprimir práticas vistas como manifestações.

Uma das motivações para o retorno dessa discussão à esfera política foi porque o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), disse, em live no Facebook, que movimentos como o Movimento Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) deveriam ser considerados terroristas.

A Lei não sofreu nenhuma alteração, mas o temor de uma parte da sociedade era de que movimentos sociais pudessem ser criminalizados e encaixados na Lei, sendo, então, considerados terroristas.

Por outro lado, muitos consideravam que a inclusão de novos trechos poderiam trazer uma maior segurança pública ao país. Dentre os pontos tocados por ambos os lados, estão os de ataques à liberdade de expressão e à democracia brasileira.

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