O descobrimento do Brasil estava entrelaçado com o contexto histórico da época: grandes navegações, estabelecimento dos Estados modernos e eurocentrismo. Diante dessa perspectiva, o quinhentismo foi a arte produzida em solo brasileiro que retrata o período de encontro e colonização das terras brasileiras.
Inclusive, a carta de Pero Vaz Caminha foi produzida nesse cenário e está na lista obrigatória do vestibular da Unicamp nos anos de 2022 e 2023. No Enem, o assunto pode aparecer em questões de artes. E então, vamos aprender um pouco mais sobre quinhentismo?
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O que é o quinhentismo?
É considerado um movimento literário e histórico próprio do descobrimento do Brasil. As obras dessa época são projeções da visão europeia sobre o território — eram escritos sobre o Brasil mas não são propriamente produção brasileira.
Os principais textos encontrados tinham o objetivo de informar os estrangeiros sobre a fauna, a flora, o solo e os humanos encontrados na nova terra. Por isso, havia um forte caráter descritivo e muitos consideram uma “literatura de informação”.
Como o nome sugere, o desapontamento dessa escola literária está associado aos anos 1500 (ou século XVI). Na história da literatura portuguesa, o movimento paralelo ao quinhentismo é o classicismo.
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Classificação do quinhentismo
Conforme as características dos achados, foi possível classificar os textos quinhentistas em dois grandes grupos, que se diferem pelo objetivo da escrita e pelo conteúdo encontrado.
Literatura informacional
São obras que possuem grande caráter histórico e são importantes para compreender a visão do colonizador sobre a nossa terra desde seu primeiro contato com ela.
A principal obra informacional é Carta do Achamento escrita por Pero Vaz Caminha, o escrivão oficial da caravana liderada por Pedro Álvares Cabral. Por meio de uma narrativa descritiva, com cunho subjetivo, o autor apresenta os primeiros contatos e impressões após o desembarque no Brasil.
O termo informacional indica que esses documentos eram direcionados à metrópole portuguesa. A partir deles, os portugueses tomavam atitudes perante o território brasileiro — é notável o interesse mercantilista dos europeus. Veja um trecho:
“Porém um deles pôs olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal como se lá também houvesse prata.”
Perceba como o autor cita os metais preciosos e interpreta os sinais indígenas conforme sua ânsia pelo metalismo. Evidencia-se um choque cultural entre as linguagens, que causam uma comunicação ruidosa e pouco certeira.
De um olhar eurocêntrico, Caminha descreve moralmente os costumes de vestimenta e símbolos ritualísticos dos nossos antepassados, como no exemplo:
“Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber. “
Literatura jesuítica
A outra vertente quinhentista reconhecida pelos estudiosos é denominada de literatura jesuítica. De caráter cristão e eurocêntrico, representa o choque entre as crenças religiosas europeias e os costumes indígenas.
Em meio ao contexto histórico da Contra Reforma católica, os padres jesuítas vinham ao território brasileiro com a missão de catequizar os povos nativos. Por isso, essas obras apresentam um aspecto didático e religioso.
As canções, poemas, autos, sermões transmitiam o cerne da fé católica por meio de uma métrica simples e melódica.
Um famoso autor da literatura catequética é o padre espanhol José de Anchieta, que envolveu-se na catequização dos nativos brasileiros e defendeu esse povo nas explorações portuguesas.
O contato íntimo entre o padre e os indígenas impulsionou o religioso a debruçar-se sobre a gramática tupi-guarani em seu livro “Arte de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil” — obra publicada em Portugal no ano de 1995.
Já o Padre Manoel de Nóbrega é outro escritor jesuíta, de origem portuguesa, participou da primeira missa realizada no Brasil — além de estar presente na criação das cidades litorâneas do Rio de Janeiro e Salvador.
+ Veja também: Reformas Religiosas: protestante, contrarreforma e mais
Importância do quinhentismo
Perceba que, conforme as características citadas anteriormente, o quinhentismo está intimamente relacionado com a efetividade da colonização europeia sobre o Brasil. Afinal, a dominação portuguesa perpassou as necessidades mercantis e atribuições católicas.
As informações, descrições e descobertas sobre a nova terra chegaram à Metrópole e aguçaram o interesse português sobre o território. Ao mesmo tempo, a colonização religiosa implementada pelas missões jesuíticas reforçaram o domínio dos europeus sobre os nativos.
Questões de quinhentismo no Enem
Veja abaixo, um exemplo de como o tema quinhentismo pode aparecer nas provas de vestibular. Não deixe de conferir a resolução proposta pelo time do Estratégia.
ENEM 2013
TEXTO I
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam todos tão bem-dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam.
CASTRO, S. “A carta de Pero Vaz de Caminha”. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).
TEXTO II
Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que
a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária.
b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna.
c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.
d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes — verbal e não verbal —, cumprem a mesma função social e artística.
e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momentos histórico, retratando a colonização.
No texto I, observa-se o olhar do europeu colonizador sobre os povos nativos que descreve os movimentos e trejeitos dos indígenas — como demonstra a legenda o fragmento foi retirado de um documento clássico do movimento quinhentista.
Já o texto II, é uma obra pintada no ano de 1956, muito tempo depois da chegada dos portugueses no Brasil. O foco principal de Cândido Portinari é a percepção dos nativos perante os visitantes — inquietação notável na observação dos dedos que apontam os indivíduos e no posicionamento corporal dos indígenas.
Dessa forma, a alternativa correta é a letra C.
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