Filosofia da Ciência: como é a produção do conhecimento científico

Filosofia da Ciência: como é a produção do conhecimento científico

Entenda mais sobre o processo de construção do conhecimento científico, o que é ciência e como ela é produzida atualmente

Pode-se definir a filosofia da ciência como um ramo da filosofia que tenta compreender os fundamentos, os métodos e as consequências da ciência. Buscando entender os processos ligados ao progresso científico e suas limitações, o objetivo da filosofia científica é fazer uma análise criteriosa sobre a maneira que o conhecimento científico é produzido, validado e aplicado.

Além disso, a filosofia da ciência traz reflexões sobre o que é a própria ciência, sobre como o conhecimento científico é produzido, abordando sobre a relação da ciência com a realidade e como distinguir da pseudociência.

Desde a Grécia Antiga a filosofia faz reflexões sobre a ciência e usam como alicerce de suas ideias o pensamento racional e sistemático. Aristóteles, por exemplo, desenvolveu uma ideia de ciência baseada na lógica e na observação da natureza. 

Apesar da forte influência do pensamento teológico durante a Idade Média, que procurava a  razão no divino, o Renascentismo que veio logo em seguida ressurgiu com a abordagem racionalista e empírica trazendo o surgimento do método científico moderno.

A seguir podemos verificar alguns dos pensadores que desenvolveram suas ideias sobre a Filosofia da Ciência:

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Auguste Comte e o movimento positivista

Sendo fundador do positivismo, o francês Auguste Comte, influenciado pelas transformações advindas da Revolução Industrial como o crescimento urbano, novas tecnologias e as mudanças sociais, desenvolveu seu pensamento refletindo sobre a busca de ordem e progresso em meio a instabilidade econômica e política das revoluções.

Ele foi responsável por propor uma hierarquia das ciências, organizando as áreas de conhecimento das mais simples a mais complexa, e por descrever a evolução do pensamento humano a partir do que ele denominou como Lei dos Três Estágios:

  1. Estágio Teológico: quando o homem explica o mundo se baseando em mitos e crenças;
  2. Estágio Metafísico: uma nova interpretação dos fenômenos baseado em conceitos filosóficos e abstratos; e
  3. Estágio Positivo: o conhecimento se baseia na observação, experimentação e em conhecimentos científicos.

O positivismo de Comte se inspirou em movimentos modernistas e reformas sociais que se apoiavam no empirismo, tendo forte influência na ciência política, observamos até no Brasil a inclusão da frase “Ordem e Progresso” na bandeira nacional. 

Mesmo tendo deixado um legado importante na metodologia científica e na sociologia, mostrando que o conhecimento se debruça na experiência e na observação, o positivismo recebeu duras críticas pela sua limitação na observação, enquanto outros pensadores abordaram sobre o fato da ciência não evoluir linearmente e pela possibilidade de formular hipóteses falseáveis quando se baseia somente na observação.

Karl Popper e o Falsificacionismo

O positivismo lógico, como também era chamado o neopositivismo, surgiu no século XX com o Círculo de Viena, que era um grupo de cientistas e pensadores que defendiam somente proposições verificáveis empiricamente, aquelas que são verificadas por meio da observação, são significativas.

Popper rejeitou o positivismo, já que defendia que a ciência não avança somente pela verificação das hipóteses, além de criticar o problema da verificação das teorias, pois argumentava que apenas observar os experimentos não prova uma teoria. Ele ainda propôs que a ciência deveria se basear na falsificabilidade, onde para ser uma teoria científica, ela deve ser testada e refutada. 

De acordo com o pensador, a indução não garante a verdade da teoria científica, já que por mais que observações sejam feitas, não podemos comprovar que uma teoria será sempre verdadeira. 

Por exemplo, ao observar mil rosas vermelhas, por indução, se é concluído que todas as rosas são vermelhas. Contudo, é possível refutar essa dedução ao observar uma rosa branca.

A falsificabilidade definida por Popper, defendia que a teoria científica precisa ser testada continuamente, pois a ciência não busca teorias definitivas, e sim a melhor explicação da teoria, e que deve ser substituída caso seja refutada.

Como consequência deste pensamento, houveram algumas implicações que diferenciam a ciência da pseudociência. Enquanto a ciência formula hipóteses testáveis e que podem ser refutadas com experimentos ou novas descobertas, a pseudociência, como a astrologia, formula afirmações vagas e abertas a interpretações, assim não sendo possível testá-las de forma rigorosa.

Thomas Kuhn e os Paradigmas Científicos

Sendo responsável por revolucionar o entendimento do processo científico, ele foi o filósofo da ciência que introduziu o conceito de paradigma, que seria o conjunto de crenças aceitas por uma comunidade científica num determinado período. 

Crenças essas que podem ser refutadas com novas descobertas, já que ele defendia que a ciência não avança de forma linear e cumulativa, mas por mudanças repentinas das chamadas revoluções científicas.

No início do século XX, a visão tradicional da ciência começou a ser questionada, o surgimento da Teoria da Relatividade de Einstein e da mecânica quântica trouxe a necessidade de mudanças radicais em conceitos fundamentais na ciência, provando que ela não evolui linearmente.

Outro exemplo de paradigma na ciência foi a física aristotélica, que durante séculos explicou o movimento dos corpos se baseando na natureza, onde os objetos tendiam a se moverem ao seu lugar natural. Mas com o tempo, algumas argumentações se tornam insuficientes, a física newtoniana, por exemplo, veio posteriormente carregando explicações bem mais concisas. 

Cada área de estudo possui seus próprios paradigmas, e teorias científicas de diferentes paradigmas não podem ser comparadas, já que possuem seus próprios métodos e meios próprios de interpretação principalmente em diferentes épocas, essa ideia de incomensurabilidade foi criada pelo Thomas Kuhn, ao analisar comparativamente diferentes paradigmas.

Suas ideias geraram diversos debates sobre a ciência e a forma que ela avança, o que transformou a visão sobre a forma de construção do conhecimento, evidenciando a ciência como um conjunto de processos dinâmicos sujeitos a transformações históricas e sociais.

A filosofia da ciência nos dias atuais

Pelo decorrer do tempo, a filosofia da ciência foi se aprimorando e atualmente existem correntes que analisam a ciência por suas próprias óticas. As tendências contemporâneas da Filosofia da Ciência refletem a complexidade de se provar um conhecimento científico através do método científico atual, juntamente com a influência dos fatores sociais e filosóficos.

Apesar de normalmente os cientistas e filósofos defenderem a neutralidade da ciência, por ela buscar a verdade independente de outras questões. Ainda assim, mesmo baseada em métodos rigorosos, isso não garante a separação de valores. 

Algumas correntes argumentam sobre o foco de algumas questões que são pesquisadas, que podem ser influenciadas por interesses políticos e econômicos, como o financiamento de pesquisas sobre combustíveis fósseis, ou mesmo as teorias raciais do século XIX que buscavam justificar o colonialismo.

Questões sociais também influenciam fortemente o foco científico, como o tanto de tecnologia desenvolvida nos períodos de guerra, os avanços durante a corrida espacial, as questões morais, éticas e religiosas que permeiam as pesquisas genéticas.

Portanto, a ciência não é neutra, pois ela é desenvolvida por pessoas e financiada por organizações que possuem interesses próprios. A ciência ainda possui um papel na produção de conhecimento e tem responsabilidade social sobre o que ela produz.

A produção científica atual tem o desafio de equilibrar a construção de saberes com o impacto que a ciência tem na sociedade. Discussões sobre inteligência artificial, a biotecnologia, as mudanças climáticas e como lidar com as crises globais, além das novas descobertas e das transformações sociais são amplamente abordadas sobre várias perspectivas.

Com o poder de moldar a realidade e o futuro, o avanço científico deve estar sempre alinhado à expectativa humana com boas reflexões éticas e políticas para garantir o desenvolvimento sustentável e acessível.

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