Durante o século XIX, palco de radicais transformações sociais, políticas e tecnológicas advindas da revolução industrial e da consolidação da ordem social burguesa, a metafísica teve de se adaptar para atender às demandas de um novo molde de mundo moderno.
Seguindo as tendências desse tempo histórico, portanto, a filosofia passou a conduzir abordagens críticas voltadas para a história, os valores e à existência em si, de modo a não tornar-se obsoleta.
Devido às grandes mudanças, a metafísica teve que ser transformada para atender as novas origens do mundo moderno e fazer abordagens críticas ligadas à existência, a crítica de valores e a história, de modo a não se deixar ser obsoleta.
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Cenário histórico
Num momento de grandes mudanças históricas, políticas e sociais, os filósofos no século XIX tinham de refletir sobre a nova realidade vigente e o novo papel da razão.
A Revolução Industrial transformou toda a economia e a estrutura social na Europa, ocasionando o surgimento de grandes cidades, de novos maquinários e até uma nova divisão social do trabalho, que trouxe consigo a classe operária.
Nesse novo quadro de avanços científicos e tecnológicos, os pensadores começaram a questionar a metafísica tradicional, já que ela procurava verdades imutáveis.
Além das revoluções, o novo ambiente intelectual proveniente dos avanços nos estudos das ciências naturais e as movimentações sociopolíticas, que inflaram o pensamento socialista e operário, geraram reflexões filosóficas voltadas ao empirismo e à nova condição humana que criticavam a metafísica tradicional.
Juntamente a isso, o conflito entre razão e fé aprofundou as críticas, forçando a metafísica ser repensada, deixar de ser o “saber supremo” e abrindo para novas vertentes como o existencialismo, o niilismo e a filosofia da ciência.
Reações à Metafísica tradicional
Em resposta às novas questões que surgiram no século XIX, Auguste Comte, fundador do positivismo, considerou que a metafísica deveria ser algo a ser superado, enxergando-a como especulativa e improdutiva de pensamento, já que abordava coisas imutáveis, como a realidade dos seres. Para ele, só a ciência empírica poderia conceder saberes úteis à sociedade.
Ainda na mesma onda de transformações, surgiu o materialismo em oposição ao idealismo metafísico. Feuerbach, por exemplo, defendia que a realidade está no corpo, nos sentidos e na natureza humana concreta, rejeitando a ideia que mundo das ideias está acima do material.
Para Marx, a metafísica idealista serve para alienação das pessoas, afastando-as da realidade de sua exploração, oferecendo refúgios abstratos, como a religião ou a ideia de predestinação, algo que contribui para a manutenção do status quo, desviando a atenção das reais causas das desigualdades.
Novos olhares sobre a metafísica
O Idealismo Alemão trouxe novas perspectivas sobre a metafísica, buscando as verdades absolutas na razão e na consciência. Na obra Crítica da Razão Pura, Kant defende que a metafísica deve procurar os limites e condições do conhecimento humano, e Fichte, se baseando nele, afirmou que o Ser é a origem da realidade, não o essencialismo tradicional.
Essa nova metafísica trouxe junto a ela algumas vertentes de pensamento. Kierkegaard, precursor do existencialismo e crítico da metafísica hegeliana, defendia uma filosofia da existência concreta, onde a verdade é subjetiva e não uma estrutura racional externa.
Para Nietzsche, a metafísica foi uma invenção humana para alienar-se da realidade. Criticando as ideias de Platão, considerou que o mundo ideal apenas desvalorizava o mundo sensível.
O niilismo defendido por ele, se pauta em não haver verdades imutáveis como na metafísica. Além disso, ele propõe uma reanálise dos valores tradicionais baseados no juízo de valor próprio e não baseado na religiosidade.
A Metafísica e as ciências
Os avanços científicos durante o século XIX, ocasionaram grandes impactos na metafísica, ela que antes se apoiava nos princípios racionais passou a ter que lidar com novas tecnologias e maneiras de entender o mundo.
A física newtoniana fornecia uma visão mecânica e determinista do universo, inspirando abordagens metafísicas materialistas. Com a descoberta do eletromagnetismo, começou-se a questionar a visão puramente mecânica abrindo para novos pensamentos.
A teoria da evolução e as descobertas de Darwin levaram a uma busca por novas análises filosóficas da vida e da natureza do Homem, revelando os limites da metafísica tradicional e desafiando as teorias teológicas da época sobre a origem da vida.
Muitos eram os embates entre o mecanicismo e o vitalismo acerca da natureza da vida, junto com os novos pressupostos de metafísica. O vitalismo argumenta que a vide não pode se resumir às leis físicas e químicas, defende a existência de uma “força vital” que diferencia os seres vivos do restante. Em contraponto, o mecanicismo defende que todos os fenômenos biológicos podem ser explicados a partir da química e da física, as mesmas leis que regem a matéria inanimada.
Questões metafísicas no século XIX
Com as novas descobertas científicas, a visão determinista do mundo foi imposta, consolidando um olhar segundo o qual todos os eventos são causados pelas leis da natureza, imutáveis. Desta forma, surgem novos questionamentos, como por exemplo:
- Se tudo já é determinado, o homem tem liberdade? Apesar de o determinismos parecer que exclui o livre-arbítrio, pensadores tentaram responder tal questionamento com a argumentação de compreender a liberdade como agir pela própria vontade apesar das causas naturais que isso implica;
- Como a história influencia a compreensão da realidade e do ser? Através das ideias de Nietzsche, Marx e Hegel, surge a ideia de que o entendimento da realidade está condicionado ao tempo, cultura e contexto histórico e social ao qual os indivíduos estão alocados; e
- Como a fragmentação do sujeito moderno impacta a metafísica? Numa perspectiva mais psicológica que adentrou as discussões sobre a metafísica a partir da nova colocação do sujeito trazida pelos novos conhecimentos do século XIX, autores como Nietzsche e Freud falam sobre a morte do sujeito, sobre a inconsciência e a construção do ser através de suas vivências. Levando o pensamento metafísico a ser mais preocupado com relações, estruturas e processos no lugar de ser centrado no sujeito.
Legado da Metafísica do Século XIX
A ruptura promovida pela metafísica do século XIX com seu passado idealista persiste até os dias de hoje. As críticas tecidas à metafísica tradicional por pensadores como Marx, Schopenhauer e Kierkegaard. Esses autores passaram a valorizar a historicidade, a subjetividade e a vontade como elementos centrais para a reflexão filosófica.
Por conta da mudança focal do objeto de estudo, correntes filosóficas como o existencialismo, o pós-estruturalismo e a fenomenologia surgiram. Mesmo com as fortes críticas à metafísica não foi descartada.
Muito de seu cerne continuou a ser discutido, mesmo que por novas perspectivas. Na nova metafísica abriu discussão para temas como o espaço, tempo, causalidade e a realidade, mas com um viés dos conhecimentos descobertos na época sobre áreas como física, biologia e psicologia.
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