Nietzsche e a anti-metafísica: ascríticas e suas consequências

Nietzsche e a anti-metafísica: ascríticas e suas consequências

Entenda mais sobre as ideias de Nietzsche, como ele compreendia o conceito, suas críticas a metafísica e as consequências

Para entendermos mais sobre a anti-metafísica, precisamos saber melhor quem foi Nietzsche e quais foram seus ideais. Sendo precursor do existencialismo, suas ideias foram de grande importância para a psicologia, artes e para a literatura. 

As críticas do filósofo tiveram grande impacto na contemporaneidade e influenciaram diversas correntes intelectuais. Confira mais sobre o tema e sua importância nos vestibulares no artigo abaixo.

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O que é metafísica para Nietzsche

Para Friedrich Nietzsche, a metafísica seria o conjunto de crenças e valores que determinam e moldam a realidade, criando uma visão de mundo que compreenda a própria existência, sendo assim, um meio de adequar a realidade para justificar certas ideologias, interesses, modos de vidas, entre outras coisas.

A metafísica de Platão descreve uma visão de dois mundos, o mundo sensível, que é a realidade palpável que vemos, e o mundo das ideias, onde as coisas são idealizadas, perfeitas e imutáveis. Suas ideias foram fortemente influentes na filosofia ocidental.

Nietzsche, se baseando em Platão, enxergava a metafísica como uma forma de “platonismo”, onde as pessoas buscavam significado para as coisas fora do próprio mundo, essa crença seria uma negação da vida, negando a experimentação do próprio mundo para construção de valores, servindo assim até como uma forma de controle.

Pode-se notar a influência da metafísica em diversos âmbitos, como a:

  • Religião: a promessa de um mundo perfeito no Reino Divino, que seria uma recompensa por uma vida baseada na moralidade cristã, que seria o mundo ideal e perfeito, e o mundo sensível é colocado como imperfeito e mundano;
  • Moral: a moral cristã que define conceitos imutáveis e universais de bem e mal, para Nietzsche era uma forma de controle, pois impunha uma visão sobre as percepções individuais dos acontecimentos; e
  • Ciência: de acordo com o pensador, a ciência se embasava na metafísica por uma crença que a razão pura é suficiente para entender toda complexidade do universo.

A base da crítica à metafísica

A crítica de Nietzsche à metafísica platônica e cristã, além da crítica a outros valores da cultura ocidental, está fundamentada nas influências que teve para construção de suas ideias e de sua visão sobre moral e razão. 

O filósofo pessimista, Schopenhauer, apresenta uma ideia de “metafísica da vontade”, que leva as pessoas a serem destrutivas e constantemente insatisfeitas, onde a vontade é uma força negativa e para escapar dela é preciso negar a vida, assim renunciando da vontade. 

Nietzsche, mesmo influenciado por este pensador, rejeitou que a vontade é somente negativa e formulou a vontade de poder, como uma força positiva. No seu conceito, mesmo havendo ainda o sofrimento, ele ocorre para que exista um crescimento e superação.

Ele ainda defende que, a razão não é suficiente para alcançar a verdade absoluta, ela se relacionaria ao mundo ideal, servindo como instrumento de poder, para controle da realidade. Contudo, o pensador defende que não existem verdades absolutas, pois a verdade é subjetiva dada a percepção individual, assim atrapalhando a compreensão do mundo.

As principais críticas de Nietzsche

O pensador teceu suas críticas se apoiando na ideia que, na época, utilizavam de recursos como moral, religião e metafísica para reprimir instintos humanos, o que impedia o desenvolvimento de uma moral própria. 

A “morte de Deus”

A icônica frase “Deus está morto” se refere a ascensão da ciência e do pensamento crítico. Com este levante, a verdade que fundamentava o mundo, que seria “Deus”, perdeu seu espaço trazendo um grande vazio. Assim, a moralidade tradicional perde seu valor e para Nietzsche, é a chance do homem criar seus próprios valores de vida, sem depender da metafísica tradicional.

Niilismo

Seria a própria consequência da “morte de Deus”, o vazio existencial, a perda dos valores tradicionais, a falta de alicerce para a compreensão do mundo após a ascensão da ciência. O niilismo pode ser superado com uma nova valoração proveniente das próprias experiências pessoais, levando a uma nova filosofia de vida.

Crítica aos ídolos

Os ídolos mais criticados são a moral cristã, a razão pura, a verdade absoluta e a figura de um Deus transcendental, por serem figuras veneradas, elas impedem o indivíduo de viver plenamente, pois limitam a criação dos valores próprios, já que o indivíduo vive pela crença nos valores tradicionais.

Vontade de poder

Sendo o conceito central da filosofia de Nietzsche, a vontade de poder vai de encontro com a metafísica da vontade e da negação à vida. É definida como uma força fundamental que leva as pessoas a quebrar limitações próprias, a se movimentarem e auto afirmar, ultrapassando a moralidade tradicional, usando de si mesmos para criarem os próprios valores.

Eterno Retorno

Se baseando num experimento mental, o pensador sugere que “se você tivesse que viver sua vida exatamente da mesma forma, repetidamente, por toda a eternidade, como você viveria?”. Desafiando a finalidade da vida baseada na crença cristã, propondo o indivíduo a pensar como ele viveria sem arrependimentos já que teria que reviver depois da mesma forma ciclicamente.

A anti-metafísica de Nietzsche

A importância da anti-metafísica se dá pela negação da estrutura tradicional de crença em valores universais, e em verdades absolutas, e coloca em pauta a individualidade e uma filosofia baseada nos valores próprios.

A transvaloração de todos os valores

A transvaloração proposta por Nietzsche, implica na transformação de todos os valores tradicionais, morais e religiosos do ocidente, que são considerados por ele como alienantes e repressivos. A moral cristã, por exemplo, defende que a submissão leva à salvação, acabando por negar a vida.

Para o filósofo, era necessário transformar os valores de modo que reconheçam a vida, com todas suas nuances de sentimentos, de forma afirmativa, impulsionando os indivíduos a criarem sozinhos a vontade de ser melhor que si mesmos, dando sentido próprio à vida.

A perspectiva genealógica

Criar uma genealogia, ou seja, mapear como as verdades absolutas e os valores tradicionais surgiram, verificar quais foram suas origens históricas e como se desenvolveram para moldar o pensamento. 

Este foi o método utilizado por Nietzsche na obra Genealogia da Moral, onde ele buscou o surgimento dos valores considerados absolutos e universais, como o “bem” e o “mal”. Além de buscar a origem, o pensador também buscou desconstruir os valores, para mostrar que não são sólidos e imutáveis, consequentemente sendo passíveis de transformações.

Afirmação da vida

Considerando a negação da vida pela metafísica, onde ocorre a busca incessante pelo mundo perfeito no além e considera o mundo mundano pecaminoso, o filósofo se opõe totalmente a essa perspectiva.

Ele sugere que na existência, as experiências, tanto positivas quanto as negativas, transformam a pessoa em quem ela precisa ser, sendo isso uma afirmação radical da vida em sua totalidade. Assim, o individualismo é construído e nele as pessoas constroem os próprios valores, sem a necessidade de se prenderem aos valores tradicionais.

As consequências da crítica de Nietzsche a metafísica

Seguindo sua influência, diversos pensadores como Sartre, Foucault e Heidegger, continuaram a fazer reflexões sobre o tradicionalismo, a moralidade e a própria existência, abordando o homem e sua busca pelo sentido da vida.

Ele teve grande impacto nas seguintes gerações, os conceitos criados pelo filósofo e sua rejeição às verdades absolutas o levaram a ser o ponto inicial do pensamento moderno e contemporâneo, suas discussões sobre subjetividade e negativa de normas ainda o fazem ser bastante estudado para questões culturais.

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