Temas transversais em filosofia contemporânea: análise do hoje

Temas transversais em filosofia contemporânea: análise do hoje

Aprenda mais sobre temas transversais, muito discutidos atualmente, e como esses eles contribuem na construção política da sociedade

A Filosofia Contemporânea se afasta da filosofia clássica e moderna, deixando de ser uma tentativa de criar grandes sistemas fechados que explicam “tudo”. Atualmente ela virou uma ferramenta de diagnóstico da sociedade em que vivemos.

Hoje, marcada pela transversalidade, ela transpassa a ética, a política, a sociologia e a tecnologia, formando uma teia de compreensão complexa. No artigo a seguir do Estratégia, abordaremos assuntos que dominam o debate público.

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O eixo ético-político: poder, identidade e liberdade 

O pensamento contemporâneo abandona a ideia de que o poder está centralizado nas mãos do Estado, ele investiga como o controle se distribui nas mãos da sociedade.

Michel Foucault promoveu uma revolução na teoria política ao afirmar que o poder não é uma “coisa” que alguém possui, mas sim uma relação dinâmica que se exerce em todos os lugares da vida social.

A chamada microfísica do poder explica como o poder do Estado (macropoder) só se sustenta porque é apoiado por uma rede de micropoderes. Esse poder está dividido nas instituições: na escola que controla o que é ensinado, no hospital que controla o corpo do doente, na fábrica que controla o operário e na família que molda o comportamento da criança.

Em Vigiar e Punir, Foucault utiliza o modelo do Panóptico, idealizado por Jeremy Bentham, para interpretar a sociedade moderna. O Panóptico é uma prisão circular com uma torre central de vigilância, na qual o vigia pode observar todos os presos sem ser visto. 

A principal consequência psicológica é a internalização do controle. Os indivíduos passam a se autodisciplinar, regulando seus próprios comportamentos por pensarem que estão sendo vigiados

Na sociedade atual, esse modelo se introduz no chamado Panóptico digital, visível nos algoritmos das redes sociais, no monitoramento de dados e na exposição constante do cotidiano nas plataformas digitais.

Já os conceitos de Biopoder e Biopolítica representam um nível ainda mais sofisticado da análise foucaultiana. Enquanto a disciplina controla o corpo individual, o biopoder atua sobre a população como um todo. 

Trata-se da gestão da vida pelo Estado, por meio do controle da natalidade, das taxas de mortalidade, das campanhas de vacinação, das políticas de higiene pública e da seguridade social, mostrando como o poder moderno não apenas reprime, mas administra e produz a vida.

Enquanto Foucault mapeava o poder, Jean-François Lyotard estudava a crise da verdade. Em A Condição Pós-Moderna, ele caracteriza o nosso tempo pela desconfiança em relação às Metanarrativas.

As Metanarrativas são grandes histórias usadas para interpretar a história e dar sentido ao mundo. O Iluminismo, por exemplo, associou a Razão à ideia de progresso e emancipação humana. Já o Cristianismo estruturou a compreensão histórica em torno da promessa de salvação.

Após as guerras mundiais e os acontecimentos do século XX, essa confiança nas grandes promessas entrou em colapso. A crença de que existe uma única explicação válida para tudo se enfraqueceu. Como consequência, ocorre a fragmentação do saber em múltiplas “pequenas narrativas”.

Essa teoria é chave para entender a era da Pós-Verdade e das Fake News. Se não existe mais uma “Verdade Universal” aceita por todos, vira uma questão de crença pessoal e validação em bolhas sociais. Isso ajuda a explicar a polarização e a disputa constante por versões da realidade.

O eixo cultural e tecnológico: a sociedade da imagem e do consumo

A Escola de Frankfurt, especialmente por meio de Theodor Adorno e Max Horkheimer, desenvolveu uma das críticas mais influentes à cultura moderna. Escrevendo no contexto do pós-guerra, eles cunharam o conceito de Indústria Cultural, que transformou a sociologia da cultura.

Segundo os autores, a arte, que deveria provocar choque, criticar e fazer reflexões, foi sequestrada pela lógica capitalista. Televisão, música pop e cinema passaram a ser produzidos como produtos em uma linha de montagem. Gerando fórmulas repetitivas, narrativas previsíveis e clichês. O principal objetivo não é mais produzir arte, mas sim lucrar.

Outra crítica central diz respeito ao lazer. Para a Escola de Frankfurt, o tempo livre deixou de ser um espaço de liberdade criativa e passou a funcionar como uma extensão do trabalho, servindo apenas para “recarregar as energias” antes de voltar à rotina.

Guy Debord radicaliza a crítica à cultura moderna com o conceito de Sociedade do Espetáculo, frequentemente associado às dinâmicas das redes sociais atuais, mas formulado na década de 1960.

Para ele, vivemos em uma sociedade em que as relações sociais são organizadas a partir da lógica do espetáculo, ou seja, da aparência. Inicialmente, a vida social era orientada pelo ser, que é a identidade e a experiência vivida.

Com o capitalismo industrial, essa lógica foi substituída pelo ter, onde o valor do indivíduo se baseia no que ele possui. Para a sociedade, não basta possuir, é necessário exibir o que se tem e receber o reconhecimento dos outros. Trata-se de uma relação social mediada por imagens, com uma necessidade de atenção.

Nesse contexto, a experiência direta perde seu valor, a vivência só parece completa quando é exibida. Assim, a vida cotidiana, com suas frustrações é ocultada em favor de uma vitrine cuidadosamente editada de felicidade perene.

O eixo da diferença e reconhecimento: a luta pelas identidades

Um assunto muito discutido na filosofia atual é o debate sobre quem tem direito de falar, de existir e de ser reconhecido como cidadão. Aqui, a filosofia encontra a sociologia e o ativismo.

A Filosofia Feminista e de Gênero, especialmente em Simone de Beauvoir, tem como marco central a frase “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, presente na obra O Segundo Sexo.

Beauvoir utiliza o existencialismo para argumentar que não existe uma “essência feminina” eterna nem uma determinação biológica. As características biológicas de sexo são um fato, mas não traduzem o que é ser mulher, o gênero é uma construção cultural, aprendida e imposta desde a infância por normas e papéis sociais.

Outro conceito central em sua filosofia é o de alteridade. Ela adapta a dialética do Senhor e do Escravo para analisar as relações entre homens e mulheres ao longo da história. Nesse processo, o homem é colocado como Sujeito, enquanto a mulher é colocada como o Outro.

Assim, a luta feminista, em termos filosóficos, é a luta para que a mulher deixe de ocupar a posição de “Outro” e se afirme como Sujeito de sua própria história, transcendendo a condição que lhe foi socialmente imposta.

Filósofos como Charles Taylor e Axel Honneth ampliam o debate para as dimensões racial e cultural por meio da política do reconhecimento. Eles tecem críticas ao universalismo abstrato do liberalismo clássico, que afirma que “todos são iguais perante a lei”.

Segundo o multiculturalismo, essa igualdade ignora questões estruturais e históricas. Tratar grupos desiguais como se fossem iguais pode perpetuar a desigualdade. Um Estado que ignora especificidades culturais impõe a cultura dominante como norma.

A filosofia como chave para a cidadania

Percorrendo esses temas da filosofia contemporânea fica evidente que não é só um exercício de abstração acadêmica, mas uma ferramenta para uma análise crítica dos padrões da sociedade.

O desafio é incorporar essas lentes filosóficas ao cotidiano. Ao ler uma notícia, ver um story ou acompanhar um debate, vale perguntar: que microfísica do poder atua aqui? Isso é realidade ou espetáculo? Quem está sendo silenciado ou transformado em “Outro”?

Mais do que teorias abstratas, os conceitos abordados oferecem instrumentos para interpretar a realidade, questionar discursos naturalizados e compreender as dinâmicas de poder, exclusão e representação que moldam a vida social.

Assim, a filosofia contemporânea se afirma como chave para o exercício pleno da cidadania e o indivíduo fortalece sua autonomia, sendo mais político e ajudando na construção de uma sociedade mais justa e democrática.

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