Plano real: contexto histórico, moeda e características

Plano real: contexto histórico, moeda e características

O século XX foi marcado por diversas mudanças na moeda brasileira com o objetivo de melhorar as questões financeiras do país. Nesse período, foram criadas diferentes estratégias para alterar o dinheiro e, assim, combater a inflação. O Plano Real foi a última dessas empreitadas, e parte dele perdura até os dias atuais. Continue lendo e saiba mais sobre quando, por meio de quem e como foi criado e aplicado esse plano monetário.

Contexto histórico do Plano Real 

O Plano Real é, antes de tudo, um conjunto de medidas para alterar a economia brasileira, propostas durante o governo do presidente Itamar Franco, durante seu mandato na década de 90, e que foram aplicadas no governo seguinte, de Fernando Henrique Cardoso, que era ministro da Fazenda de Itamar.

Dívida externa

Durante o século XX, diferentes governos brasileiros implementaram melhorias no país às custas de dívidas com outros países. Os empréstimos estavam em acumulação desde a Era Vargas, ainda na década de 1930. 

A intenção dos governantes era trazer desenvolvimento econômico e social para o país, geralmente por meio de novas tecnologias e industrialização. Mas, para fazer isso, sempre recorriam ao capital externo, notadamente dos Estados Unidos da América. 

Na década de 1950, o presidente Juscelino Kubitschek iniciou uma estratégia de desenvolvimento conhecida como Plano de Metas, que buscava um crescimento econômico e tecnológico para o Brasil com base no slogan “50 anos em 5”, ou seja, um rápido progresso em um curto período de tempo. Novamente, todo o investimento era baseado em dívidas externas. 

Neste ponto já fica evidente que o Brasil estava em uma crescente bola de neve, porque embora as ideias estivessem em funcionamento, ainda não eram suficientes para cobrir os débitos com os outros países.

Pouco tempo depois, houve o golpe militar de 1964, que iniciou o período de ditadura no país. Durante todos os anos de repressão social e cultural, a evolução financeira do país era notável, inclusive pela própria população. Muitos historiadores consideram essa fase como um milagre econômico.

Entretanto, como uma herança de pensamento dos governantes anteriores, tudo isso estava baseado em dívidas públicas cada vez mais extensas. Em termos sociais as coisas começaram a se agravar, com a desigualdade entre as classes em constante acentuação. 

+ Veja também: Regime militar: período brasileiro entre 1964 e 1985

Crise internacional

Na década de 1970, houve ainda uma crise internacional envolvendo os países petrolíferos do Oriente Médio, o que atingiu as grandes potências, entre elas os Estados Unidos e outros países que faziam empréstimo para o Brasil. Pouco a pouco, então, a possibilidade de conquistar mais dinheiro emprestado e seguir com o “falso crescimento” diminuía. 

Ao mesmo tempo, outros países latino americanos já demonstravam dificuldade em arcar com os compromissos econômicos firmados, abrindo mão do pagamento de dívidas externas ou adiando esse processo. Assim, a liberdade de concessão financeira para o Brasil já estava escassa.

Inflação exponencial

No contexto social, essa situação piorou quando o governo já não investia mais nas questões básicas e a moeda brasileira entrou em processo de desvalorização exponencial. Em curtos períodos de tempo, o poder de compra decaia absurdamente.

Dados apontam que a inflação chegou ao ponto dos milhares porcentuais. Houveram tempos em que um produto comprado por x passaria a custar 50x em menos de um ano. Essa variação não era seletiva, então afetava também o comércio alimentício e essa diferença passou a ser notória na nutrição dos cidadãos.

Como é de praxe dentro do capitalismo e suas crises, os problemas atingiam com maior severidade as classes sociais com menor poder aquisitivo. Afinal, boa parte dos produtos alimentícios principais, que compõem uma cesta básica, por exemplo, sofreram grandes altas de preço depois de um tempo do processo inflacionário.

Ao mesmo tempo, os próprios governos federais, estaduais e municipais tinham dificuldades em executar quaisquer investimentos no território. Como a variação de valores era intensa e quase diária, um orçamento para a educação proposto em julho já não seria suficiente no mês de outubro, então as verbas nunca seriam suficientes para atender as demandas dos cidadãos.

Diante de todo esse rebuliço social e econômico, que também enfraquecia os poderes governamentais, foram criados mais de dez planos monetários durante o século XX, em vista de corrigir esses danos causados pela dívida externa e a má reputação no cenário mundial.

Outros planos econômicos

Antes de acontecer o Plano Real, uma medida eficaz contra o processo inflacionário que ocorria no país, diversas outras estratégias foram criadas. Inclusive, uma delas incluiu o confisco dos valores que estavam na poupança dos brasileiros. 

Como tratava-se de bens privados e de posse dos cidadãos, isso causou uma imensa revolta social que, inclusive, ainda é citada por muitos indivíduos que foram diretamente afetados por esse acontecimento. A situação foi tão agravada que o presidente envolvido nesse plano, Fernando Collor de Mello, sofreu um impeachment em favor de seu vice-presidente, Itamar Franco.

O Plano Real

É importante destacar que o Plano Real tem uma forte influência do neoliberalismo, que foi uma forma econômica proposta durante o Consenso de Washington. Este foi um documento firmado em uma reunião entre diferentes órgãos e instituições financeiras que buscavam soluções para os países em desenvolvimento que tinham algum problema no âmbito econômico, notadamente os territórios latinoamericanos.

No modelo neoliberalista o Estado e as instituições financeiras como os bancos tinham menor influência sobre as questões econômicas. Em geral, utiliza-se uma nova forma de “mão livre do mercado”, baseada em princípios reformados do liberalismo de Adam Smith.

Durante o governo de Itamar Franco, foi eleito um ministro da Fazenda chamado Fernando Henrique Cardoso, que seria presidente do país alguns anos depois. Com seu cargo de grande importância econômica, o político ficou responsável por coordenar grande parte do Plano Real, 

Juntamente a outros grandes nomes da economia e política, eles desenvolveram três fases de ajustes para controlar a hiperinflação no país. Diferentemente do que acontecia nos outros modelos de intervenção, o Plano Real focou em solucionar as causas principais da hiperinflação, e não em simplesmente minimizar os efeitos do problema.

Características do Plano Real 

Foi necessário um ajuste fiscal, para criar um fundo de reserva para as áreas de educação e saúde, consideradas essenciais. Ao mesmo tempo, seria possível remanejar esses valores, sem a rigidez de um plano orçamentário, que estava em constante sofrimento com a hiperinflação brasileira. 

Os gastos não obrigatórios também foram cortados ou reduzidos, ao mesmo tempo em que os impostos eram reduzidos, com o objetivo de regular as entradas e saídas no caixa governamental — algo indispensável para alcançar qualquer êxito econômico no Plano.

A criação da moeda Real teve o objetivo de regular as taxas de inflação, com base no valor do dólar. Então, pouco a pouco, os efeitos da inflação eram menores diante da população e a desigualdade social, embora se mantivesse, já não estava tão acentuada. Agora, havia mais condições de sobrevivência até mesmo para a população mais vulnerável. 

O Plano foi tão promissor na sociedade brasileira que, diante de um contexto político de abertura política, reimplantação do governo republicano e tantas mudanças, o principal idealizador tornou-se alvo de elogios pela população. Foi assim que Fernando Henrique Cardoso, também chamado de FHC, foi eleito presidente do Brasil por dois mandatos consecutivos. 

+ Veja mais: Redemocratização do Brasil: período pós ditadura e acontecimentos

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