Sedição de Juazeiro: fé, política e poder no sertão

Sedição de Juazeiro: fé, política e poder no sertão

Entenda o contexto e as causas da Sedição de Juazeiro, seus desdobramentos, significado histórico e o papel do Padre Cícero

A Sedição de Juazeiro (1914) está permeada pelo predomínio das oligarquias regionais, do coronelismo e da chamada Política dos Governadores. Esses acordos garantiam a estabilidade política entre elites locais e o governo federal na Primeira República.

A atuação de Padre Cícero, líder religioso de enorme prestígio popular, destacou-se nessa conjuntura. Sua influência foi decisiva na mobilização política no Cariri cearense evidenciando a forte articulação entre religião e poder no sertão brasileiro.

Neste texto, você vai entender o contexto político da Primeira República, o papel de Padre Cícero e os acontecimentos da Sedição de Juazeiro, destacando suas causas, desdobramentos e significado histórico. Acompanhe abaixo.

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Contexto político-institucional da crise

Durante a Primeira República, vigorava “Política dos Governadores”. Tratava-se de um acordo informal entre o presidente da República e os governadores estaduais.

Nesse cenário, o governo federal oferecia apoio político às oligarquias estaduais. Em troca, essas elites garantiam eleições controladas, votos para o Congresso e a estabilidade política.

Esse sistema era sustentado pelo clientelismo, que estruturava as relações políticas locais. Também se apoiava no voto de cabresto, controlando o comportamento eleitoral da população pelo poder dos coronéis nos municípios.

No Ceará, esse modelo assumiu características próprias. O poder político permaneceu por décadas concentrado nas mãos do grupo liderado por Antônio Pinto Nogueira Accioly. Ele era um representante típico da oligarquia republicana.

Accioly controlava eleições, cargos públicos e alianças locais. Assim, manteve uma hegemonia sustentada pelo apoio de coronéis e chefes políticos regionais. Contudo, no início do século XX, surgiram novas lideranças.

Assim, novos grupos passaram a questionar a concentração de poder, especialmente no sul do estado, na região do Cariri. Em 1912, Nogueira Accioly foi deposto do governo estadual, e o grupo liderado por Marcos Franco Rabelo, representante de uma facção oligárquica rival, assumiu o poder no Ceará.

A situação se agravou quando, em 1914, o governo federal decidiu intervir no Ceará, alegando instabilidade política. Essa intervenção, alinhada aos interesses da oligarquia acciolysta, buscava depor o governador Franco Rabelo.

No entanto, em vez de pacificar o estado, a medida desencadeou uma forte reação no Cariri. Com isso deu-se início à Sedição de Juazeiro.

A influência do Padre Cícero

No centro desse conflito estava uma das figuras mais emblemáticas da história do Nordeste: Padre Cícero Romão Batista. Mais do que um líder religioso, Padre Cícero era uma autoridade moral e social no sertão.

Sua fama começou com o chamado “milagre da hóstia”, ocorrido no fim do século XIX, quando uma beata teria sangrado ao receber a comunhão. Mesmo sem reconhecimento oficial da Igreja, o episódio consolidou a devoção popular ao padre.

Padre Cícero ao acolher pobres, retirantes da seca e romeiros, tornou-se uma espécie de “padrinho” dos sertanejos. Em uma região marcada pela miséria, pela ausência do Estado e pela violência, sua figura simbolizava proteção, justiça e esperança.

Esse carisma lhe conferiu um poder popular gigantesco, capaz de mobilizar milhares de pessoas. Por outro lado, o poder religioso se articulou com a política por meio da aliança com Floro Bartolomeu, médico, deputado e habilidoso articulador político.

Assim, enquanto Padre Cícero oferecia legitimidade simbólica e apoio das massas, Floro Bartolomeu organizava militarmente e politicamente a resistência carirista. Juntos, transformaram Juazeiro do Norte em um verdadeiro polo de poder regional.

Padre Cícero atuou como agente político, usando sua autoridade religiosa para convocar fiéis e organizar jagunços. Conferiu legitimidade à luta contra a intervenção federal, vista como ameaça à autonomia do Ceará e aos interesses do Cariri.

O fato e o desdobramento da Sedição de 1914

A mobilização de milhares de sertanejos para defender a cidade evidenciou a capacidade de organização política e militar do Cariri. Essa força era sustentada pela liderança local e se baseava na rejeição à interferência externa nos assuntos do Ceará.

Um dos momentos mais simbólicos foi o chamado Juramento de Juazeiro, quando os revoltosos prometeram lutar sob a proteção e a liderança espiritual de Padre Cícero. Sua imagem funcionava como um poderoso símbolo de legitimidade, unindo fé, política e luta armada.

As forças organizadas por Floro Bartolomeu e apoiadas por Padre Cícero avançaram com sucesso. A resistência foi suficiente para derrotar a intervenção federal e impor uma solução política favorável aos interesses cariristas.

O desfecho da sedição marcou a vitória do poder local. Houve o restabelecimento de uma oligarquia cearense alinhada ao Cariri. O governo passou para Benjamin Liberato Barroso, que governou de forma favorável aos interesses cariristas. Sua gestão sofreu forte influência indireta de Floro Bartolomeu.

Vale salientar que embora fossem adversários históricos, Floro Bartolomeu e Nogueira Accioly atuaram no mesmo campo político durante a Sedição de Juazeiro. Ambos buscavam derrubar o governo de Franco Rabelo. O episódio evidencia o pragmatismo das disputas oligárquicas na Primeira República.

No curto prazo, a sedição enfraqueceu a autoridade do governo federal no estado. A médio e longo prazo, reforçou o coronelismo e consolidou Juazeiro do Norte como um centro político regional.

O episódio também demonstrou que a mobilização popular articulada a lideranças carismáticas podia influenciar os rumos da política estadual. Assim, serviu de referência para outras disputas oligárquicas no Nordeste durante a Primeira República.

Análise e implicações para o vestibular

Para o vestibular, a Sedição de Juazeiro deve ser compreendida como uma demonstração clara da força do poder local durante a Primeira República. O episódio evidencia os limites da Política dos Governadores.

Embora o sistema buscasse estabilidade, ele podia ser desafiado. Isso ocorria quando coronéis e líderes carismáticos conseguiam mobilizar grandes massas.

Outro ponto central é a relação entre religião e política no sertão nordestino. A fé popular não estava separada do poder. Ela funcionava como um instrumento fundamental de legitimação política. Padre Cícero exemplifica como a autoridade religiosa podia sustentar projetos políticos oligárquicos.

É importante diferenciar a Sedição de Juazeiro de movimentos como Canudos e o Contestado. Esses conflitos tinham caráter messiânico. Também apresentavam oposição ao Estado republicano.

Já a Sedição de Juazeiro foi essencialmente política e oligárquica. A fé foi usada como meio de mobilização. Não buscava romper com a ordem. O objetivo era redefinir quem controlaria o poder dentro dela.

Em síntese, a Sedição de Juazeiro mostra que, na Primeira República, o Brasil era governado principalmente por acordos regionais. O coronelismo exercia forte influência.

Mas, além disso, o carisma pessoal também era decisivo. As instituições republicanas tinham papel secundário. Esse é um tema recorrente e valorizado nas provas de História do Brasil.

Questão do vestibular sobre a sedição de Juazeiro

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Em relação à Sedição de Juazeiro, considere as afirmações a seguir.

I. Liderado por Floro Bartolomeu, Nogueira Acioli e Padre Cícero, o movimento que depôs o governador Franco Rabelo se opunha à Política das Salvações implantada por Hermes da Fonseca para retirar o poder das oligarquias locais.

II. A Sedição de Juazeiro foi um movimento rebelde contra a Política dos Governadores, que estabelecia pactos entre o Governo Federal e as oligarquias regionais para a manutenção de seus interesses políticos.

III. A constituição do Pacto dos Coronéis, articulado por Franco Rabelo contra a nova força política que surgia no Cariri a partir da religiosidade popular em torno de Padre Cícero, foi fator decisivo para a Sedição de Juazeiro.

Com base nas assertivas, é correto o que se afirma

A) apenas no item I.
B) nos itens I e III.
C) apenas no item II.
D) nos itens II e III.

Alternativa correta:

A

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