Segundo governo Vargas: contexto histórico, eleições e crise

Segundo governo Vargas: contexto histórico, eleições e crise

Getúlio Vargas foi um presidente notável para o Brasil do século XX, sua candidatura presidencial resultou no período conhecido como Era Vargas, entre 1930 e 1945. Nas eleições de 45, o general Dutra assumiu o cargo, com o apoio varguista. Ao fim desse mandato, em 1950, Getúlio candidata-se novamente e é eleito presidente pela população, o que dá início ao Segundo governo Vargas.

Esse período é relevante na história do Brasil porque é uma época democrática da gestão de Vargas, mas que acompanha uma ampla crise política, que culminou com pressões sociais importantes sobre o presidente, que encerra sua trajetória política de maneira trágica. 

Todos esses acontecimentos estão registrados neste artigo, que busca revisar os principais tópicos do segundo governo Vargas, do ponto de vista histórico-social. Para auxiliar também nos estudos para o vestibular, estão reunidas questões que tratam sobre o tema e já apareceram em provas nacionais. Confira!

Contexto histórico

Eleições de 1950

O Segundo Governo Vargas tem total relação com sua primeira participação no cargo executivo, na primeira metade do século XX. Inicialmente, nas eleições de 1945, Getúlio articulou-se com os partidos políticos como PTB e PSD para apoiar a candidatura de políticos que tinham visões e projetos semelhantes aos seus. 

Nesse contexto, Vargas fomentou a campanha eleitoral de Eurico Gaspar Dutra, que foi presidente entre 1946 e 1950. Entretanto, Getúlio Vargas foi estratégico porque, durante o governo Dutra, reconstruiu sua imagem política, criou alianças políticas e buscou reconquistar o povo brasileiro — afinal, suas decisões foram muito populares, porque era um assíduo defensor dos trabalhadores e seus direitos. 

Seu plano era aproximar-se dos políticos mais admirados de variadas regiões do Brasil, de maneira que conquistasse a confiança do povo ao associar sua imagem com a de outros candidatos que já eram prestigiados por aqueles eleitores. Por exemplo, aliou-se com Ademar de Barros, o governo de São Paulo que chamava atenção dos cidadãos. 

O partido que assumiu Vargas como candidato foi o PTB, Partido Trabalhista Brasileiro que, historicamente, tinha uma importante relação com a visão varguista. A ideia difundida nos discursos eleitorais caminhava, então, no sentido de promover a economia do país e, ao mesmo tempo, construir uma qualidade de vida para a sociedade, desenvolvendo o bem-estar da população.

Ao falar sobre tópicos extremamente valorizados pela população trabalhadora, enquanto os candidatos concorrentes tinham uma postura mais hostil a essa classe, Vargas garantiu sua vitória nas eleições de 1950 e tornou-se novamente presidente do Brasil em 1951. 

Características do governo

Guerra Fria e crise política

O segundo governo Vargas foi agitado em termos políticos, econômicos e nas relações internacionais. Em um contexto contemporâneo à Guerra Fria, houve a divisão entre um projetos sociais e nacionalistas versus projetos capitalistas. 

Ao longo dos anos, o presidente buscava conciliar ambas as ideias, na tentativa de abrandar as oposições e debates. Entretanto, era evidente sua inclinação nacionalista, o que incomodava amplamente seus opositores. 

Por exemplo, Vargas defendia a soberania nacional sobre os recursos naturais do território, especialmente o petróleo, por isso levantou o lema “o petróleo é nosso”. Diante desse cenário nasceu a Petrobras, empresa de fundo estatal que também teria o papel de estimular o crescimento da nação, a partir da produção de energia.

Além da Petrobras, o segundo governo Vargas também desenvolveu o BNDES, e ambas as criações reforçaram seu posicionamento mais nacional-socialista. O que destacou a crise política entre o varguismo e a oposição. 

Os inimigos políticos viam a postura de Vargas como um perigo, um risco, porque discordavam da intervenção estatal sobre a economia, afinal, tinham uma visão mais liberalista. Ao mesmo tempo, entre os opositores, estavam grupos sociais alinhados aos Estados Unidos, que preferiam utilizar capital estrangeiro para fomentar o desenvolvimento do país. 

O papel da UDN

A UDN, União Democrática Nacional, foi um partido importante na oposição de Vargas. Com um perfil conservador, liberal e alinhado com as ideias de investimento estrangeiro, esse grupo de políticos e seus simpatizantes contribuíram para construir uma imagem negativa do presidente.

Embora a UDN fosse um elemento político que reforçou a crise do segundo governo Vargas, é importante ressaltar que, no decorrer do mandato, as escolhas do presidente e o cenário econômico também foram fatores agravantes. 

A inflação tornou-se cada vez mais expressiva, enquanto que a qualidade de vida piorava rapidamente. Esse cenário ia na contramão daquilo que foi proposto nas campanhas políticas de Vargas e os eleitores, especialmente os trabalhadores, também revoltaram-se com a situação nacional. 

Diferentes movimentos sociais surgiram para demonstrar a insatisfação popular e, para tentar conter o descontentamento dos trabalhadores, Vargas aliou-se com políticos que tinham propostas generosas para essa classe social. Uma das mudanças implementadas foi o aumento do salário mínimo.

Claramente, as decisões varguistas não conseguiram agradar igualmente os dois principais grupos políticos da época. A oposição da UDN tornava-se cada vez mais ferrenha quando os trabalhadores e/ou eram favorecidos, porque consideravam essas ações socialistas, anti-conservadoras. Agora, o exército também mostrava-se como opositores do segundo governo Vargas e, consistentemente, sua autoridade sobre o país enfraqueceu-se.

O ápice da crise: atentado da Rua Tonelero

Se a UDN tinha importante papel de oposição ao governo de Vargas, o membro que mais representava essa inimizade foi Carlos Lacerda. Como jornalista e conservador, ele fazia denúncias e noticiava fatos contrários ao desenvolvimento do varguismo em um impresso chamado “Tribuna da Imprensa”.

No dia 5 de agosto de 1954, Lacerda sofreu um atentado na Rua Tonelero, na região de Copacabana, no Rio de Janeiro. A grande questão é que o jornalista não sofreu graves danos, mas o militar da aeronáutica que o acompanhava, Rubens Vaz, foi morto durante o processo.

Então, além de chamar a atenção da UDN, o atentado também causou revolta entre os militares. Esses grupos atribuíram o atentado a Vargas, como mandante e organizador do crime, mas isso nunca foi comprovado. 

Suicídio de Vargas (1954)

Os opositores buscavam a renúncia imediata do presidente, acusavam-no de outros crimes e erros políticos e a pressão era cada vez maior. Então, em 24 de agosto do mesmo ano, Getúlio Vargas suicidou-se com um tiro no peito, e deixou uma carta em que se retrata como um mártir do povo brasileiro. A postura do ex-presidente trouxe comoção ao povo brasileiro, que participou ativamente do velório, com mais de 1 milhão de indivíduos presentes. 

E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.”

Excerto carta-testamento de Getúlio Vargas

Questão de vestibular sobre o segundo governo Vargas

ENEM 2021

Quando Getúlio Vargas se suicidou, em agosto de 1954, o país parecia à beira do caos. Acuado por uma grave crise política, o velho líder preferiu uma bala no peito à humilhação de aceitar uma nova deposição, como a que sofrera em outubro de 1945. Entretanto, ao contrário do que imaginavam os inimigos, ao ruído do estampido não se seguiu o silêncio que cerca a derrota.

REIS FILHO, D. A. O Estado à sombra de Vargas. Revista Nossa História, n. 7, maio, 2004.

O evento analisado no texto teve como repercussão imediata na política nacional a

A) reação popular.
B) intervenção militar.
C) abertura democrática
D) campanha anticomunista.
E) radicalização oposicionista.

Alternativa correta: A. 

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