O Tenentismo foi um movimento político-militar protagonizado por jovens oficiais do Exército durante a Primeira República. Ele expressou a insatisfação com o coronelismo, as fraudes eleitorais e a exclusão política que marcavam o período.
O movimento defendia a moralização da política, o voto secreto e a centralização do poder estatal. Teve grande importância ao enfraquecer a República Oligárquica e preparar o caminho para a Revolução de 1930.
Nesse texto, você vai entender como surgiu o Tenentismo, as principais ideias e propostas defendidas pelos jovens oficiais e sua importância para a crise da Primeira República. Acompanhe Abaixo.
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O contexto do Tenentismo
A Primeira República era dominada pelas oligarquias rurais, especialmente as de São Paulo e Minas Gerais. A política do “Café-com-Leite” se sustentava por meio do Coronelismo, do voto de cabresto e da Política dos Governadores.
Esses mecanismos garantiam a manutenção das elites no poder e a exclusão da maior parte da população da vida política. Com o tempo, o modelo se desgastou, devido à corrupção, ineficiência e incapacidade de atender às demandas do país.
Nesse contexto de crise política, surge a insatisfação da baixa e média oficialidade do Exército, composta principalmente por tenentes e capitães. Esses militares, enfrentavam salários baixos e poucas perspectivas de ascensão na carreira.
Além disso, o Exército era usado como força repressora de greves, revoltas populares e conflitos regionais. Essa função gerava desconforto entre esses oficiais, que se viam como defensores da nação, e não como instrumentos das oligarquias.
Influência das correntes de pensamento
Ideologicamente, os tenentes foram influenciados por três grandes correntes. O Positivismo, herdado do final do século XIX, defendia a ideia de “ordem e progresso” como base do desenvolvimento nacional.
O Salvacionismo sustentava a crença de que o Exército possuía uma missão moral de “salvar” o Brasil da corrupção política. Já o Nacionalismo reforçava a defesa de um Estado forte, centralizado e voltado aos interesses nacionais.
Essas influências moldaram um movimento de caráter reformista e autoritário. Ao mesmo tempo, o Tenentismo se colocava como uma crítica direta à República Oligárquica.
As manifestações iniciais do movimento (1922–1924)
A primeira grande manifestação do Tenentismo ocorreu em 1922, com o episódio conhecido como 18 do Forte de Copacabana. O estopim para isso foi a conturbada eleição do presidente Artur Bernardes.
A eleição foi marcada por denúncias de fraude e pela divulgação de cartas ofensivas ao Exército, atribuídas ao candidato. Em julho daquele ano, jovens oficiais se rebelaram no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, então Capital Federal.
Militarmente, o levante não teve a adesão esperada, e apenas 18 homens, sendo 16 militares e 2 civis, marcharam pela Avenida Atlântica enfrentando as tropas governistas. Contudo, simbolicamente, o episódio teve enorme impacto.
O sacrifício dos “18 do Forte” transformou-se no marco inaugural do Tenentismo. O episódio revelou a disposição da jovem oficialidade de enfrentar o regime oligárquico, mesmo sem chances reais de vitória.
Em 1924, o movimento ressurgiu com força na Revolta Paulista. Tenentes e outros militares se levantaram em São Paulo exigindo reformas políticas, voto secreto e o fim do domínio oligárquico. No entanto, a repressão federal foi intensa.
Diante da superioridade das forças governistas, os revoltosos abandonaram São Paulo e seguiram para o interior. Esse deslocamento deu origem ao mais importante desdobramento do Tenentismo: a Coluna Prestes.
A Coluna Prestes: a marcha e o ideal tenentista
A Coluna Prestes formou-se a partir da união dos revoltosos paulistas com tenentes do Rio Grande do Sul. Eles foram liderados por Luís Carlos Prestes, que mais tarde ficaria conhecido como o “Cavaleiro da Esperança”.
Entre 1925 e 1927, a Coluna percorreu cerca de 25 mil quilômetros pelo interior do Brasil. Com isso, atravessou diversos estados, em uma das marchas militares mais longas da história mundial.
O objetivo da Coluna não era tomar o poder pela força, mas realizar propaganda armada contra o regime oligárquico. Os tenentes denunciavam a miséria do interior, a exclusão política e a corrupção eleitoral.
Eles também buscavam conscientizar a população sobre a necessidade de mudanças. No entanto, o movimento enfrentou sérias limitações como a falta de adesão da população sertaneja, marcada pela pobreza e pelo isolamento.
Além disso, os tenentes não possuíam um projeto político claro. Tampouco apresentavam propostas sociais profundas, como reforma agrária ou mobilização popular organizada.
Apesar disso, a Coluna Prestes desgastou o governo federal. Demonstrou a fragilidade do Exército regular diante da guerrilha móvel e ampliou a visibilidade nacional do Tenentismo.
As propostas e a ideologia do Tenentismo
As propostas tenentistas revelam o caráter reformista e centralizador do movimento. Entre suas principais demandas estava o voto secreto, considerado essencial para combater o voto de cabresto.
Defendiam também a moralização da política, com combate à corrupção e ao clientelismo, e a reforma do ensino era vista como base do progresso nacional. Além disso, propunha a centralização do poder, com o fortalecimento do governo federal frente às oligarquias estaduais.
É fundamental destacar que o Tenentismo não se configurava como um movimento popular. Tratava-se de uma rebelião conduzida por uma elite militar organizada, marcada por um forte viés autoritário.
Os tenentes acreditavam que apenas eles possuíam capacidade moral e técnica para conduzir o Brasil ao progresso. Por isso, não propunham transformações sociais profundas nem a ampliação da participação das massas na política.
O legado do Tenentismo e conexão com a Revolução de 1930
O Tenentismo teve papel decisivo no desgaste da Primeira República. Atuou como um catalisador da crise do regime oligárquico. Suas rebeliões expuseram a ilegitimidade das eleições.
Além disso, revelaram a fragilidade das instituições e a incapacidade do sistema político de absorver demandas por mudança. Esse legado ficou evidente na Revolução de 1930, em que vários ex-tenentes participaram ativamente da articulação que levou Getúlio Vargas ao poder.
Durante a Era Vargas, muitos tenentes tornaram-se interventores federais e ocuparam cargos estratégicos. Dessa forma, influenciaram políticas de centralização, nacionalismo e fortalecimento do Estado.
Assim, o Tenentismo não derrubou sozinho a República Oligárquica. Ainda assim, foi uma ponte fundamental entre a crise da Primeira República e a construção do novo Estado brasileiro a partir de 1930.
Questões do vestibular sobre o Tenentismo
Colégio Naval (2012)
O Tenentismo foi um movimento de contestação ao regime político vigente durante a República Velha (1889-1930). Apesar de serem portadores de uma ideologia difusa baseada em um vago reformismo, segundo as palavras do historiador Boris Fausto, os tenentes propunham como mudanças
A) a moralização do país, por meio do voto secreto e da maior centralização política.
B) o combate à corrupção do eleitoral e o fim do regime republicano, a fim de eliminar o excessivo poder das oligarquias.
C) a reforma partidária, eliminando o pluripartidarismo e a defesa do voto aberto, como forma de expressão da vontade popular.
D) a implementação da democracia e do federalismo como forma de combater a máquina eleitoral dos “coronéis”.
E) a defesa e criação do ensino obrigatório e a privatização das riquezas do subsolo nacional como forma de alcançar o progresso.
Alternativa correta:
A
Enem Digital (2020)
O tenentismo veio preencher um espaço: o vazio deixado pela falta de lideranças civis aptas a conduzirem o processo revolucionário brasileiro que começava a sacudir as já caducas instituições políticas da República Velha. Os “tenentes” substituíram os inexistentes partidos políticos de oposição aos governos de Epitácio Pessoa e de Artur Bernardes.
PRESTES, A. L. Uma epopeia brasileira: a Coluna Prestes. São Paulo: Moderna, 1995 (adaptado).
Um dos objetivos do movimento político abordado no texto era
A) unificar as Forças Armadas pelo comando do Exército nacional.
B) combater a corrupção eleitoral perpetrada pelas oligarquias regionais.
C) restaurar a segurança das fronteiras negligenciadas pelo governo central.
D) organizar as frentes camponesas envolvidas na luta pela reforma agrária.
E) pacificar os movimentos operários radicalizados pelo anarco-sindicalismo.
Alternativa correta:
B
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