Conflito narrativo: definição, importância e exemplos

Conflito narrativo: definição, importância e exemplos

Descubra o papel do conflito no enredo e aprenda a identificá-lo em obras clássicas da literatura brasileira

O conflito narrativo é uma peça essencial em qualquer narrativa. Nesse sentido, saber identificar o conflito principal e suas variações é uma habilidade necessária para analisar obras literárias com profundidade, e, consequentemente, se sair bem nas questões interpretativas.

Pensando nisso, o Portal Estratégia Vestibulares preparou este guia para ajudar você a compreender o que é o conflito no enredo em prosa, seus principais tipos e como identificá-los, com exemplos de obras literárias recorrentes nos vestibulares. Confira!

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O que é conflito narrativo?

O conflito é um dos elementos constituintes do enredo, juntamente com a introdução, o clímax e o desfecho. Em outras palavras, pode-se afirmar que o conflito é uma situação-problema dentro da narrativa que envolve os personagens e em torno do qual a história será desenvolvida.

O conflito narrativo é um recurso literário que opera na estrutura conhecida como narrativa emoldurada, história dentro da história ou, em um de seus modos mais específicos.

Essa técnica consiste em inserir uma ou mais narrativas secundárias, completas e com seus próprios elementos (personagens, enredo e conflito), dentro da narrativa principal que a “emoldura”. O conflito da história interna, portanto, não é um evento isolado, mas um componente dramatúrgico que se desenrola em um nível de ficção distinto do enredo primário.

Logo, o conflito é o “coração” do enredo, pois ele é responsável por impulsionar a narrativa e definir as ações dos personagens. É a partir de um conflito gerador que a história ganha forma e se torna interessante para o leitor, culminando no clímax e desfecho. 

Tipos de conflito narrativo

Nesse sentido, os conflitos podem ser de diferentes tipos, de acordo com as “forças” conflitantes envolvidas. Confira os principais: 

Conflito interno (personagem vs. si mesmo)

Ocorre quando há uma luta psicológica, moral ou emocional. Esse conflito envolve um único personagem e suas dúvidas, dilemas, contradições internas. 

Um exemplo de conflito interno ocorre em A Paixão Segundo G.H., uma narrativa notoriamente psicológica, de Clarice Lispector. Na obra, a protagonista G.H. enfrenta uma crise de identidade ao se deparar com o vazio do quarto da empregada recém despedida e, em seguida, com uma barata. Esse encontro com o inseto desencadeia uma jornada de desconstrução do eu, levando-a a questionar sua humanidade, valores e existência.

Conflito externo

Ocorre quando há oposição entre o personagem e outro elemento fora dele. O conflito externo se divide em subtipos: 

  • Personagem e personagem: trata-se da clássica oposição entre um protagonista e um antagonista, ou entre quaisquer personagens em desacordo. Aqui poderiam ser citados diversos exemplos, mas um dos mais relevantes para os vestibulares é a relação de ódio e rivalidade que permeia toda a narrativa entre os irmãos Yaqub e Omar, na obra Dois Irmãos, de Milton Hatoum;
  • Personagem e natureza: há uma luta contra forças naturais ou um personagem que não seja um humano, e isso pode incluir fenômenos da natureza, animais selvagens, doenças ou um ambiente inóspito. Um exemplo marcante na literatura brasileira é Vidas Secas, de Graciliano Ramos, em que Fabiano e sua família enfrentam a seca impiedosa do sertão nordestino;
  • Personagem e sociedade: nesse caso, observa-se um confronto entre  personagem e normas sociais, leis, tradições ou instituições. Como exemplo, pode-se citar a trajetória de Policarpo Quaresma, protagonista de O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. Idealista e nacionalista, Quaresma entra em conflito com a burocracia, o sistema político e o conformismo da sociedade brasileira, acabando frustrado e vencido pela corrupção da República em que acreditava;
  • Personagem e destino: nesse tipo de conflito, a personagem luta contra o seu próprio destino ou chamado. Costuma ser um tipo de conflito intenso e muito comum na Tragédia Grega, como em Édipo Rei. Também pode ser observado no romance Iracema, de José de Alencar, em que a jovem indígena parece ter sido predestinada a morrer para que algo novo surgisse: o seu filho com Martim, o primeiro luso-brasileiro, que representa o nascimento do Brasil; 
  • Outros tipos de conflito: há ainda outros tipos de conflitos que podem ocorrer em um enredo, como personagem contra avanços tecnológicos ou personagem e forças sobrenaturais.

Identificando o conflito gerador

Identificar o conflito gerador é o ponto-chave na interpretação de textos narrativos, especialmente em questões de vestibulares. 

Esse conflito marca a transição entre o aparente equilíbrio inicial da história, geralmente apresentado na introdução, e o desenvolvimento da trama. Assim, é importante identificar o acontecimento ou fato que rompe esse equilíbrio na história. 

Vale relembrar que o conflito pode ser entendido como um problema a ser enfrentado, um desafio imposto à personagem ou um obstáculo a ser vencido.

Para entender melhor, leia o trecho da obra Quincas Borba, de Machado de Assis:

“Quando o testamento foi aberto, Rubião quase caiu para trás. Adivinhais por quê. Era nomeado herdeiro universal do testador. Não cinco, nem dez, nem vinte contos, mas tudo, o capital inteiro, especificados os bens, casas na Corte, uma em Barbacena […] — tudo finalmente passava às mãos do Rubião […]. Uma só condição havia no testamento, a de guardar o herdeiro consigo o seu pobre cachorro Quincas Borba, nome que lhe deu por motivo da grande afeição que lhe tinha. […]” 

O conflito gerador da obra Quincas Borba ocorre quando Rubião é surpreendido ao ser nomeado herdeiro universal de seu amigo filósofo. Junto com a herança, ele assume a condição de cuidar do cachorro do falecido, que leva o mesmo nome de seu dono.

Nesse momento, instala-se o desequilíbrio da narrativa: até então, Rubião era apenas um modesto professor e amigo do filósofo. A partir da herança, porém, sua vida sofre uma reviravolta. Desse modo, tomado por sentimentos de vaidade e desejo de ascensão social, ele passa a atrair figuras oportunistas, como Cristiano Palha e sua esposa, Sofia. Esses personagens desempenham papel essencial no desenvolvimento do conflito

Além disso, ao aceitar a fortuna com a obrigação de tratar o cão como um ser humano, Rubião também assume, sem plena consciência, um fardo simbólico e ideológico: o legado do Humanitismo, teoria criada e preconizada por Quincas Borba.

Portanto, no cerne da trama, pode-se afirmar que se destaca o conflito interno, visto que o maior adversário de Rubião é ele mesmo, com sua ingenuidade, vaidade e idealismo diante de um mundo que o destrói sutilmente.

Conflito principal e secundário

A trama nem sempre possui um único conflito, podendo haver vários conflitos que movem os personagens. Por isso, é importante saber distinguir o conflito principal do conflito secundário.

O conflito principal move a trama, ele é o eixo da narrativa e determina a jornada do protagonista. Pode-se dizer que o conflito principal é responsável por marcar a conclusão da história ao ser resolvido (ou não).

Por outro lado, os conflitos secundários ocorrem paralelamente ao principal, podendo apoiá-lo, intensificá-lo ou contrastá-lo, por exemplo, adicionando complexidade à narrativa.

Ainda tomando como exemplo a obra Quincas Borba, o conflito principal é o interno, como já foi falado. Em paralelo a isso, contudo, não são excluídos outros conflitos (secundários) que dão à história a riqueza de acontecimentos próprios das obras machadianas. Um exemplo de tensão secundária em Quincas Borba é a falsa amizade de Sofia e Palha, assim como o triângulo amoroso que se estabelece entre eles, intensificando a trajetória de ilusão e queda vivida por Rubião.

A importância do conflito para caracterização e temática

O conflito, a caracterização e a temática estão intrinsecamente relacionados. É por meio do enfrentamento das tensões presentes na trama que há a exposição dos aspectos psicológicos, morais e sociais dos personagens. Assim, os personagens tornam-se seres complexos dentro do enredo, o que engaja o leitor.

O conflito também exerce a função de revelar temas universais presentes na sociedade, como problemas sociais, morais e filosóficos, ao mesmo tempo em que contempla aspectos mais específicos e subjetivos dos personagens. 

Essa característica é especialmente evidente nas obras do Realismo, que se dedicaram a construir enredos focados em temas de interesse coletivo, como o adultério, a hipocrisia e a corrupção. Nesses casos, os conflitos psicológicos não estavam apenas a serviço da narrativa, mas tinham como propósito maior a dissecação minuciosa do psicológico humano, numa verdadeira “anatomia do caráter”.

+ Veja também: Tempo narrativo: conceito, tipos e exemplos
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