Desfecho narrativo: definição, tipos e exemplos literários

Desfecho narrativo: definição, tipos e exemplos literários

Você já refletiu sobre como os diferentes tipos de desfecho influenciam o sentido das obras literárias? Descubra os tipos de desfecho narrativo e aprenda a analisá-los

Você já reparou que ao ler um livro, a parte que mais fica na memória é o final? Isso ocorre porque o desfecho é muito mais do que a conclusão de uma história: ele ajuda a compreender melhor os acontecimentos do enredo, reforça o tema principal e deixa a última impressão no leitor.

No contexto de vestibulares, entender as funções do desfecho na narrativa e seus tipos é essencial para interpretar obras literárias com profundidade. Pensando nisso, o Portal Estratégia Vestibulares preparou este guia para te ajudar a classificar e analisar os desfechos mais recorrentes na literatura brasileira. Confira!

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O que é desfecho? 

O desfecho — do francês, dénouement, “desenlace” — é a última parte da narrativa e sucede o clímax. É nesse momento que ocorre a conclusão da história, revelando suas últimas respostas e implicações. É também quando os acontecimentos anteriores ganham profundidade e sentido, transformando a experiência narrativa em significado.

Funções do desfecho

Nesse sentido, é possível pontuar as funções principais do desfecho: 

  • Resolver os conflitos principais e “amarrar as pontas soltas” da história, como ocorre em enredos mais tradicionais;
  • Revelar as consequências das decisões dos personagens;
  • Estabelecer um novo equilíbrio ou uma nova realidade;
  • Gerar impacto emocional e deixar uma impressão duradoura no leitor, provocando uma reflexão sobre a temática abordada; e
  • Criar coerência temática, ligando os acontecimentos ao propósito maior da história.

A situação inicial, o clímax e o desfecho 

Sabe-se que um enredo precisa seguir uma ordem para fazer sentido para o leitor. Assim, ao ler uma história, espera-se que essa possua uma situação inicial, uma complicação, um ponto máximo de tensão do conflito (clímax) e, finalmente, a resolução desse conflito, que é o desfecho

Nessa lógica, o desfecho reduz ou dissolve a tensão construída no clímax, oferecendo ao leitor uma resposta narrativa às principais questões levantadas ao longo da trama. É nesse momento que o raciocínio iniciado ganha forma conclusiva, seja por resolução, ruptura ou transformação.

Além disso, ao comparar o desfecho com a situação inicial, normalmente marcada por um estado de equilíbrio aparente, observa-se que a narrativa pode seguir alguns caminhos:

  • Restabelecimento do equilíbrio inicial, após a superação dos conflitos;
  • Redefinição desse equilíbrio, apresentando mudanças significativas nos personagens ou no universo narrativo; ou
  • Rompimento definitivo com o equilíbrio inicial, revelando uma nova ordem, às vezes inesperada ou ambígua.

Tipos de desfecho

Embora os desfechos possuam o objetivo comum de encerrar a narrativa, eles podem assumir formas diversas que refletem diferentes intenções estéticas e temáticas. A seguir, confira os tipos de desfecho mais relevantes para o vestibular:

Desfecho feliz ou positivo

No desfecho feliz, os conflitos se resolvem de maneira positiva para os personagens principais, ainda que haja danos ao longo do desenvolvimento da história. Esse é o clássico “final feliz” dos contos de fada e também pode ser observado em algumas obras da literatura brasileira, como Senhora, de José de Alencar, em que Aurélia e Fernando reconciliam-se, mesmo após tantos conflitos financeiros.

Desfecho trágico ou negativo

Os conflitos resultam em ruína, sofrimento ou morte para o protagonista. Esse tipo de desfecho está presente em obras de Tragédia Grega, bem como na obra A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, em que Macabéa morre atropelada, um final triste que acompanha sua trajetória de vida repleta de frustrações ao longo da trama.

Desfecho aberto ou inconclusivo

Nesse caso, não existe uma solução clara para os conflitos ou para o destino dos personagens, deixando o final inconclusivo e com margem para a interpretação do leitor. Um clássico exemplo de desfecho aberto é Dom Casmurro, de Machado de Assis, visto que o autor não dá plena certeza se Capitu traiu ou não Bentinho, ficando a critério do leitor decidir isso.

Desfecho fechado

Todos os acontecimentos da trama (ou os principais) são finalmente ligados entre si e as “pontas soltas são amarradas”, havendo uma resolução explícita dos conflitos e definição do destino dos personagens. 

Na literatura brasileira, isso é observado em romances como A Mão e a Luva, de Machado de Assis, no qual a protagonista Guiomar escolhe o resoluto e ambicioso Luís Alves como marido, final marcado pela compatibilidade da personalidade de ambos. Isso pode ser observado no trecho final do livro:

“- Oh! sim! exclamou Guiomar. 
E com um modo gracioso continuou:

– Mas que me dá você em paga? Um lugar na Câmara? Uma pasta de ministro?
– O lustre do meu nome, respondeu ele.

Guiomar, que estava de pé defronte dele, com as mãos presas nas suas, deixou-se cair lentamente sobre os joelhos do marido, e as duas ambições trocaram o ósculo fraternal. Ajustavam-se ambas, como se aquela luva tivesse sido feita para aquela mão.”

Desfecho surpreendente ou anticlímax

Esse tipo de final quebra as expectativas criadas ao longo da narrativa. O desfecho surpreendente (“plot twist”) traz uma revelação inesperada que altera o rumo da história ou reinterpreta o que foi lido até então. Também é comum que traga à tona revelações surpreendentes sobre o caráter dos personagens. 

Já o anticlímax frustra intencionalmente o leitor, apresentando uma conclusão simples ou silenciosa após um clímax com elevada tensão. Esse recurso pode causar desconforto, provocar reflexão ou carregar ironia, sendo frequente em textos que priorizam a crítica social ou a quebra da lógica tradicional do enredo.

Desfecho irônico

O final também contradiz as expectativas do leitor ou dos próprios personagens, criando um contraste entre o que se esperava e o que realmente acontece. Ele pode ter um tom de humor, crítica ou reflexão. 

Em O Alienista, conto de Machado de Assis, esse desfecho pode ser observado, visto que após internar quase toda a cidade por suposta loucura, o doutor Simão Bacamarte acaba internando a si mesmo. Para elucidar, observe um trecho do desfecho do livro: 

“Era decisivo. Simão Bacamarte curvou a cabeça, juntamente alegre e triste, e ainda mais alegre do que triste. Ato contínuo, recolheu-se à Casa Verde. Em vão a mulher e os amigos lhe disseram que ficasse, que estava perfeitamente são e equilibrado: nem rogos nem sugestões nem lágrimas o detiveram um só instante. […]

Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa Verde, entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo.”

Desfecho epifânico

É aquele em que o personagem possui uma revelação psicológica súbita e transformadora, que pode ser provocada por um evento cotidiano, aparentemente trivial. Assim, esse tipo de final depende apenas de uma mudança interna profunda, que clareia o sentido da narrativa. 

Um exemplo de final epifânico está contido no conto Amor, de Clarice Lispector, visto que após Ana ter o encontro com “o homem cego” (fato desencadeador do conflito na trama), ela retorna à sua casa com uma nova consciência, onde ocorrem as cenas de desfecho. 

O desfecho e a temática da obra

O desfecho de uma obra literária atua consolidando ou reinterpretando sua temática central.

Desse modo, a depender de sua natureza, ou seja, se é fechado, epifânico, aberto ou irônico, ele pode reforçar uma crítica social, evidenciar um questionamento existencial ou propor uma reflexão filosófica. 

Por exemplo, em obras notáveis como A Hora da Estrela, o final trágico da protagonista Macabéa intensifica o olhar sobre a exclusão social e a invisibilidade. Já em Dom Casmurro, como foi citado acima, o desfecho inconclusivo potencializa o tema da dúvida e do ciúmes, a partir da adoção do ponto de vista do narrador personagem Bentinho como o único da história. 

Assim, compreender o tipo de desfecho é essencial para interpretar o sentido pleno da narrativa e como ele se relaciona com o tema central da obra.

O desfecho e a experiência do leitor

Além disso, o desfecho de uma obra é decisivo para a forma como o leitor a interpreta, lembra e avalia. Em muitos casos, é o final da história o responsável por fixar uma mensagem no imaginário do leitor, deixando aquela última impressão. 

Essa experiência é ainda mais marcante em desfechos abertos ou surpreendentes, pois ambos engajam o leitor de maneira ativa, prolongando o envolvimento com a obra mesmo após o fim da leitura.

Como analisar os desfechos em provas?

Em provas de vestibular, identificar e analisar o desfecho de uma narrativa é essencial para compreender a estrutura, os conflitos e os sentidos mais profundos do texto. 

Essa habilidade é especialmente relevante em exames que exigem a leitura prévia de obras literárias, como a Fuvest. Nesses casos, é indispensável que o candidato reconheça as características do desfecho e compreenda como ele dialoga com o restante do enredo. Portanto, veja algumas dicas para analisar os desfechos narrativos:

  • Observe elementos próprios de encerramento, como a diminuição da tensão narrativa, mudanças no estado emocional do protagonista, frases conclusivas ou epifânicas, e a retomada ou subversão do equilíbrio inicial;
  • Tente classificar o tipo de desfecho: analise se é um desfecho fechado, aberto, trágico, epifânico, irônico. Isso ajuda a entender como os conflitos são encerrados ou deixados em suspenso; e
  • Note se o desfecho está reforçando ou reinterpretando a temática central da obra, como uma crítica social ou um dilema existencial, temas recorrentes nas produções de Machado de Assis e Clarice Lispector, por exemplo.

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