Humanismo na literatura: o que foi, escola literária, autores e mais

Humanismo na literatura: o que foi, escola literária, autores e mais

O termo humanismo lembra, na primeira impressão, a palavra humano. Isso diz muito sobre essa corrente literária e filosófica, o ser humano e suas ideias eram valorizadas de maneira surpreendente para a época.

Se você quer conhecer mais sobre o humanismo, com suas bases teóricas, influência na literatura, autores e obras importantes, entre outras informações, continue lendo este artigo!

O que foi o humanismo?

O humanismo é a nova forma de pensar que dominou o mundo na transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. O controle religioso e a desinformação entram em decadência, cedendo lugar para a racionalidade humana.

Contexto histórico do humanismo

O contexto histórico do surgimento do humanismo é cercado de mudanças sociais, econômicas e políticas. O feudalismo estava em decadência, ao passo que cedia espaço para o desenvolvimento do capitalismo. 

Diante disso, havia uma nova classe social muito influente, os burgueses. A burguesia era emergente de um sistema feudal rígido e estabeleceu suas bases em torno do comércio, navegação e outras atividades.

Com isso, gradualmente, a mentalidade social foi se transformando. O estereótipo do servo feudal, que também era submisso às ordens da igreja, passa a se quebrar. Aos poucos, questionamentos são levantados e novas teorias são formuladas.

O rompimento com a igreja, a partir das Reformas Religiosas são um exemplo do predomínio da razão humana. Além disso, as grandes navegações e o conhecimento de novos territórios, domínio de tecnologias mais avançadas e o surgimento do absolutismo reformaram todas as bases sociais existentes até aquele momento.

A busca pela racionalização e maior responsabilidade do humano pelos seus próprios atos, levou a valorização da cultura greco-romana. Uma vez que, nessa época, os questionamentos filosóficos e o poder da razão foram imensamente apreciados.

Características do humanismo

O humanismo possui, então, características ligadas ao contexto histórico em que está inserido. Veja:

  • Cientificismo, que é a valorização da ciência, a partir de métodos padronizados e informação de qualidade;
  • Racionalidade, que é a busca por respostas a partir da razão humana;
  • Antropocentrismo, filosofia em que o homem torna-se o centro de sua própria vida, o que exclui o papel hegemônico do domínio religioso. Além disso, o corpo humano e as emoções tornam-se pauta, uma novidade para a época.;
  • Renascimento, também conhecido como busca pelos ideais clássicos, quando a cultura da Grécia e Roma são retomadas na história. Em textos, essa característica aparece com o nome de deuses e deusas, por exemplo; e
  • A perfeição e beleza passam a ser um objetivo, nas obras de arte, textos e etc.

Autores e obras do humanismo na literatura

Em termos de literatura, o humanismo é a transição do modelo trovadoresco para o Classicismo que ocorreu algum tempo depois. Assim, grande parte das obras humanistas possuem características do trovadorismo, com adição de diferentes tipos de textos também.

Poesia Palaciana

A poesia palaciana era um texto com estrutura elaborada e rebuscamento formal — para isso, eram exploradas diferentes figuras de linguagem e muitos recursos de sonoridade. Ela tinha grandes semelhanças com as canções dos trovadores, mas era recitada sem melodias em torno dos palácios medievais, para a nobreza.

Veja um poema do Cancioneiro Geral, um compilado de poesias palacianas, organizado por Garcia Resende:

Cantiga Sua Partindo-se

Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem, 
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida. 

Partem tam tristes os tristes,
tam fora d’esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

(João Ruiz de Castelo Branco)

Prosa

A prosa no humanismo, é baseada nas novelas de cavalaria, encontradas no trovadorismo. Aqui, eram escritas crônicas reais ou ficcionais. Esses textos partiam do estudo da vida dos nobres, principalmente os reis portugueses.

As crônicas historiográficas eram mais comprometidas com a realidade, com informações mais objetivas, mesmo que os reis fossem sutilmente exaltados por todas as conquistas do reino.

O principal cronista da época foi Fernão Lopes, que ficou conhecido por descrever obras de vários reis, como D. Fernando, D. Pedro I e D. João I. 

Teatro

O teatro é o gênero textual mais conhecido do humanismo, com seu principal autor: Gil Vicente. O escritor retrata temas religiosos e humanos, com foco nas dualidades entre as duas formas de pensamento. Nos Autos, ele tratava sobre temas divinos, nos textos conhecidos como Farsas, abordava a sociedade portuguesa e seus costumes.

A obra mais conhecida de Gil Vicente é o Auto da Barca do Inferno, em que são consideradas duas embarcações: uma que vai em direção ao céu e outra que vai para o inferno. Com toques de comédia, são questionados costumes dos padres, abordados costumes inadequados nos membros da Igreja e muito mais.

A forma de escrever foi tão famosa e interessante, que existe um tipo teatral com o nome do autor: o teatro vicentino.

Veja um trecho do Auto da Barca do Inferno.

DIABO
Cavaleiros, vós passais
e não perguntais onde ir?

CAVALEIRO
Vós, Satanás, presumis?
Atentai com quem falais!

OUTRO CAVALEIRO
Vós que nos demandais?
Siquer conhecê-nos bem.
Morremos nas partes d’além,
e não queirais saber mais.

Os cavaleiros representam os cristãos que morreram na luta em defesa do evangelho. Satanás é o responsável por guiar o barco em direção ao inferno. 

No diálogo fica evidente que o diabo quer satisfações dos cavaleiros, mas esses não hesitam porque têm certeza de sua salvação, indo diretamente para o céu.

+ Veja também: Literatura portuguesa: o que é, importância e principais correntes

Questão de vestibular sobre humanismo

PUC-SP 2008

Gil Vicente, criador do teatro português, realizou uma obra eminentemente popular. Seu Auto da Barca do Inferno, encenado em 1517, apresenta, entre outras características, a de pertencer ao teatro religioso alegórico. Tal classificação justifica-se por

a) ser um teatro de louvor e litúrgico em que o sagrado é plenamente respeitado.

b) não se identificar com a postura anticlerical, já que considera a igreja uma instituição modelar e virtuosa.

c) apresentar estrutura baseada no maniqueísmo cristão, que divide o mundo entre o Bem e o Mal, e na correlação entre a recompensa e o castigo.

d) apresentar temas profanos e sagrados e revelar-se radicalmente contra o catolicismo e a instituição religiosa.

e) aceitar a hipocrisia do clero e, criticamente, justificá-la em nome da fé cristã.

O teatro vicentino, em o Auto da Barca do Inferno, aborda criticamente as posições clericais, sem radicalismos. Então, a letra D está errada. 

Não há louvor e liturgia, o que torna a alternativa A incorreta. A postura crítica mostra que a Igreja não é venerada como virtuosa, ao mesmo tempo, não aceita a hipocrisia do clero, o descarta as opções B e E. 

A única afirmativa correta é a letra C, que trata sobre a dualidade do mundo, muito presente no teatro vicentino. No texto da Barca, isso se manifesta pela recompensa (barca que vai para o céu) e o castigo encontrado no inferno, com o Diabo.

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