Da literatura à música, o madrigal combina a sofisticação de palavras e simplicidade estrutural para abordar temas amorosos e bucólicos. Além de evocar a vida campestre e a pessoa amada idealizada, o madrigal valorizava a língua vernácula e a beleza formal, fatores essenciais no contexto do Renascimento e do Barroco.
Em provas de vestibulares, compreender as características do madrigal na literatura e na música e o seu contexto de produção pode ser um grande diferencial na interpretação de textos.
Pensando nisso, o Estratégia Vestibulares preparou este guia completo para você entender a definição e as principais características do madrigal, com exemplos de poemas para facilitar seus estudos. Confira!
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Definição e características
O madrigal surgiu inicialmente como um poema lírico de forma fixa, que possui conteúdo predominantemente amoroso, bucólico e elogioso. Sua estrutura chama atenção por ser composta por uma única estrofe escrita com um tom galante, frequentemente contendo um amor idealizado e elogios à beleza feminina.
Esse tipo de poema tem origem na Itália, no século XIV, mas seu auge ocorreu no século XVI, quando ganhou popularidade em outros países da Europa, por permitir a expressão de sentimentos profundos em língua vernácula, ou seja, do próprio país.
Alguns expoentes do madrigal foram:
- Francesco Petrarca – Italiano
- Torquato Tasso – Italiano
- Claudio Monteverdi – Italiano
- Luca Marenzio – Italiano
- Orlande de Lassus – Franco-flamengo (bélgico)
- Clément Janequin – Francês
- Francisco de Quevedo – Espanhol
- Thomas Tomkins – Inglês
- Thomas Morley – Inglês
- John Wilbye – Inglês
- Carlo Gesualdo – Italiano
- Manuel Maria du Bocage – Português
- Silva Alvarenga – Brasileiro
O madrigal na história da literatura e da música
No século XVI, o madrigal consolidou-se na Itália como uma forma poética e musical polifônica, especialmente, inspirada na poesia lírico-dramática de Petrarca e Tasso, cujos textos privilegiavam a expressividade emocional, um dos pontos-chave do madrigal.
Inicialmente, muitos dos primeiros madrigalistas eram compositores franco-flamengos que se estabeleceram em cidades italianas como Roma e Florença, compondo obras em língua italiana. Posteriormente, Veneza tornou-se o grande centro do madrigal, com nomes importantes como Adrian Willaert e Cipriano de Rore.
Durante o século XVI, os madrigais eram cantados exclusivamente a cappella. Porém, no século XVII, na transição do Renascimento para o Barroco, compositores como Claudio Monteverdi começaram a incluir acompanhamento instrumental, expandindo as possibilidades expressivas da forma.
O gênero também se espalhou pela Europa. Na Inglaterra elizabetana, os madrigais ganharam grande popularidade, com compositores como Thomas Morley e John Wilbye.
Madrigal no Brasil
O madrigal no Brasil começou a florescer no século XVIII, durante o período colonial, no contexto do arcadismo brasileiro, a partir de composições de poetas como o mineiro Silva Alvarenga. Contudo, diferentemente da fama na Europa, os madrigais não se consolidaram plenamente entre os poetas brasileiros.
Sua retomada ocorreu a partir da composição de alguns poetas apenas durante o Modernismo brasileiro (séc. XX), com uma estrutura mais livre e abordando temas que extrapolam o contexto amoroso e pastoril. Veja o exemplo de um madrigal do Silva Alvarenga:
Madrigal XVIII
Suave Agosto as verdes laranjeiras
Suave Agosto as verdes laranjeiras
Vem feliz matizar de brancas flores,
Que, abrindo as leves asas lisonjeiras,
Já Zéfiro respira entre os Pastores
Nova esperança alenta os meus ardores
Nos braços da ternura.
Ó dias de ventura,
Glaura vereis à sombra das mangueiras!
Suave Agosto as verdes laranjeiras
Co'a turba dos Amores
Vem feliz matizar de brancas flores.
Relação do madrigal com outras formas
Diante desse panorama histórico, o madrigal compartilha traços com outros estilos apreciados na Europa, como a frottola italiana (séculos XV e XVI), caracterizada por sua textura homofônica, melodias simples e textos líricos, destinados a serem facilmente cantados. Outra influência significativa foi a chanson francesa, cuja polifonia e lirismo amoroso inspiraram o madrigal por meio de compositores franco-flamengos, como Adrian Willaert.
Assim, pode-se afirmar que o madrigal representa uma síntese da simplicidade melódica da frottola e da polifonia refinada da chanson, consolidando-se como uma das formas vocais mais sofisticadas do Renascimento.
Aplicações do madrigal
Na literatura
Na literatura, o madrigal é um poema tradicionalmente monostrófico, caracterizado por sua concisão e linguagem galante. Seus temas centrais, a exemplo dos amores pastoris e elogios à figura feminina, refletem bem o ideal renascentista de harmonia e beleza.
Nesse sentido, poetas como o português Bocage, com seus versos líricos, e o brasileiro Silva Alvarenga, que adaptou o gênero ao contexto colonial, utilizaram o madrigal para expressar sentimentos amorosos em cenários pastoris.
Os poemas de Bocage frequentemente combinam emoção e refinamento, enquanto Alvarenga reflete influências locais, como a paisagem brasileira. Essa versatilidade demonstra a capacidade do madrigal de se adaptar a diferentes contextos culturais, mantendo sua essência lírica. Veja um exemplo de madrigal de Alvarenga:
Na música
Na música, o madrigal surgiu como uma expressão artística acessível e popular, já que era vernacular, ou seja, composto na língua de cada país. Assim, os madrigais podiam ser cantados por amadores em reuniões sociais, unindo a arte e o convívio.
Essa forma musical é geralmente polifônica, escrita para três a oito vozes e executada, tradicionalmente, sem acompanhamento instrumental. Nesse contexto, sua principal inovação era a capacidade de expressar emoções variadas em uma única composição: cada verso podia transmitir um sentimento distinto, como alegria, melancolia ou conflito.
Um exemplo disso é La Guerre de Clément Janequin, que usa onomatopeias e vozes independentes para simular uma batalha, destacando a polifonia e a vivacidade do gênero.
Tipos e variedades de madrigais
Madrigal italiano (tradicional)
Na sua forma clássica, o madrigal italiano utiliza 10 a 16 versos alternados em hexassílabos e decassílabos, com um esquema de rimas variável, criando um efeito rítmico que evoca musicalidade e polifonia na declamação.
Madrigais contemporâneos
O madrigal pode ainda ser apreciado em sua essência em feiras renascentistas. Porém, no Brasil e em outros países, ele foi adaptado a novas métricas e temas. Nesse contexto, poetas modernos, como Mário de Andrade, exploraram a musicalidade e a simplicidade do madrigal em poemas que dialogam situações do cotidiano. Veja um exemplo:
Madrigal do Truco
Um Jogador solista (em parlato):
— Truco!
(cantando):
Arreda porteira! Aí vai
Os peitos do Zé Migué
Laranja não tem caroço
Jacaré não tem pescoço
Truco de baralho velho!
(...)
Elementos poéticos do madrigal
- Métrica: geralmente versos decassílabos e hexassílabos (ou ainda heptassílabos), mas não é uma regra totalmente fixa.
- Rima: não há um padrão rítmico fixo no madrigal, podendo variar desde rimas ricas a rimas simples, porém há um cuidado especial com a musicalidade, harmonia e expressividade do texto.
- Linguagem: emprega uma linguagem sofisticada, com intenso apelo visual e sonoro
- Figuras de linguagem: desempenham um papel importante na expressividade do poema, sendo utilizadas para dar profundidade ao significado das palavras.
Analisando um madrigal
Leia, a seguir, um poema de Torquato Tasso:
Qual orvalho, ou qual pranto,
que lágrimas aquelas
que vi correrem do noturno manto
e do luzente rosto das estrelas?
E por que semeou a branca lua
nuvens negras de gotas cristalinas
à relva das colinas?
Por que na noite escura
se ouviram, como gritos, mundo afora
caçar o vento a aurora?
Foram sinais, talvez, de que partiste
e eu, mudo, fiquei triste?
(Tradução de Érico Nogueira)
Esse madrigal traduz com delicadeza e lirismo o impacto da perda e da ausência da pessoa amada. Ao analisá-lo, podemos notar que o autor usa elementos da natureza e, inclusive, personifica a lua e a estrela (versos 4 e 5) para expressar seus sentimentos.
Com relação à estrutura, o poema possui rimas variadas e uma métrica não uniforme, com versos predominantemente decassílabos (versos 3, 4, 5, 6 e 11). Dessa forma, é um poema sem uma estrutura rígida, mas que mantém uma musicalidade suave e melódica típica do gênero.
Resumo das características do madrigal
Portanto, podemos resumir as características do madrigal da seguinte forma:
Composição poética
- Poemas curtos (geralmente monostróficos);
- temas amorosos e bucólicos; e
- estruturas poéticas simples.
Composição musical
- Composição polifônica para no mínimo duas vozes;
- com ou sem acompanhamento instrumental; e
- baseado em poemas curtos de amor ou textos pastorais.
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