Padre José de Anchieta: biografia, obras e relevância no Quinhentismo

Padre José de Anchieta: biografia, obras e relevância no Quinhentismo

Fundador de São Paulo e conhecido como o Apóstolo do Brasil, padre José de Anchieta foi uma figura de suma importância para a formação histórica e cultural da colônia

O Quinhentismo é a manifestação literária e cultural do século XVI no Brasil, marcada pela chegada dos portugueses e, em especial, pela ação jesuítica. Sua produção não tinha fins puramente estéticos, mas sim práticos: catequizar, educar e informar.

Neste contexto, a figura de Padre José de Anchieta é a mais central e influente, sendo um nome obrigatório para qualquer vestibular. Pensando nisso, o Portal do Estratégia Vestibulares preparou este artigo para você entender melhor quem foi o padre José de Anchieta, suas obras e relevância no Quinhentismo. Confira!

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Quem foi o Padre José de Anchieta?

José de Anchieta foi um notável padre missionário jesuíta. Ele nasceu em 19 de março de 1534, em Tenerife, uma das Ilhas Canárias localizada na Espanha. Aos catorze anos ingressou no Real Colégio das Artes e Humanidades de Coimbra.

No Reino de Portugal também ocorreu sua formação religiosa na Companhia de Jesus, ordem fundada por Santo Inácio de Loyola, considerada um importante braço da Contrarreforma Católica. 

Assim, em 1553, quando tinha 19 anos e ainda era noviço, foi enviado ao Brasil junto a outros missionários jesuítas, a pedido do Padre Manuel da Nóbrega, para catequizar os indígenas.

José de Anchieta também foi gramático, historiador, poeta e teatrólogo. Devido à grande relevância de seus trabalhos nessas áreas, é um nome de destaque na literatura e história brasileira. 

Além disso, por causa da sua incansável dedicação à catequese e à educação de indígenas e colonos, Anchieta é reconhecido pelo título de “Apóstolo do Brasil”, tendo sido beatificado em 1980 e, em 2014, canonizado.

A missão jesuítica de Anchieta no Brasil

No Brasil, Padre Anchieta atuou por mais de quarenta anos e foi o principal articulador da missão da Companhia de Jesus no Brasil Colônia

Para evangelizar os indígenas e moldar a sociedade colonial sob os valores cristãos, ele adotou estratégias de aproximação e adaptação. Dessa forma, ao invés de impor a cultura europeia de forma rígida, Anchieta buscou compreender a cultura e, principalmente, aprender o Tupi, a língua indígena. Essas foram ferramentas fundamentais para a efetivação da catequese.

Porém, em 1563, o missionário permaneceu refém por aproximadamente três meses, durante uma rebelião dos índios Tamoios. Esse evento foi crucial para a pacificação dos indígenas e consolidou a reputação do jesuíta na colônia.

Padre Anchieta: o missionário fundador

Além da forte atividade catequizadora, padre Anchieta, junto ao padre Manuel da Nóbrega, fundou o Colégio de São Paulo de Piratininga, em 25 de janeiro de 1554, dia de São Paulo Apóstolo. 

Devido a esse relevante acontecimento, essa data também é considerada o dia da fundação da cidade de São Paulo, uma vez que em torno do colégio começaram a surgir povoados, o que seria o embrião dessa grande metrópole.

Padre Anchieta também teve um papel fundamental na consolidação do Rio de Janeiro, como um dos fundadores e reitor do colégio jesuíta do Rio de Janeiro, erguido em 1567. Ademais, no período de 1587 até 1597, ano de seu falecimento, atuou como reitor do colégio jesuíta de Vitória, no Espírito Santo.

Padre Anchieta e a literatura de catequese

Diferentemente dos relatos de viagem, como a Carta de Pero Vaz e as crônicas de Pero de Magalhães Gândavo, que fazem parte da literatura de informação quinhentista, a literatura de catequese era voltada aos nativos indígenas.

Nesse sentido, a produção de catequese do Padre José de Anchieta é vasta e diversificada em gêneros. Dentre suas principais produções podem ser destacados os sermões, a poesia e os autos.

Os sermões 

Os sermões do padre Anchieta ensinavam a doutrina cristã e valores morais para nativos e colonos. Desse modo, frequentemente ele utilizava uma linguagem adaptada ao público, recorrendo a exemplos, parábolas e uma retórica direta para a evangelização.

Veja um trecho do sermão recitado no dia da conversão de São Paulo Apóstolo, no ano de 1568, em Piratininga:

“Queres, irmão, ser vazo escolhido de Deos? Ingredere civitatem, entra na cidade da gloria, lembrando-te que a poder de marteladas e pancadas se lavram os vazos, que lá entram, e com isto te parecerá suave o pezo da obediência, pobreza, castidade, fome, sede e trabalhos que padeces. […] Rompe tu também, irmão, este teu duro coração, para que entre Christo n’elle; deixa de pecar, pois vês, que na cidade do céo não entra pecado.”

ANCHIETA, José de. A conversão de S. Paulo: importante sermão do Padre José D’Anchieta (1568). São Paulo: Officinas Salesianas, 1895.

A poesia 

Na poesia, Anchieta abordava temas predominantemente religiosos, como o louvor a Deus, à Virgem Maria e aos santos. Esses poemas eram escritos em português, latim e tupi, o que facilitava sua difusão entre os nativos. 

Nesse sentido, merece destaque o “Poema à Virgem”, escrito em latim na areia da praia de Ubatuba, durante o período em que esteve como refém dos indígenas na Confederação dos Tamoios. No primeiro momento, ele teria decorado integralmente essa obra, composta por 5.786 versos, e transcreveu-a para o papel somente meses depois, quando estava em São Vicente. 

Para elucidar, leia um trecho do poema traduzido para o português:

“Por Ti Mãe, o pecador está firme na esperança,
Caminhar para o Céu, lar da bem-aventurança!
Ó Morada de Paz! Canal de água sempre vivo,
Jorrando água para a vida eterna!
Esta ferida do peito, ó Mãe, é só Tua,
Somente Tu sofres com ela, só Tu a podes dar.
Dá-me acalentar neste peito aberto pela lança,
Para que possa viver no Coração do meu Senhor!”

Autos catequéticos 

Era próprio dos missionários jesuítas no Brasil escrever poemas e peças teatrais para converter os nativos ao catolicismo. Dentro desse cenário, o “Teatro de Anchieta”, composto por autos catequéticos, rendeu ao missionário o reconhecimento de fundador do teatro brasileiro. Vale ressaltar que este aspecto de sua biografia é um dos mais cobrados em exames.

Características do teatro de Anchieta 

A catequese teatral utilizava recursos visuais e lúdicos, frequentemente em tupi e português. Essa abordagem permitia a quebra das barreiras linguísticas e atingia tanto os nativos quanto os falantes de língua portuguesa.

Assim, o enredo central girava em torno da luta entre o Bem e o Mal. Para transmitir essa mensagem de forma simples, eram encenadas passagens bíblicas e a vida dos santos, bem como eram utilizadas figuras que representam conceitos morais, como o anjo, o diabo, as virtudes e os pecados. Figuras indígenas também estavam presentes, podendo ser representadas como “bons” (os convertidos) ou “maus” (os demonizados, ligados ao Diabo).

O Auto de São Lourenço

O Auto de São Lourenço é uma das mais célebres peças do Padre Anchieta. Essa obra possui a particularidade de ter sido escrita em português, tupi e castelhano. Nela, é representada a batalha entre São Lourenço e anjos (o Bem) contra os diabos que tentam desviar os indígenas da fé cristã (o Mal), ridicularizando a virtude cristã e exaltando os costumes que os jesuítas condenavam (como a bebedeira e a poligamia), apresentando-os como um “bom viver”.

Esse auto costuma ser o mais relevante para os vestibulares, devido ao seu grande valor literário, linguístico e histórico. Leia, a seguir, um trecho da peça:

SEGUNDO ATO 

(Eram três diabos que querem destruir a aldeia com pecados, aos quais resistem São Lourenço, São Sebastião e o Anjo da Guarda, livrando a aldeia e prendendo os tentadores cujos nomes são: Guaixará, que é o rei; Aimbirê e Saravaia, seus criados)
[...]
(Vem São Lourenço com dois companheiros. Diz Aimbirê:) 

AIMBIRÊ: Há um sujeito no caminho que me ameaça de assalto. Será Lourenço, o queimado? 
SARAVAIA: Ele mesmo, e Sebastião. 
AIMBIRÊ: E o outro, dos três que são? 
SARAVAIA: Talvez seja o anjo mandado, desta aldeia o guardião. (São Lourenço fala a Guaixará:) 
SÃO LOURENÇO: Quem és tu? 
GUAIXARÁ: Sou Guaixará embriagado, sou boicininga, jaguar, antropófago, agressor, andirá-guaçu alado, sou demônio matador. 
[...]
SÃO LOURENÇO: Dizei-me o que quereis desta minha terra em que nos vemos. 
GUAIXARÁ: Amando os índios queremos que obediência nos prestem por tanto que lhes fazemos.
SÃO SEBASTIÃO: Quem foi que insensatamente, um dia ou presentemente? os índios vos entregou? Se o próprio Deus tão potente deste povo em santo ofício corpo e alma modelou! 
GUAIXARÁ: Deus? Talvez remotamente pois é nada edificante a vida que resultou. São pecadores perfeitos, repelem o amor de Deus, e orgulham-se dos defeitos. 
AIMBIRÊ: Bebem cuim a seu jeito, como completos sandeus ao cauim rendem seu preito. Esse cauim é que tolhe sua graça espiritual. Perdidos no bacanal seus espíritos se encolhem em nosso laço fatal.

As cartas do Padre Anchieta

Especialmente voltadas aos seus superiores na Europa, as cartas do Padre Anchieta tinham como função relatar os desafios da missão, os costumes, o cotidiano e os diversos elementos da natureza brasileira. Esses são, portanto, documentos mais informativos e históricos, considerados fontes primárias essenciais para o estudo do Brasil quinhentista, por conter descrições detalhadas da vida na colônia.

Leia um trecho da carta em que padre Anchieta fala sobre o cotidiano e o progresso da missão catequética dos nativos: 

“Na doutrinação dos índios, guardamos a mesma ordem: duas vezes por dia são chamados à igreja, pelo toque da campainha, ao qual açodem as mulheres daqui e dali, e lá recitam as orações no próprio idioma, recebendo ao mesmo tempo continuas exortações, e se instruindo em tudo quanto respeita ao conhecimento da fé.”

ANCHIETA, José de. Cartas inéditas: Carta fazendo a descripção das innumeras coisas naturaes, que se encontram na provincia de S. Vicente hoje S. Paulo seguida de outras cartas ineditas escriptas da Bahia. São Paulo: Typ. da Casa Eclectica, 1900

A contribuição linguística do Padre Anchieta

A ação de Anchieta foi ampla e não se limitou à literatura no sentido estrito, visto que também foi um pioneiro linguístico no Brasil. Assim, ele criou a primeira gramática da língua Tupi: “Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil”, publicada no ano de 1595, em Portugal. 

A obra teve papel essencial na catequese e na comunicação entre os missionários e os povos nativos, servindo como instrumento estratégico da ação jesuítica. Ao gramaticalizar o Tupi, Anchieta conferiu legitimidade e padronização a essa língua, criando uma ponte entre as tradições linguísticas europeias e a realidade indígena.

+ Veja também: Povos indígenas e a História do Brasil: histórico e perspectivas

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