Segunda Geração Romântica: contexto, características e autores

Segunda Geração Romântica: contexto, características e autores

A Segunda Geração Romântica, no Brasil, também é conhecida como a Geração Ultrarromântica. Os textos possuem características românticas, mas a temática volta-se para uma subjetividade mais melancólica e sombria, como a morte, paixões não correspondidas e outros aspectos negativos da vida. 

Neste texto, são apresentadas as principais características da Segunda Geração Romântica, os autores e obras mais importantes, bem como o contexto histórico e literário desse tipo de autores do Romantismo. Continue lendo e saiba mais!

Contexto histórico da Segunda Geração Romântica

As obras da Segunda Geração Romântica estão situadas entre 1853 e 1869. Em termos literários, esses escreveram em alguns anos após o nacionalismo ufanista proposto pelos escritores da Primeira Geração Romântica. 

Historicamente, o país acabara de conquistar a Independência, no ano de 1822. Entretanto, o processo de independência do Brasil não abrangeu toda a população, pois tinha um caráter mais conservador. As estruturas sociais e hierárquicas sofreram poucas alterações. 

Diante disso, alguns cidadãos adotaram uma postura cética em relação ao iluminismo, nacionalismo e todas as ideias defendidas na Revolução Francesa e durante o desenvolvimento da independência brasileira. 

A Segunda Geração Romântica do Brasil representa exatamente esse sentimento: os autores queriam se afastar dos ideais políticos, nacionalistas, indianistas e libertários propostos por seus antecessores. 

Do ponto de vista literário, ainda, é necessário citar a influência do famoso poeta inglês Lord Byron. Suas obras também datam do século XIX e tinham um cunho subjetivo, pessimista e, principalmente, de afastamento dos problemas sociais europeus. Assim, caminhava na contramão da visão e estilo de vida da Europa de sua época.

Com todo o afastamento político e social, os poetas da Segunda Geração do Romantismo foram mal vistos na sociedade. Por isso, receberam a nomeação pouco honrosa de geração do “mal do século”. Os que percebiam a semelhança com os textos de Byron também consideram que foi uma “Geração Byroniana” no Brasil. 

Características da Segunda Geração Romântica

Sentimentalismo

O aspecto mais notável entre as obras da Segunda Fase do Romantismo brasileiro é o sentimentalismo exacerbado. As poesias e prosas são compostas por diversos termos subjetivos, carregados de emoções do enunciador, em que ele expõe, principalmente tristeza, tédio e insatisfação com a vida. 

Amor não alcançado e melancolia

Em muitos textos é observada a temática do amor não alcançado. Há uma tendência em retratar a figura amada completamente idealizada, com descrições perfeitas e até etéreas, como se as mulheres apaixonantes e perfeitas estivessem “em um outro plano da existência”. Tudo isso servia para demonstrar que a amada e o enunciador do texto nunca poderiam ter um amor concretizado, como se as relações fossem utopias.

Ao mesmo tempo em que reconhecia que tal paixão era inalcançável, havia um desejo de que isso acontecesse. Nesse ponto entram os aspectos mais sentimentalistas, com um tom excessivamente melancólico, que lembram as declarações de pessoas que estão passando por um período depressivo. 

Egocentrismo

Nesse sentido, é importante mencionar uma tendência das obras ultrarromânticas em focar a temática apenas no sujeito que enuncia o texto. É uma espécie de egocentrismo, em que todas as questões externas, sociais e políticas não tinham importância quando comparados com o “eu” e suas preocupações cotidianas. 

Escapismo

Somada a essa característica egocêntrica está a fuga da realidade, que foi mencionada anteriormente. Em algumas obras observa-se uma necessidade extrema de fugir da vida interna como externa: como os sujeitos estavam sempre insatisfeitos com sua vivência amorosa e seu cotidiano, assim como não tinham preocupações com os problemas da sociedade, muitos deles não demonstraram contentamento com a vida e mencionaram a morte como uma forma de escape. 

Para além da morte como mecanismo de fuga, textos dessa fase do romantismo também apresentam uma tendência para a vida boêmia. Ou seja, valorização extrema dos prazeres e frivolidades, além de cultivo hábitos como etilismo e tabagismo. 

Saudosismo

O saudosismo dos escritos ultrarromânticos relaciona-se, principalmente, com lembranças da infância e adolescência. Muitos textos trazem uma visão idealizada sobre os tempos antigos, também como uma forma de escapar da realidade e dilemas da vida adulta.

Autores da Segunda Geração Romântica

Álvares de Azevedo (1831-1852)

Manuel Antônio Álvares de Azevedo escreveu diversos gêneros literários, entre eles contos, dramas e poesias. Como a obra teatral “Macário” (1855) e  o conto “Noite na Taverna” (1855). Mas as poesias são suas obras mais notáveis quando se trata do romantismo, com destaque para a “Lira dos Vinte Anos” (1853), que traz um forte caráter byroniano. 

Além da melancolia própria da corrente literária, o autor adiciona elementos próprios aos textos, que, muitas vezes, são repletos de sarcasmo e ironia. O estilo de vida boêmio também era vivenciado pelo autor e isso contribuiu para sua morte tão jovem, com apenas 21 anos.

Lira dos Vinte Anos

Veja um trecho da famosa poesia byroniana de Álvares de Azevedo:

“Parece que chorei… Sinto na face
Uma perdida lágrima rolando…
Satã leve a tristeza! Olá, meu pagem,
Derrama no meu copo as gotas últimas
Dessa garrafa negra…
Eia! bebamos!
És o sangue do gênio, o puro néctar
Que as almas de poeta diviniza,
O condão que abre o mundo das magias!
Vem, fogoso Cognac! É só contigo
Que sinto-me viver. Inda palpito,
Quando os eflúvios dessas gotas áureas
Filtram no sangue meu correndo a vida,
Vibram-me os nervos e as artérias queimam,
Os meus olhos ardentes se escurecem
E no cérebro passam delirosos

Assomos de poesia… Dentre a sombra
Vejo num leito d’ouro a imagem dela
Palpitante, que dorme e que suspira,
Que seus braços me estende… “

Observe, no texto, que o eu-lírico expressa uma tristeza profunda e conclama “Satã, leve a tristeza”. Ao mesmo tempo, busca escapar desse sentimento por meio da bebida (boêmia). No fim do trecho há referência a uma figura feminina, que aparece de forma mais distante do enunciador, como delírios, é a idealização etérea da mulher amada. 

Casimiro de Abreu (1839-1860)

Casimiro de Abreu é um poeta nascido no estado do Rio de Janeiro, que teve uma carreira brilhante e notável, especialmente na Segunda Geração do Romantismo brasileiro. Como formação, sua profissão era voltada para os negócios, mas durante seus estudos comerciais já tinha uma tendência literária. 

Diante disso, fez amizade com intelectuais e estudiosos da literatura, inclusive com o renomado escritor Machado de Assis. Sua inclinação se tornou notável quando publicou o livro “As Primaveras”, que acabou sendo sua única obra de poemas em toda sua vida. Além dessa, também escreveu uma peça chamada “Camões e o Jaú”, que ganhou fama em Portugal, quando o poeta estudava em Lisboa.

Infelizmente, sua carreira foi relativamente curta, porque iniciou-se com apenas 18 anos e, alguns anos depois, o escritor faleceu, devido à tuberculose, aos 21 anos. À semelhança de seus colegas literários, acredita-se que a vida boêmia contribuiu para a morte precoce.

As Primaveras – Meus Oito Anos

Como foi mencionado, a única obra de poemas publicada por Casimiro de Abreu é “As Primaveras”. Mas o livro continha dezenas de textos, abaixo está descrito o mais famoso deles: “Meus Oito anos”.

“Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!”

A principal característica desse escrito é o saudosismo. O autor utiliza-se do sentimentalismo e subjetividade para descrever os “bons tempos da infância” de maneira idealizada, como uma forma de fugir da realidade atual, da vida presente — como se pensar em outros tempos fosse um conforto para sua mente. Essas conclusões são construídas a partir da junção dos outros poemas que formam a coletânea “As Primaveras”. 

Junqueira Freire (1832-1855)

Outro escritor famoso da Segunda Geração do Romantismo foi Luís José Junqueira Freire. Baiano de Salvador, o poeta teve uma trajetória bem diferente de seus companheiros literários, seu principal cargo durante a vida foi ser monge. 

A maior parte de suas obras foram publicadas enquanto exercia essa função religiosa e citavam o tema, mas, em determinado momento, o autor desistiu dessa posição. Depois disso, sua trajetória de vida foi muito curta, porque tinha problemas cardíacos que causaram sua morte aos 23 anos. 

Inspirações do Claustro

Suas principais obras são Autobiografia (1854) e Inspirações do Claustro (1855). Acompanhe um trecho dessa última a seguir, leia atentamente e observe o tom melancólico e sentimentalista, com aversão pelo amor e paixões. 

“Oh! morra o coração — germen fecundo
De mil tormentos;
Desfalleçam-lhe as fibras — espedacem-se
Os filamentos.

Isenta de paixões — de amor, ou odio,
Surja a razão;
Não obedeça escrava aos sentimentos
Do coração.”

Fagundes Varella (1841-1875)

Luís Nicolau Fagundes Varella foi um poeta que também nasceu no estado do Rio de Janeiro e escreveu poemas com diferentes temáticas. Em geral, predomina o sentimentalismo, o pessimismo e a melancolia da Segunda Geração Romântica.

Entretanto, uma análise cuidadosa dos textos permite reconhecer traços do nacionalismo dos românticos da Primeira Fase, assim como as críticas sociais características da Terceira Geração Romântica. 

Cântico do Calvário 

A obra mais famosa de Fagundes Varella chama-se “Cântico do Calvário”, o texto é extremamente melancólico e fúnebre. De fato, foi inspirado no falecimento do filho do autor, que faleceu ainda bebê e chamava-se Emiliano. Observe o saudosismo e idealização sobre a criança, assim como a profunda tristeza expressa pelo autor. 

“Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives!”

Questão sobre Segunda Geração Romântica

(Unesp/2016) Outro traço importante da poesia de Álvares de Azevedo é o gosto pelo prosaísmo e o humor, que formam a vertente para nós mais moderna do Romantismo. A sua obra é a mais variada e complexa no quadro da nossa poesia romântica; mas a imagem tradicional de poeta sofredor e desesperado atrapalhou a reconhecer a importância de sua veia humorística.

(Antônio Candido. “Prefácio”. In: Álvares de Azevedo. Melhores poemas, 2003. Adaptado.)

A veia humorística ressaltada pelo crítico Antônio Candido na poesia de Álvares de Azevedo está bem exemplificada em:

a) Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão? 
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

b) Ontem tinha chovido…
Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama…

c) Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

d) Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

e) Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

O humor em Álvares de Azevedo fica evidente no trecho da alternativa B. Isso decorre da descrição de uma cena cômica em que o eu lírico, elegantemente vestido (roupas tafuis), se vê enlameado por conta da passagem de uma carroça após um dia de chuva. Cuidado: aqui está sendo cobrada uma característica incomum da obra do autor, conhecida pelos temas básicos do pessimismo e da melancolia.

Gabarito: alternativa B.

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