Terceira Geração Romântica: contexto, características e autores

Terceira Geração Romântica: contexto, características e autores

O Romantismo está entre as correntes literárias mais famosas, marcado por profunda idealização e temas como o amor. Entretanto, há diferentes fases dentro do Romantismo, que são agrupadas conforme as características estéticas e temáticas da obra. Neste artigo, aprenda sobre a Terceira Geração Romântica no Brasil, com seus aspectos principais. 

Contexto histórico da Terceira Geração Romântica

A Terceira Geração Romântica, no Brasil, desenvolveu-se entre os anos de 1870 e 1880. Nesse período histórico, o Brasil já era uma nação independente e estava em pleno desenvolvimento. A principal força motriz para o crescimento da economia era o café.

Para isso, grande parte das fazendas cafeicultoras utilizavam a mão de obra escrava. Historicamente, os indígenas resistiram vorazmente à escravização, mas o tráfico negreiro estava a todo vapor como parte da máquina do café brasileiro. 

Nesse contexto, surgem as obras da Terceira Geração Românticas. Os poetas não concordavam com as práticas políticas e sociais implementadas e as criticavam em seus textos. A luta pela liberdade negra era tão intensa que essa corrente literária é conhecida como Geração Condoreira, em semelhança ao Condor, uma ave que era símbolo da liberdade.

O simbolismo entre a ave e a libertação foi criado pelo autor francês Victor Hugo. Ele também manifestava fortes críticas sociais à nação francesa e as representava em seus textos, a exemplo da famosa obra “Os Miseráveis”, que aborda desigualdade e injustiça social. A semelhança entre os autores brasileiros e as temáticas do escritor francês também atribui o nome de “Geração Hugoana” para a Terceira Fase do Romantismo.

Características da Terceira Geração Romântica

Engajamento social

O Romantismo teve uma trajetória bem definida no Brasil: os poetas da primeira fase enfatizavam o nacionalismo e a identidade cultural brasileira, o segundo grupo se alienou completamente às questões políticas e sociais e, na Terceira Geração Romântica, surge novamente uma “chama social”.

Então, diferentemente de seus antecessores, os autores da terceira fase tinham um completo engajamento com a sociedade, tecendo críticas ferrenhas contra a estrutura escravista, com consciência sobre o cenário político-social do Brasil da época.

A intenção do grupo era que suas obras atingissem não somente a elite, mas também as pessoas que tivessem acesso às publicações mais populares, como os impressos diários. Os escritos eram como grandes convites à luta antiescravista e outros embates sociopolíticos.

Por isso, as poesias condoreiras eram compostas com o objetivo de serem lidas em voz alta, ao público, chamando atenção e em tom de convocação. Inclusive, algumas delas traziam a temática republicana, como instrumento de difundir esse sistema político na sociedade. 

Inclusive, há relação da Terceira Geração Romântica com intelectuais revolucionários do século XIX, como José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e Luís da Gama. Todos envolvidos na defesa do republicanismo e/ou abolicionismo.

Liberdade

É preciso manter em mente o símbolo do condor, ou seja, os textos tinham um caráter libertário. Os autores tinham uma intencionalidade em estabelecer a liberdade dentro da sociedade, conforme os padrões da época. Inclusive, há indícios de que eles tinham inclinações positivistas, acreditando na evolução da sociedade em estágios, como propôs Auguste Comte

Amor possível e erotismo

Nas temáticas amorosas, os textos hugoanos consideravam o amor como algo tangível, abandonando a ideia da Segunda Geração de que as relações amorosas são utópicas. Um ponto importante entre os condoreiros é a tendência pela descrição idealizada e erotizada, sensualidade que não aparece nas fases anteriores. 

Estética literária 

A Terceira Geração Romântica apresenta uma preocupação formal mais marcante do que nas outras fases do romantismo brasileiro. Acredita-se que muitos autores eram simpatizantes do Parnasianismo e isso influenciou na estrutura da escrita romântica.

Autores da Terceira Geração Romântica

Castro Alves (1847-1871)

Antônio Frederico Castro Alves é o autor considerado como representante da literatura condoreira no Brasil. Foi um poeta baiano que teve um grande engajamento na questão abolicionista do século XIX, tanto que ficou conhecido como “o poeta dos escravos”.

A maior parte de suas obras são voltadas para essa temática, embora também tenha escrito textos de amor, que não ganharam tanta notoriedade quanto aquelas de cunho político e social. Sua trajetória na literatura foi relativamente curta, porque o escritor faleceu aos 24 anos, contaminado pela micobactéria que causa tuberculose.

Suas obras mais marcantes são Espumas flutuantes (1870), Gonzaga, ou A Revolução de Minas (1875), A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), O Navio Negreiro (1880) e Os Escravos (1883). 

Navio negreiro

Uma de suas obras mais notórias é “O Navio Negreiro”, que é um poema criado para retratar a realidade de pessoas que foram traficadas da África e escravizadas nas fazendas de café do Brasil do século XIX. Veja um trecho dessa obra que impactou os leitores da época:

“ Era um sonho dantesco… o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros… estalar de açoite…

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar…

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente…

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais …

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos… o chicote estala.

E voam mais e mais…

Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,

E após fitando o céu que se desdobra,

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!..” ”

Joaquim Nabuco (1849-1910)

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo é um autor da Terceira Geração Romântica que nasceu na cidade de Recife, no estado de Pernambuco. Além de poeta, também era político e jornalista, com relevância na luta abolicionista do país.

Ele é contado entre os maiores porta-vozes do movimento antiescravista do Brasil, inclusive criou a Sociedade Anti escravidão Brasileira, no ano de 1880. Parte de sua luta nasceu ainda em sua infância, porque ele conviveu nos engenhos por muito tempo, onde observava o tratamento e comportamento adquirido naquele ambiente. Quando adulto, percebeu que não concordava com a prática e se engajou nas lutas sociais. 

Suas principais obras são  Camões e os Lusíadas (1872), O Abolicionismo (1883), Campanha abolicionista no Recife (1885), O Erro do Imperador (1886), Escravos (1886), entre outras.

O Abolicionismo 

As obras de Nabuco tinham um caráter argumentativo, veja um trecho de seu livro “O Abolicionismo”:

“Nesse sentido, deve-se dizer que o abolicionista é o advogado gratuito de duas classes sociais que, de outra forma, não teriam meios de reivindicar os seus direitos, nem consciência deles. Essas classes são: os escravos e os ingênuos. Os motivos pelos quais essa procuração tácita impõem-nos uma obrigação irrenunciável não são puramente – para muitos não são mesmo principalmente – motivos de humanidade, compaixão e defesa generosa do fraco e do oprimido.”

Neste outro trecho o autor discorre sobre a propaganda abolicionista, relatando quem deve se engajar e ser atingido pelo movimento. Além disso, cita nomes de estudiosos que também participaram do antiescravismo em outros países.

“A propaganda abolicionista, com efeito, não se dirige aos escravos. Seria uma covardia, inepta e criminosa, e, além disso um suicídio político para o partido abolicionista, incitar à insurreição, ou ao crime, homens sem defesa, e que a lei de Lynch, ou a justiça pública, imediatamente haveria de esmagar.
Covardia, porque seria expor outros a perigos que o provocador não correria com eles; inépcia, porque todos os fatos dessa natureza dariam como único resultado para o escravo a agravação do seu cativeiro; crime, porque seria fazer os inocentes sofrerem pelos culpados. além da cumplicidade que cabe ao que induz outrem a cometer um crime; suicídio político, porque a nação inteira – vendo uma classe, e essa a mais influente e poderosa do Estado, exposta à vindita bárbara e selvagem de uma população mantida até hoje ao nível dos animais e cujas paixões, quebrado o freio do medo, não conheceriam limites no modo de satisfazer-se – pensaria que a necessidade urgente era salvar a sociedade a todo o custo por um exemplo tremendo, e este seria o sinal de morte do abolicionismo de Wilbeforce, Lamartine, e Garrison, que é o nosso, e do começo do abolicionismo de Catilina ou de Espártaco, ou de John Brown.”

Sousândrade (1833-1902)

Joaquim de Sousa Andrade, mais conhecido como Sousândrade, é um escritor e poeta brasileiro que também engajou-se nas temáticas da Terceira Geração Romântica. Maranhense e formado na França, ele defendia ideias abolicionistas e republicanas, de encontro com vários de seus contemporâneos. 

Seu instinto político era marcante a ponto de ser prefeito da capital maranhense, São Luís. Inclusive, ele criou o design da bandeira do Maranhão, que persiste até os dias atuais. O desenho abrange sua preocupação social, por que as três cores (azul, branco e vermelho) foram inseridas intencionalmente para representar as diversas etnias que constituem o estado. 

Suas obras possuíam aspectos típicos e, por isso, também são precursoras do modernismo que surgiria algumas décadas depois. Entre elas podemos destacar “Harpas Selvagens” (1857), “O Guesa Errante” (1884) e “Harpa de Ouro” (1889).

O Guesa Errante 

Nessa obra de notória importância histórica, o autor descreve um enredo para exemplificar a aculturação e dificuldades enfrentadas pelos indígenas na ocasião de encontro com os europeus. Diferentemente de seus colegas românticos da Primeira Geração, que idealizavam um encontro mitológico entre brancos e índios. Acompanhe um trecho do poema:

“Sem as sombras dos reis filhos de Manco,

Viu-se… (que tinham feito? e pouco havia

A Fazer-se…) num leito puro e branco

A corrupção, que os braços estendia!

“E da existência meiga, afortunada,

O róseo fio nesse albor ameno

Foi destruído. Como ensaguentada

A terra fez sorrir ao céu sereno!

“Foi tal a maldição dos que caídos

Morderam dessa mãe querida o seio,

A contrair-se aos beijos, denegridos,

O desespero se imprimi-los veio, –

“Que ressentiu-se verdejante e válido,

O floripôndio em flor; e quando o vento

Mugindo estorce-o doloroso, pálido,

Gemidos se ouvem no amplo firmamento!

“E o sol, que resplandece na montanha

As noivas não encontra, não se abraçam

No puro amor; e os fanfarrões d’Espanha,

Em sangue edêneo os pés lavando, passam.”

+ Veja mais: 6 leis sobre escravidão sancionadas antes da Lei Áurea

Questão sobre a Terceira Geração Romântica

(Enem/2020)

O laço de fita

Não sabes, criança? ‘Stou louco de amores…

Prendi meus afetos, formosa Pepita.

Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!

Não rias, prendi-me

Num laço de fita.

Na selva sombria de tuas madeixas,

Nos negros cabelos de moça bonita,

Fingindo a serpente qu’enlaça a folhagem,

Formoso enroscava-se

O laço de fita.

[…]

Pois bem! Quando um dia na sombra do vale

Abrirem-me a cova… formosa Pepita!

Ao menos arranca meus louros da fronte,

E dá-me por c’roa…

Teu laço de fita.

ALVES, C. Espumas flutuantes. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 ago. 2015 (fragmento). 

Exemplo da lírica de temática amorosa de Castro Alves, o poema constrói imagens caras ao Romantismo. Nesse fragmento, o lirismo romântico se expressa na

a) representação infantilizada da figura feminina.

b) criatividade inspirada em elementos da natureza.

c) opção pela morte como solução para as frustrações.

d) ansiedade com as atitudes de indiferença da mulher.

e) fixação por signos de fusão simbólica com o ser amado.

A fusão se verifica por meio da imagem da prisão: “Prendi meus afetos” e “prendi-me /Num laço de fita”, como símbolo do enlace amoroso. Ao se repetir, o símbolo se fixa. A paixão que sente o poeta se amarra à moça mediante a fita, e é tão forte que é capaz de superar até mesmo a morte. Lembrando que o sentimentalismo exacerbado é justamente uma das principais características românticas.

Gabarito: alternativa E. 

+ Veja mais: Literatura brasileira: panorama histórico das principais escolas

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