Verso livre: definição, modernismo e exemplos

Verso livre: definição, modernismo e exemplos

Uma poesia escrita em versos livres contém estrofes com frases que não seguem uma métrica específica, então o número de sílabas entre as orações não é semelhante entre si e a escrita não leva esse aspecto em consideração. 

Esse tipo de escrita surgiu como uma inovação na Literatura, por caminhar na contramão das ideias propostas pelas academias literárias. Diante disso, também foram utilizados como uma forma de oposição ao academicismo nas artes escritas. Continue lendo e conheça mais características dos versos livres. 

Conceito

Para entender os versos livres é preciso, anteriormente, estar ciente sobre a estrutura de uma poesia literária. Os textos poemáticos são organizados em versos, que são as linhas do poema. Um grupo de versos forma uma estrofe e uma ou mais estrofes são suficientes para formar a poesia. 

Em geral, na poesia clássica academicista, existe uma estrutura canônica que padroniza o número de sílabas que devem existir em cada verso da estrofe, criando uma organização métrica rígida para o texto. 

Diante disso, os versos livres surgem como uma oposição aos padrões acadêmicos, uma vez que há inexistência de um divisão métrica entre as palavras. Por essa razão, alguns teóricos preferem nomeá-los como versos irregulares ou versos heterométricos. 

Além da subversão dessa estrutura, alguns versos livres também deixam de lado as rimas. Embora essa característica pode ser observada nesses textos, é importante evidenciar que um verso livre pode ter rima, musicalidade e ritmicidade, entretanto a padronização silábica e a escansão não devem aparecer. 

Características do verso livre

O aspecto principal de um verso livre está em sua oposição à versificação tradicional, sem um número fixo de sílabas contadas em cada linha do poema, assim como a acentuação tônica das palavras poderia ser disposta livremente, sem a necessidade de distribuí-las regularmente ao longo das estrofes. 

Para além dessa definição prática, a compreensão de verso livre vai além das questões de métrica, organização e estrutura. Tratam-se de textos intencionalmente criados para inovar a arte literária e trazer novas perspectivas e disposições para a escrita livre do autor. 

Essa característica aponta, justamente, para uma forte corrente literária que se desenvolveu no século XX, o Modernismo. Famosos pela oposição aos padrões acadêmicos, os modernistas escreveram versos livres, de temáticas variadas e que iam na contramão daquilo que era proposto entre os grandes críticos literários da época.

Algumas das características inovadoras implantadas por eles permanecem até os dias atuais, como a poesia e a arte contemporânea que valorizam cada vez mais a inovação, as obras inéditas, as ideias mais subversivas dentro daquilo que se julga “normal”.

Mas essa tendência não surgiu isoladamente, na verdade, ao longo da história é possível encontrar diferentes autores que escreviam em versos livres em diversas partes do mundo. No Brasil, por exemplo, um poeta simbolista chamado Adalberto Guerra Duval já escrevia textos sem metrificação, com destaque para a obra  “Palavras que o Vento Leva…” (1900).

Veja um trecho da poesia Castelos no ar de Guerra Duval:

“A vida é o sonho de um sonho sonhado.
FICHTE

Sonhos, noites, lagos noturnos e luares;
olhos, olhares…

Quando o luar dos teus olhos aos meus olhos desce
a minh’alma empalidece;
todo eu fico a tremer,
e tu passas sem me ver,
no teu lento passo acompassado…
Ao ver-te passar, eu sinto que me crescem asas,
e leve de culpa e de pecado
ponho-me a voar, a voar,
numa volúpia nova, pelo azul dos ares,
— pelo Reino dos Luares, —
acima das misérias e das casas
té encontrar pelo caminho
um dos meus Castelos no Ar…
Lá, se tu quisesses, pela primavera,
íamos fazer o nosso ninho.

(Minha Sombra Azul, cor de Quimera,
quando o luar dos teus olhos os meus olhos banha,
na noite da minh’alma entra uma luz estranha.)
0 meu alcácer é um fantástico tesoiro,
um palácio astral mitrado dum zimbório d’oiro:
no parque, alabastros de ninfas e mármores de musas,

no jardim, as rosas brancas são pálidas reclusas,
e as sanguíneas papoilas
um bando saudável de rústicas moçoilas;
dentro, numa sala imensa,
em quadros murais da Renascença,
vivem sonetos do Aretino
e a legenda sutil de Leda e do Cisne divino.
Quando o olhar dos teus olhos me veste de luar
dentro da minh’alma ha um Cisne a cantar.)”

Movimentos vanguardistas como o simbolismo e o futurismo também tinham uma perspectiva inovadora e oposta ao academicismo. Assim, é possível encontrar autores dessas épocas que simpatizavam e escreviam em forma de versos livres. 

Diferença de verso livre e verso branco 

Se os versos livres são construídos na contramão da métrica poemática, como foi mencionado, eles podem conter rimas. Diante disso, foi necessário criar uma nova classificação para os versos que evitam as rimas a qualquer custo. 

Versos brancos, então, são poesias escritas de forma que a rima não está presente. Ou seja, podem possuir métrica, organização silábica e estrutura bem definida, mas a musicalidade criada por versos com sonoridade semelhante não pode ser encontrada.

Perceba a diferença conceitual entre ambas as classificações. Ainda, note que é possível construir versos livres e brancos ao mesmo tempo, basta evitar a presença de rimas e também as métricas dentro do mesmo conteúdo. 

Exemplo

Mãos dadas

“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.”

(Carlos Drummond de Andrade)

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