Vilancete: o que é, características e origens históricas

Vilancete: o que é, características e origens históricas

Você conhece o vilancete? Entenda como ele se estrutura dentro do poema e qual sua relevância para a tradição literária portuguesa

Entre as diversas formas poéticas que marcaram a literatura portuguesa, o vilancete se destaca por sua musicalidade, leveza e concisão. Com origens na tradição trovadoresca e grande presença nos cancioneiros medievais, esse tipo de composição encantava leitores e ouvintes com seus temas amorosos, bucólicos e, por vezes, religiosos.

Embora menos conhecido do que o soneto ou a redondilha, o vilancete representa uma etapa importante na evolução da lírica em língua portuguesa, destacando traços culturais e artísticos de uma época em que a poesia era feita para ser cantada. 

Compreender suas características e sua estrutura é fundamental para quem deseja aprofundar o conhecimento sobre os gêneros poéticos e se preparar bem para as provas. Para conhecer mais, continue lendo este artigo que o Estratégia Vestibulares preparou, contendo os pontos mais importantes sobre o assunto.

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Conceito de vilancete

Trata-se de um poema de forma fixa que se caracteriza por sua brevidade, musicalidade e temática popular. De origem ibérica, esse tipo de composição era comum nos cancioneiros medievais e renascentistas, especialmente em Portugal e na Espanha. 

Tradicionalmente, o vilancete apresenta versos curtos e um refrão, conhecido como mote, que se repete ao longo do poema, enfatizando a musicalidade e o efeito rítmico.

Esse gênero de poesia costumava abordar temas festivos, religiosos ou ligados ao cotidiano do povo, como celebrações sazonais, danças, costumes regionais e até elementos da vida camponesa. 

Sua linguagem acessível e o uso de recursos como repetições, paralelismos e rimas simples o tornavam ideal para ser cantado ou declamado em festas públicas e cerimônias religiosas. Por isso, o vilancete é visto como uma forma de expressão da cultura popular dentro da tradição literária.

O vilancete na história da literatura

Suas raízes históricas estão na Península Ibérica medieval, especialmente entre os séculos XIII e XV, quando era utilizado como forma poética ligada à música e à tradição oral. 

Presente nos cancioneiros galego-portugueses, o vilancete era cantado em festividades populares e religiosas, o que explica sua estrutura marcada pelo refrão e sua forte musicalidade.

Durante o Renascimento, o vilancete foi incorporado à produção erudita, mantendo seu tom leve e popular, mas ganhando refinamento formal. Autores como Gil Vicente e Camões exploraram essa forma em suas obras, valorizando temas amorosos, naturais e espirituais. 

Nos séculos XVI e XVII, os vilancetes também passaram a ser compostos para ocasiões litúrgicas, especialmente no período Barroco, quando eram usados em celebrações religiosas, como o Natal, com letras em português ou espanhol e arranjos musicais elaborados.

Com o passar do tempo, o uso do vilancete foi diminuindo na produção literária moderna, mas sua influência sobreviveu em manifestações culturais e musicais populares, como os autos, e até em certas canções folclóricas. 

Na contemporaneidade, ainda que pouco praticado como forma fixa, o vilancete ainda desperta o interesse de estudiosos, acadêmicos e poetas que buscam resgatar tradições poéticas antigas ou experimentar com estruturas clássicas de maneira renovada.

Tipos e variedades de vilancetes

Embora o vilancete seja tradicionalmente associado a uma estrutura fixa — com um mote (refrão) seguido de estrofes que o retomam —, essa forma conheceu variações ao longo dos séculos, tanto na métrica quanto nos temas. 

Em sua versão clássica, cada verso apresenta sete sílabas métricas (redondilha maior) ou, mais raramente, cinco sílabas (redondilha menor), o que o liga à chamada “medida velha” da poesia portuguesa. 

Quando o último verso do mote se repete no final de cada estrofe, o vilancete é considerado perfeito, reforçando ainda mais sua musicalidade e estrutura circular. Um exemplo clássico pode ser observado neste vilancete de Luís de Camões, que segue o modelo mais comum de rimas (ACC no mote e ABBA ACC na volta):

Mote:
Enforquei minha Esperança;
Mas Amor foi tão madraço,
Que lhe cortou o baraço.

Volta:
Foi a Esperança julgada
Por sentença da Ventura
Que, pois me teve à pendura,
Que fosse dependurada:
Vem Cupido com a espada,
Corta-lhe cerce o baraço.
Cupido, foste madraço.

Outro exemplo inserido nesse contexto mais antigo é este trecho, presente na obra “Auto da História de Deus”, de Gil Vicente.

Mote:
Adorae montanhas
O Deos das alturas,
Tambem as verduras,

Volta:
Adorae desertos
E serras floridas
O Deos dos secretos,
O Senhor das vidas;
Ribeiras crescidas
Louvae nas alturas
Deos das creaturas.

Louvae arvoredos
De fruto presado,
Digam os penedos:
Deos seja louvado,
E louve meu gado
Nestas verduras
Deos das alturas.

Os temas mais frequentes dos vilancetes envolvem a saudade, o ambiente campestre e seus elementos simbólicos — como pastores e rebanhos —, além do amor não correspondido e o sofrimento que dele decorre.

Esses temas demonstram a influência da poesia trovadoresca e também de autores como o italiano Francesco Petrarca, cuja lírica amorosa inspirou muitos poetas ibéricos no período renascentista.

Com o tempo, a estrutura tradicional do vilancete passou a ser flexibilizada, e mesmo na contemporaneidade, ainda que o nome “vilancete” não seja frequentemente utilizado, muitos poetas exploram características similares: versos curtos, ritmo marcado, repetição, musicalidade e temas cotidianos ou afetivos.

No Brasil, autores como José Paulo Paes se aproximam da forma e do espírito do vilancete em composições breves e rimadas, como neste poema retirado da obra “Prosas seguidas de odes mínimas:

O tempo é um rio calado
em que se ouve, de repente,
o grito de um afogado.

Outro exemplo é de Marina Colasanti, que em diversos textos poéticos resgata o tom lírico e os temas sentimentais com simplicidade e profundidade. Em um de seus poemas curtos, retirado de “Mais do que os olhos podem ver” ela escreve:

Entre um suspiro e outro
esqueci de dizer que te amo.
Mas você ouviu.

Embora esses poemas não sejam vilancetes em sentido estrito, eles dialogam com a tradição dessa forma, uma vez que unem concisão, musicalidade e sensibilidade, evidenciando como a essência do vilancete ainda pode ser sentida na poesia contemporânea brasileira.

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