Olá, prezados alunos.
A nossa equipe de português é composta por três professores da área: Fernando, Luana e Celina.
Meu nome é Fernando Andrade. Sou Bacharel em Letras Português/Alemão e Bacharel e licenciado em Filosofia, ambos obtidos na Universidade de São Paulo (USP).
Além disso, sou Mestre em Teoria Literária pela mesma instituição. Atualmente, sou Professor de Literatura Portuguesa em Curso de Graduação. Tenho mais de 20 anos dedicados ao magistério, sendo 15 no tablado de algum curso pré-vestibular.
O meu nome é Luana. Sou Mestra em Literatura e Práticas Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e Doutoranda em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Tenho 9 anos de experiência com revisão e padronização textual e 8 anos em cursinho pré-vestibular, tendo passado por instituições conhecidas e renomadas.
Nós somos do Estratégia Vestibulares, uma empresa voltada para a área de Educação com muita experiência e sucesso em concursos públicos. Estamos começando agora no ramo de vestibulares e não iremos sossegar enquanto não conquistarmos a sua aprovação.
Hoje nós iremos resolver a prova do vestibular UEMA 2020. Este material foi produzido por: professores Celina, Luana e Fernando. Lembrem-se sempre de nosso lema:
“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”.
UEMA 2020
Questão 01
O livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi publicado em folhetins no ano de 1853. Caracteriza-se por documentar os costumes, os comportamentos e os tipos sociais da classe média da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VI, ignorados pela literatura até então. É considerado um clássico da literatura brasileira do século XIX.
O fragmento a seguir é parte do capítulo intitulado Estralada, no qual o personagem Leonardo Pataca, para vingar-se de um desafeto seu, contrata o valentão Chico-Juca. Leia-o para responder à questão 01.
[…]
— Isto passa de mais… varro… menos essa, senhor Chico-Juca; nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha…
O Chico-Juca estava com efeito há mais de meia hora a dirigir graçolas das suas a uma moça que ele bem sabia que era coisa do rapaz que estava tocando; tanto fez que este, tendo percebido, proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir.
— Você respinga?!… – respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele.
O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou:
— Tenho dito, nada de graças com ela!…
[…]
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
A voz narrativa predominante no livro Memórias de um Sargento de Milícias é a 3ª. pessoa, o que pode criar um certo distanciamento do narrador em relação aos fatos narrados. No fragmento, nota-se que essa voz oscila, revelando um narrador que se coloca como testemunha da situação retratada, conforme o seguinte trecho:
a) “— Tenho dito, nada de graças com ela!…” (5º.§)
b) “[…] proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir.” (2º.§)
c) “[…] nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha…” (1º.§)
d) “— Você respinga?!… respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele.” (3º.§)
e) “O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou:” (4º.§)
Resolução Comentada
- Alternativa “a”: incorreta. Esse trecho constitui um discurso direto, no qual o narrador permite que o personagem expresse sua opinião. Não há elemento linguístico que indique a presença do narrador no fragmento.
- Alternativa “b”: correta. Ao se valer da primeira pessoa do plural em “acabamos de ouvir”, o narrador inclui o leitor e ele mesmo como espectadores da cena.
- Alternativa “c”: incorreta. Esse é um fragmento de discurso direto, a presença do eu em “é cá coisa minha” se aplica ao personagem e não ao narrador.
- Alternativa “d”: incorreta. Trata-se de discurso direto sem termo que permita localizar a presença do narrador.
- Alternativa “e”: incorreta. Trata-se de um fragmento objetivo sem marcação da presença do narrador.
Gabarito: B.
Questão 02
O fragmento a seguir foi extraído do capítulo Despedida às travessuras. Nele, narram-se as traquinagens de Leonardo durante uma procissão que representava a via-sacra.
[…] Era a via-sacra do Bom Jesus.
Há bem pouco tempo existiam ainda em certas ruas desta cidade cruzes negras pregadas pelas paredes de espaço em espaço.
Às quartas-feiras e em outros dias da semana saía do Bom Jesus e de outras igrejas uma espécie de procissão composta de alguns padres conduzindo cruzes […] Caminhavam eles em charola atrás da procissão, interrompendo a cantoria com ditérios em voz alta, ora simplesmente engraçados, ora pouco decentes; levavam longos fios de barbante, em cuja extremidade iam penduradas grossas bolas de cera. Se ia por ali ao seu alcance algum infeliz, a quem os anos tivessem despido a cabeça dos cabelos, colocavam-se em distância conveniente e, escondidos por trás de um ou de outro, arremessavam o projétil que ia bater em cheio sobre a calva do devoto; puxavam rapidamente o barbante, e ninguém podia saber donde tinha partido o golpe. Essas
e outras cenas excitavam vozeria e gargalhadas na multidão.
Era a isto que naqueles devotos tempos se chamava correr a via-sacra.
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
Os pronomes demonstrativos, em certos contextos, além de sua função coesiva, atuam com recurso estilístico.
Em “Era a isto que naqueles devotos tempos se chamava correr a via-sacra.”, o pronome “isto”, ao retomar o parágrafo anterior, e associado ao adjetivo devotos, sugere, na fala do narrador, um tom
a) confessional.
b) convencional.
c) comovido.
d) depreciativo.
e) vacilante.
Resolução Comentada
Nesse caso a análise somente do pronome não basta para perceber sua função. É preciso perceber a que outras palavras o “isto” se liga.
- Alternativa “a”: incorreta. Para ser confessional o “isto” deveria se ligar a expressões de caráter subjetivo, contudo no fragmento o “eu” não aparece.
- Alternativa “b”: incorreta. O convencional para o uso do “isto” seria sua função coesiva. Ora, essa função já foi descartada no enunciado da questão. A banca não quer só a análise coesiva.
- Alternativa “c”: incorreta. Não há na frase expressões sentimentais as quais o “isto” se associa.
- Alternativa “d”: correta. O “isto” está relacionado à “via-sacra”. Por si, a palavra tem caráter respeitoso, mas no contexto das diabruras do personagem “via-sacra” tem caráter irônico, de depreciação da sacralidade aludida.
- Alternativa “e”: incorreta. Para ter caráter vacilante, o “isto” deveria se associar a uma expressão dúbia ou a um “talvez”. A afirmação onde aparece o pronome é positiva, assertiva.
Gabarito: D.
Questão 03
O fragmento seguinte integra o primeiro capítulo do livro Memórias de um Sargento de Milícias, intitulado Origem, nascimento e batizado. Leia-o para responder à questão que segue.
[…] Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente que temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo. […]
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
No contexto, o fragmento “Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo[…]”, de acordo com as relações sintático-semânticas, contém o sentido equivalente à
a) oposição.
b) condicionalidade.
c) conformidade.
d) comparação.
e) finalidade.
Resolução Comentada
A palavra “ora” pode significar “agora”, ou como partícula tem função conjuntiva e conclusiva quando introduz um argumento ou quando apresenta uma alternância.
- Alternativa “a”: O “ora” não tem função de oposição, função que só poderia ser exercida por “mas” ou “contudo”, por exemplo.
- Alternativa “b”: incorreta. A condicionalidade é expressa pelo “se” ou por advérbios como “talvez”; se o “ora” fosse associado a um verbo no subjuntivo, a partícula poderia manifestar condicionalidade.
- Alternativa “c”: incorreta. O “ora” não se presta em nenhuma circunstância como conectivo de conformidade.
- Alternativa “d”: correta. Na verdade, essa não é claramente verdadeira, mas é a “menos pior”. A comparação é introduzida pelo conectivo “como” e não por “ora”. Além disso, os termos, em uma comparação, partem de uma abstração para algo concreto. Em todo caso, a ideia apresentada a partir do “ora” é paralela à ideia anterior.
- Alternativa “e”: incorreta. Não se estabelece relação de anterioridade e posterioridade entre as ideias. Numa relação de finalidade, um termo deve expressar um fato e o posterior explicar a finalidade, o que não ocorre.
Gabarito: D.
Questão 04
Do capítulo Contrariedades, extraiu-se o fragmento que segue. Leia-o para responder à questão.
[…] Se tinha alguma virtude, era a de não enganar pela cara. Entre todas as suas qualidades possuía uma que felizmente caracterizava naquele tempo, e talvez que ainda hoje, positiva e claramente o fluminense, era a maledicência. José Manuel era uma crônica viva, porém crônica escandalosa, não só de todos os seus conhecimentos e amigos, e das famílias destes, mas ainda dos conhecidos e amigos dos seus amigos e conhecidos e de suas famílias. Debaixo do mais fútil pretexto tomava a palavra, e enfiava um discurso de duas horas sobre a vida de fulano ou de beltrano.
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
No fragmento, considerando o contexto da obra, nota-se a presença da conotação enfática quando o narrador emprega a expressão
a) “todos os seus conhecimentos e amigos” (L.3/4)
b) “crônica viva” (L.3)
c) “fútil pretexto” (L.6)
d) “amigos dos seus amigos” (L.4)
e) “fulano ou de beltrano.” (L.6)
Resolução Comentada
- Alternativa “a”: incorreta. Esse trecho é referencial (simplesmente descreve um fato), o texto afirma que a fama escandalosa era conhecida por todos os seus amigos.
- Alternativa “b”: correta. Esse termo é hiperbólico e serve como um atributo que dá relevo à fama do personagem.
- Alternativa “c”: incorreta. Em “fútil pretexto”, observa-se ênfase também, já que o deslocamento do adjetivo “fútil” para a posição anterior ao do substantivo provoca alteração de sentido. Contudo, essa ênfase não se relaciona com a ideia principal expressa no fragmento que tem como foco o comportamento de José Manuel. No contexto da obra, a alternativa anterior é melhor.
- Alternativa “d”: Essa expressão somente destaca a quantidade de pessoas que sabiam do fato.
- Alternativa “e”: incorreta. Essa expressão realça a indeterminação, mas não dá ênfase à característica do personagem.
Gabarito: D.
Questão 05
O texto a seguir, extraído do capítulo Caldo Entornado, serve de base para responder à questão.
[…] Um dia o toma-largura tinha saído em serviço; ninguém esperava por ele tão cedo; eram onze horas da manhã. O Leonardo, por um daqueles milhares de escaninhos que existem na ucharia, tinha ido ter à casa do toma-largura. Ninguém porém pense que era para maus fins. Pelo contrário era para o fim muito louvável de levar à pobre moça uma tigela de caldo do que há pouco fora mandado a el-rei… Obséquio de empregado da ucharia. Não há aqui nada de censurável. Seria entretanto muito digno de censura que quem recebia tal obséquio não o procurasse pagar com um extremo de civilidade; a moça convidou pois ao Leonardo para ajudá-la a tomar o caldo. E que grosseiro seria ele se não aceitasse tão belo oferecimento? Aceitou.[…]
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
No livro Memórias de um Sargento de Milícias, são relatados alguns dos casos amorosos do personagem Leonardo. No fragmento acima, considerando a ironia do narrador, a ideia de que Leonardo teria um
interesse particular pela jovem encontra respaldo no fato de o personagem
a) visitá-la tão somente na ausência do marido.
b) dirigir-se furtivamente à casa do toma-largura.
c) levar-lhe da mesma comida servida ao rei.
d) preocupar-se com a qualidade de sua alimentação.
e) prestar-lhe um favor sem segundas intenções
Resolução Comentada
- Alternativa “a”: incorreta. O trecho dessa alternativa manifesta “interesse particular”, mas não há ironia nessa afirmação.
- Alternativa “b”: incorreta. Pode-se justificar da mesma maneira que se justifica o erro da “a”: trecho dessa alternativa manifesta “interesse particular”, mas não há ironia nessa afirmação.
- Alternativa “c”: correta. O fato de a moça levar a mesma comida quer era servida ao rei expressa interesse do protagonista na personagem, ao mesmo tempo esse trecho é irônico, pois o narrador diz que o protagonista não estava assediando a moça, mas a circunstância o desmente.
- Alternativa “d”: incorreta. Fica claro no texto que Leonardinho tinha interesse físico na mulher do Toma-largura.
- Alternativa “e”: Não há ironia na expressão “prestar-lhe um favor sem segunda intenções”, aliás, essa afirmação é falsa.
Gabarito: C.
Questão 06
Leia o texto que segue para responder às questões 06, 07 e 08
Manuel Bandeira, autor de Libertinagem (1930), insere-se na primeira Geração do Modernismo no Brasil. Sua obra, também influenciada por sua história de vida, rompeu com os padrões rígidos ditados pela produção anterior ao Modernismo. Ocupa lugar de relevância na produção poética brasileira no séc. XX, sendo um dos poetas conhecidos e estudados na contemporaneidade. Especificamente, Libertinagem acompanha o ideário do grupo modernista da Semana de 22.
Lenda brasileira
A moita buliu. Bentinho Jararaca levou a arma à cara: o que saiu do mato foi o Veado Branco! Bentinho ficou pregado no chão. Quis puxar o gatilho e não pôde.
– Deus me perdoe!
Mas o Cussaruim veio vindo, veio vindo, parou junto do caçador e começou a comer devagarinho o cano da espingarda.
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013.
Do conjunto de propostas defendidas pelo grupo modernista de 22, o poema Lenda brasileira ilustra o recurso do/a
a) fragmentação poética, assinalada pela presença do elemento religioso.
b) nacionalismo crítico, marcado pela incorporação da oralidade.
c) revisionismo do passado histórico, tematizando a cultura popular.
d) poema-piada, com versos irônicos, livres e satíricos.
e) poema em prosa, com recuperação de elementos do folclore brasileiro.
Resolução Comentada
- Alternativa “a”: incorreta. Não se verifica nem fragmentação poética, nem elemento religioso. O texto é curto, mas há 3 parágrafos (início, meio e fim).
- Alternativa “b”: incorreta. O nacionalismo caracterizou a Primeira Geração Modernista. Embora haja oralidade no texto e a alusão ao imaginário popular nacional, não há ufanismo, isto é, nacionalismo crítico.
- Alternativa “c”: incorreta. A cultura popular é revisitada, haja vista o título remeter à lenda e ao folclore, mas não ao passado histórico.
- Alternativa “d”: incorreta. Poema-piada é a designação usada para um tipo de poesia específica do modernismo. Suas características principais são a brevidade e o humor. Embora, aqui, sequer haja versos. A organização estrutural desse texto é em prosa, isto é, em forma em parágrafos.
- Alternativa “e”: correta – gabarito. Prosa inclusive verificada no uso do discurso direto (pontuação da tradução) e do gênero narrativo, com a presença personagens.
Gabarito: E.
Questão 07
Em “A moita buliu”, considerando o contexto do poema, o verbo destacado tem sentido semelhante na seguinte frase:
a) A informação do acidente buliu comigo.
b) Você buliu com ele, agora aguente as consequências.
c) Buliu com a avó o dia inteiro, agora está de castigo.
d) Sempre que se buliu nesse assunto, foi confusão certa.
e) Assim que o rapaz buliu no cabelo, ela pode notá-lo.
Resolução Comentada
Atenção: trata-se de uma questão de Semântica, isto é, significado, sentido das palavras. Essa é a aula 00 do nosso curso que vocês podem encontrar de graça disponibilizada na internet.
- Alternativa “a”: incorreta. Segundo o dicionário Houaiss, o sentido do verbo nessa alternativa é o de produzir apreensão em; causar impressão em.
- Alternativa “b”: incorreta. O sentido do verbo nesse trecho é o de fazer caçoada; brincar; zombar.
- Alternativa “c”: incorreta. O sentido do verbo nessa opção é o de causar incômodo ou apoquentar.
- Alternativa “d”: incorreta. O sentido do verbo nessa alterativa é o de falar sobre, mencionar.
- Alternativa “e”: correta – gabarito. Os sentidos possíveis aí são: tocar em (algo ou alguém); mover(-se) ou agitar(-se) de leve; mexer(-se), deslocar(-se); balançar; mexer em; sacudir de leve.
Gabarito: E.
Questão 08
O termo “Cussaruim” é uma sinonímia para “diabo”, realizada a partir da aproximação com “coisa-ruim” ou “cousa ruim”, expressões populares de certas regiões do Brasil.
No processo formativo de “Cussaruim”, tem-se a
a) conversão da categoria adjetiva da palavra em substantivo.
b) prefixação com total modificação do sentido primitivo da palavra.
c) aglutinação de dois termos com perda da autonomia fonética de um deles.
d) junção de termos de origens distintas para formação de vocábulo inusitado.
e) abreviação de partes das duas palavras, mantendo o significado primitivo das palavras.
Resolução Comentada
Atenção: aparentemente é uma questão sobre Semântica, mas acaba se revelando sobre processo de formação de palavras, isto é, morfologia.
- Alternativa “a”: incorreta. Não consiste num adjetivo, mas sim num substantivo.
- Alternativa “b”: incorreta. Não é prefixo, mas união de um substantivo (coisa) + adjetivo (ruim) para designar o sentido de um substantivo.
- Alternativa “c”: correta – gabarito. Na aglutinação, unem-se as palavras suprimindo um ou mais de seus elementos fonéticos. Isso significa que na aglutinação há perda de algum som.
Embora = em + boa + hora
Fidalgo = filho + de + algo (ou seja, filho de alguém importante)
Hidrelétrica = hidro + elétrica
- Alternativa “d”: incorreta. Não é inusitado; o significado é inferido. Pode ser considerado como a criação de um termo novo (neologismo), uma vez que aparece como “Cussaruim” e não “Coisa Ruim”. Ou seja, há uma variação.
- Alternativa “e”: incorreta. Não é abreviação, porque “ruim” mantém-se igual, inclusive juntando-se ao primeiro termo dobrando a consoante. No primeiro termo há uma variação, mas não necessariamente uma abreviação.
Gabarito: C.
Questão 09
O Último Poema encerra o livro Libertinagem, de Manuel Bandeira.
O Último Poema
Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013
O poema estabelece pelo título e pela posição que ocupa um valor metapoético, uma vez que o eu lírico
a) transporta para a poesia a beleza da simplicidade.
b) explicita seu dilema existencial.
c) revela dramaticamente seus medos mais íntimos e secretos.
d) incorpora na poesia o academicismo parnasiano.
e) expressa em versos seu desejo poético.
Resolução Comentada
“Metapoético” se refere a um poema que tematiza a escrita da própria poesia.
- Alternativa “a”: incorreta. É verdade que, nesse poema, o eu lírico “transporta para a poesia a beleza e simplicidade”, mas isso não se relaciona com o título, nem expressa um valor metapoético.
- Alternativa “b”: incorreta. No poema, ele exprime o que ele deseja para sua poesia, não explora seus dilemas existenciais.
- Alternativa “c”: incorreta. Não há referência a medos no poema.
- Alternativa “d”: incorreta. Se fosse parnasiano, o poeta deveria metrificar seu poema. Manuel Bandeira se vale do verso livre (sem métrica).
- Alternativa “e”: correta. O seu desejo poético aparece no primeiro verso “Assim eu quereria o meu último poema” e esse tema é metapoético.
Gabarito: E.
Questão 10
O trecho a seguir foi extraído do poema Evocação do Recife, de Manuel Bandeira.
[…]
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife…
[…]
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013.
Nos dois versos: “A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros” […] / “A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem”, o eu-lírico retoma
a) a sua memória afetiva com delicadeza.
b) as histórias lidas em livros à época da infância.
c) a ideologia do passado com autocrítica.
d) as vivências infantis de modo indiferente.
e) as frustrações vividas na infância.
Resolução Comentada
- Alternativa “a”: correta. O uso do pretérito imperfeito em “não me chegava” deixa claro que o poeta está acessando sua memória; ao mencionar às coisas que ele não entendia bem, ele revive a infância com delicadeza.
- Alternativa “b”: incorreta. No poema, ele fala das histórias ouvidas da boca do povo, não pela leitura dos livros.
- Alternativa “c”: incorreta. O eu lírico comenta o padrão linguístico, não a ideologia.
- Alternativa “d”: incorreta. Ele retoma a infância para discutir a linguagem, e não para reelaborar esse tipo de experiência.
- Alternativa “e”: incorreta. O fato de que ele não entendia bem o que diziam para ele não configura frustração.
Gabarito: A.
Questão 11
Este é um outro trecho do poema Evocação do Recife.
“[…]
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!
À distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão
(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão…)
[…]”
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013
Sinestesia é a figura de linguagem que associa sensações percebidas por diferentes sentidos. Essa figura está presente no seguinte verso:
a) “A gente brincava no meio da rua”
b) “Os meninos gritavam:”
c) “(Dessas rosas muita rosa…”
d) “À distância as vozes macias das meninas politonavam”
e) “Craveiro dá-me um botão
Resolução Comentada
- Alternativa “a”: incorreta. Esse fragmento é meramente descritivo, não há termo que se refira à qualquer um dos cinco sentidos.
- Alternativa “b”: incorreta. “Gritar” é uma ação relacionada à fala, ou seja, não se associa diretamente a qualquer dos cinco sentidos.
- Alternativa “c”: incorreta. A palavra rosa está sendo usada no sentido referencial e o poeta não faz apelo à fragrância ou à cor.
- Alternativa “d”: correta. Em “vozes macias…politonavam” o som polifônico é macio, ora maciez é característica do tato sendo atribuído ao som ouvido, há sinestesia.
- Alternativa “e”: incorreta. Craveiro refere-se ao pé de cravo, não há sinestesia nessa descrição.
Gabarito: D.
Questão 12
Verão no Aquário, publicado em 1963, é o segundo romance da escritora paulistana Lygia Fagundes Telles. O romance passa-se na década de 1960 e evidencia dilemas relacionados ao universo feminino, instaurados, principalmente, na relação conflituosa entre mãe e filha.
Leia a passagem a seguir para responder à questão.
Revolvi papéis e livros da minha mesa. Abri gavetas. Por onde andariam meus retratos? […] Vi um retrato assim do meu pai: um menino débil e louro na sua roupa de marinheiro, a mão direita pousada na mesinha com uma toalha de franja e um vaso de flores em cima, a mão esquerda na cintura, os dedos graciosamente imobilizados pelo fotógrafo, “Vamos, olhe nessa direção!…”. O olhar ainda limpo do rancor pela bem-amada que havia de traí-lo um dia, pela mãe falhando no momento em que não podia falhar, pelo amigo que não era amigo, por Deus que não apareceria para salvá-lo quando ele próprio se erguesse para ferir o próximo assim como foi ferido também. Os ídolos ainda estão inteiros. O menino então sorri e nem o inimigo mais feroz resistirá a esse sorriso de quem se oferece tão sem defesa.
TELES, L. G. Verão no Aquário. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
No trecho, a narradora, ao encontrar o retrato de seu pai quando criança, e associando aquela imagem ao homem que se tornou, percebe-o como um sujeito
a) medroso.
b) desamparado.
c) traiçoeiro.
d) religioso.
e) incrédulo
Resolução Comentada
- Alternativa “a”: incorreta. Não há no texto expressões do campo semântico relacionado ao medo.
- Alternativa “b”: correta. O desamparo é expresso em “esse sorriso de quem se oferece tão sem defesa”, resumo das relações que o narrador estabelece entre a observação da foto de uma criança ingênua e o conhecimento do que o futuro guardou para essa criança.
- Alternativa “c”: incorreta. O texto afirma que ele sofrerá uma traição, mas ele não é o traidor.
- Alternativa “d”: incorreta. Não se pode saber se a referência a Deus é uma ideia do narrador ou do personagem, ou ainda, se é somente uma forma retórica de destacar os dilemas da existência. Ou seja, não se pode dizer que ele era religioso.
- Alternativa “e”: incorreta. No texto não se afirma que o personagem era incrédulo.
Gabarito: B.
Questão 13
O trecho a seguir, extraído do Capítulo I, do livro Verão no Aquário, de Lygia Fagundes Teles, traz, pela recordação da personagem Raíza, um diálogo entre a professora de piano e uma outra senhora. Leia-o para responder às questões 13 e 14.
“[…] Adiante, ficava a saleta de minha mãe, aquela mãe silenciosa, sempre vestida de branco, uns vestidos tão leves que me faziam pensar na história da sereiazinha que se transformara em espuma. […] Eu podia estender-me no chão e ali ficar desenhando nas folhas que ela me atirasse, pena não saber o que era esfinge para então desenhar uma e seria esse o retrato de minha mãe. “É uma esfinge!”, disse dona Leonora à mulher dos tricôs. “Esfinge?…”, repetiu a mulherzinha parando as agulhas no ar. “E o marido?” […] “É um farmacêutico fracassado, bebe demais, você não sabia? Está sempre escondido no sótão em companhia do irmão, um tipo meio louco que vive cortando coisas, a família inteira é esquisitíssima. Esquisitíssima! A mãe ainda é a única que me inspira confiança, diz que é escritora…” […] “Mas escreve o quê?”. E dona Leonora, batendo impaciente com o leque no piano para marcar o compasso: “Quem é que sabe? A mulher é uma esfinge.[..]”
TELES, L. G. Verão no Aquário. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Considerando a leitura da obra, a mãe é avaliada, reiteradamente, segundo dona Leonora, como uma pessoa
a) vulnerável.
b) enigmática.
c) soberba.
d) apática.
e) egoísta.
Resolução Comentada
- Alternativa “a”: incorreta. “Vulnerável” é uma pessoa que se deixa influenciar facilmente, não é o caso da mãe da narradora.
- Alternativa “b”: correta. “Esfinge” era o monstro que abalava Tebas e só poderia ser destruído se o seu enigma fosse desvendado. A mãe era uma esfinge, isto é, era enigmática.
- Alternativa “c”: incorreta. “Soberba” significa orgulho. O silêncio enigmático da mãe poderia ser encarado como sinal de soberba, mas a relação com a esfinge não deixa dúvidas em relação à alternativa correta.
- Alternativa “d”: incorreta. “Apática” significa que a pessoa é indiferente, uma escritora de forma alguma é indiferente ao que ocorre a sua volta.
- Alternativa “e”: incorreta. Não há traços que possam indicar que ela seja egoísta.
Gabarito: B.
Questão 14
Há um juízo positivo acerca da mãe da Raíza. Esse julgamento, entretanto, é maculado por um certo ceticismo revelado na seguinte expressão:
a) “Esquisitíssima!” (L.7)
b) “[…] para marcar compasso:” […] (L.9)
c) “Quem é que sabe?” (L.9)
d) […], “batendo impaciente” […] (L.8)
e) […], “você não sabia?” […] (L.6)
Resolução Comentada
“Ceticismo” refere-se a uma doutrina filosófica que propõe a dúvida como método para alcançar a tranquilidade da alma, por conta disso, “cético” significa aquele que duvida.
- Alternativa “a”: incorreta. “Esquisitíssima!” expressa uma interjeição e surpresa e não uma dúvida.
- Alternativa “b”: incorreta. Trata-se de um fragmento que expressa uma informação descritiva (referencial).
- Alternativa “c”: correta. A pergunta associada ao comentário de que a mulher é uma esfinge confere ao “quem é que sabe?” um traço de dúvida em relação a qualquer coisa que se possa afirmar da mãe da narradora.
- Alternativa “d”: Trata-se de um fragmento assertivo, referencial.
- Alternativa “e”: “Você não sabia?” não expressa dúvida em relação a alguma certeza, antes, trata-se de uma pergunta retórica que deve renovar o interesse do receptor da mensagem.
Gabarito: C.
Questão 15
O trecho a seguir, extraído de Verão no Aquário, é um diálogo entre as personagens Patrícia e Raíza, respectivamente mãe e filha. Leia-o para responder à questão que segue.
– Vou pedir à titia que vista uma roupa de fada e me transforme num peixe. Deve ser boa a vida de peixe de aquário, murmurei.
– Deve ser fácil. Aí ficam eles dia e noite, sem se preocupar com nada, há sempre alguém para lhes dar de comer, trocar a água… Uma vida fácil, sem dúvida. Mas não boa. Não esqueça de que eles vivem dentro de um palmo de água quando há um mar lá adiante.
– No mar seriam devorados por um peixe maior, mãezinha.
– Mas pelo menos lutariam. E nesse aquário não há luta, filha. Nesse aquário não há vida.
TELES, L. G. Verão no Aquário. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
A pontuação no texto escrito constitui uma pista segura para o entendimento pretendido pelo discurso.
Em, “há sempre alguém para lhes dar de comer, trocar a água…” (2º.§), as reticências
a) constroem uma intenção indutiva.
b) enumeram uma sequência explicativa.
c) separam um vocativo enfático.
d) isolam uma ideia contrastiva.
e) traduzem uma repetição monótona.
Resolução Comentada
Indução é um tipo de raciocínio que parte do particular para chegar a uma generalização.
- Alternativa “a”: correta. A menina vale-se da observação de como vive um peixe no aquário para fazer uma generalização, as reticências substituem o termo “logo: “há sempre alguém para lhes dar de comer, trocar a água, logo, é uma vida fácil, sem dúvida”.
- Alternativa “b”: incorreta. A sequência iniciada pela menina é expositiva, não explicativa.
- Alternativa “c”: incorreta. Vocativo é um termo intercalado no qual o escritor apela para alguém ou algo que está fora do texto. “Uma vida fácil” não é um vocativo.
- Alternativa “d”: incorreta. Conclusão de que a vida de um peixe é fácil não se contrasta com o que foi dito antes.
- Alternativa “e”: incorreta. Depois das reticências aparece uma conclusão e não uma repetição.
Gabarito: A.
É isso, pessoal! Espero que tenham curtido a resolução da prova de Português do vestibular UEMA 2020. Sigam-me nas redes sociais. Têm muitas dicas lá. Mande uma mensagem, caso tenha tido alguma dúvida. Qualquer dúvida, entre em contato conosco através do nosso Fórum de Dúvidas ou das redes sociais.
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