A regência verbal é um assunto fundamental da gramática, abordando a relação entre os verbos e os termos que o complementam.
O estudo e domínio desse tema não só é importante para elaborar uma boa redação, como também ter êxito na análise e resolução de questões envolvendo regência, que vêm sendo cobradas com maior frequência nos vestibulares.
Foi pensando nisso que a Coruja preparou esse guia contendo pontos importantes, como transitividade verbal, crase e diversos exemplos e aplicações.
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Regência: o que é?
Antes de avançar, é importante conceituar o que é regência. De forma resumida, regência é o modo como as palavras de uma frase se relacionam. Geralmente, numa frase, uma palavra depende de outra para formar sentido completo. À relação necessária entre duas ou mais palavras, segundo a norma culta, dá-se o nome de regência.
Nessa relação, há dois tipos de palavras: as regentes – palavras centrais, que estabelecem a subordinação; palavras regidas – palavras complementares, dependentes das regentes. A regência pode se dar por meio de preposição, em que a palavra regente e a regida se ligam por meio de uma preposição entre elas, ou por meio de conjunção, quando uma oração se liga a outra através de uma conjunção que as divide e explicita sua relação de sentido.
Transitividade verbal: quais são os tipos de verbos
Os tipos de verbos se dividem em: transitivos diretos, transitivos indiretos, transitivos diretos e indiretos e intransitivos. Veja a seguir cada um deles e exemplos.
Verbo Transitivo Direto (VTD)
O complemento aparece diretamente ligado ao verbo, sem a mediação de uma preposição.
Exemplo:
O menino estudou português.
Nenhuma preposição separa o verbo “estudar” de seu complemento (o que o menino estudou).
Verbo Transitivo Indireto (VTI)
O complemento aparece ligado ao verbo a partir da mediação de uma preposição.
Exemplo:
Ele gostava de gramática.
A preposição “de” é necessária para formar o sentido da frase. Sem ela, não é possível compreender o que se quer dizer (“Ele gostava gramática” é uma grafia incorreta).
Verbo Transitivo Direto e Indireto (VTDI)
O verbo apresenta dois complementos: um com preposição e outro sem.
Exemplo:
Eu dei um presente a ele.
Complemento “a ele”, com preposição “a”; complemento “dei um presente”, sem preposição.
Verbos Intransitivos (VI)
Esses, por sua vez, não possuem complemento. Seu sentido é dado por si só. São verbos que podem apenas ser acompanhados de advérbios para caracterizá-los, por exemplo: Ele dormiu. Choveu muito.
Crase na regência verbal
Ocorre quando o verbo exige a preposição “a” e o termo seguinte admite o artigo definido “a(s)”. Veja os principais usos.
- Verbos que indicam destino ou movimento (ir, voltar, chegar), por exemplo: Vou à praia. O verbo “ir” exige preposição “a”, e “praia” aceita o artigo “a”.
- Verbos que pedem preposição antes de complemento feminino, por exemplo: Assisti à peça. O verbo “assistir”, no sentido de ver, exige a preposição “a”, e “peça” aceita o artigo.
- Verbos que expressam ideias de entrega ou obrigação, por exemplo: Entreguei o livro à professora. A crase ocorre devido à regência do verbo “entregar”, que exige a preposição “a” para indicar o destinatário da ação, e ao fato de “professora” ser um substantivo feminino que aceita o artigo definido “a”.
Casos em que não ocorre crase
Quando o termo regido não admite artigo, como ocorre na frase “Assisti a Romeu e Julieta” (nome de obra sem artigo); quando o complemento é masculino, como na seguinte frase: “Obedeci ao regulamento”.
A verificação pode ser feita com a substituição do termo feminino por um masculino equivalente – se surgir “ao”, há crase, caso contrário, não.
A crase também não ocorre nos seguintes casos:
Artigos indefinidos. Exemplo: Fui a uma entrevista de emprego.
Pronomes pessoais e de tratamento. Exemplo: Ela dava conselhos a si mesma, mas nunca os dava a você.
Pronomes demonstrativos. Exemplo: esta e essa.
Palavras repetidas. Exemplo: cara a cara.
Palavras femininas no plural sem artigo. Exemplo: As pessoas têm resistência a mudanças.
Verbos. Exemplo: Ela se pôs a falar sem parar.
Pronomes indefinidos. Exemplo: Não cheguei a nenhuma conclusão.
Pronomes relativos “quem” e “cujo”. Exemplo: ela é a menina a quem me refiro, a cuja coragem devo minha vida.
Regência em verbos específicos
Há alguns verbos que merecem maior atenção, justamente por serem usados em diversos contextos, situações. Entenda como utilizá-los de forma correta a partir dos exemplos abaixo.
Verbo IMPLICAR
O verbo implicar tem sido usado na oralidade de forma diferente e incorreta com relação ao que prescreve a norma culta. Esse verbo rejeita a preposição “em”; ele é verbo transitivo direto no sentido de “levar a um fim”.
Exemplo:
Seu comportamento implicará em problemas em seu futuro. (incorreto)
Seu comportamento implicará problemas em seu futuro. (correto)
Verbo LEMBRAR
Verbo transitivo direto, quando significa “sugerir”, “trazer à memória”.
Exemplo:
O perfume lembra minha avó.
Verbo transitivo direto e indireto, quando significa “advertir”.
Exemplo:
O chefe lembrou a ele o combinado.
Ou, ainda, verbo transitivo indireto, quando significa “recordar” + pronome reflexivo.
Exemplo:
Lembro-me de você.
Verbo OBEDECER
O verbo obedecer é verbo transitivo indireto, segundo a norma culta, mas tem sido usado como verbo transitivo direto.
Exemplo:
Eles sempre devem obedecer os pais. (incorreto)
Eles sempre devem obedecer aos pais. (correto)
Verbo ASSISTIR
Frequentemente, o verbo assistir é utilizado como verbo transitivo indireto no sentido de “ver” e como verbo transitivo direto no sentido de “prestar auxílio”, “ajudar”. Compreende-se que o contexto é capaz de resolver o problema, dado que ele é construído de forma a indicar o significado.
Exemplos:
Assistimos o filme ontem e o adoramos.
Assistimos o acidentado, levando-o para o hospital.
O médico assistiu seu chefe durante a operação.
Assistimos ao acidente durante a tarde.
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