Jogos Vorazes: como usar o filme no repertório sociocultural da redação?
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Jogos Vorazes: como usar o filme no repertório sociocultural da redação?

A franquia infanto-juvenil possui diversas alusões sociológicas que podem complementar o repertório sociocultural da redação; confira já!

O filme Jogos Vorazes (2012), dirigido por Gary Ross, é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito por Suzanne Collins. A narrativa aborda a vida de Katniss Everdeen, uma moradora do Distrito 12 do país chamado Panem, antiga América do Norte. Panem possui um governo autoritário e ditatorial, formado por 12 distritos, todos submissos à Capital, onde mora a classe mais rica da sociedade, inclusive o presidente Snow. 

Anualmente, um menino e uma menina, entre 12 e 18 anos, de cada distrito, são sorteados para participar dos Jogos Vorazes, competição criada após uma revolta liderada pelo distrito 13, dizimado pelo governo de Panem. Nesses jogos, os participantes, chamados de Tributos, devem lutar até restar somente um sobrevivente.

No filme, Katniss se voluntaria como Tributo no lugar de sua irmã, que havia sido sorteada. Em parceria com Peeta Mellark, o garoto sorteado de seu Distrito, Haymitch Abernathy, antigo campeão dos Jogos Vorazes, e a funcionária da Capital Effie Trinket, a protagonista  buscará de todas as formas ganhar a competição.

Apesar de Jogos Vorazes ser uma franquia destinada ao público infanto-juvenil, a história é rodeada de críticas e simbologias sociais, ótimas para serem usadas como repertório sociocultural nas redações dos vestibulares e do Enem. O Estratégia Vestibulares separou algumas alusões sociológicas exploradas por Suzanne Collins em sua obra. Afinal, filmes e livros também podem instruir! Vamos lá?

O que é o repertório sociocultural?

O repertório sociocultural é usado nas redações para fundamentar um argumento. No  Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ele faz parte da competência número dois de avaliação da proposta de redação.

No repertório sociocultural podem ser apresentados conceitos teóricos, citações de estudiosos, referências de acontecimentos históricos, atualidades, política e até mesmo música, filmes e séries, desde que utilizados coerentemente.

Desigualdade social

Panem é dividida entre 12 distritos periféricos e uma Capital. Os distritos são responsáveis por todos os meios de produção e matéria-prima, como energia, mineração, pesca, agricultura e desenvolvimento de novas tecnologias. Ou seja, os moradores dessas divisões sustentam toda Panem, inclusive a Capital.

No entanto, ainda assim, a maioria deles encontra-se em situação de extrema pobreza e fome. Enquanto os habitantes ricos, concentrados na Capital, esbanjam ótima comida e roupas extravagantes. Ou seja, a desigualdade econômica, social e tecnológica entre o povo de Panem é discrepante e poderia ser facilmente estudada por Karl Marx, filósofo alemão que baseia suas teorias e críticas no conceito de luta de classes.

A organização de Panem

A Capital organiza toda a Panem de acordo com as competências de trabalho de cada distrito. Por exemplo, o distrito 12, onde Katniss mora, é responsável pela mineração, enquanto o 11 é responsável pela agricultura e o 10 pela pecuária. Os distritos com números mais baixos como 1, 2 e 3 possuem indústrias mais “prestigiadas” pela sociedade, como produção de itens de luxo, armas e tecnologia, respectivamente. 

Segundo Weber, sociólogo alemão, essa divisão da sociedade por competências de trabalho não auxilia somente a organização e eficiência, mas funciona, também, como uma forma de dominação, já que cria hierarquia dentro dos próprios distritos. Dessa maneira, eles não cooperam entre si, apenas respondem à Capital, sendo totalmente controlados.

Alienação

A Capital é uma cidade com alto poder tecnológico, que é fundamental para a realização dos Jogos Vorazes. A sua dominação sobre os distritos de Panem é tirânica, mas também racional e organizada. O presidente Snow sabe utilizar, não só do exército ao seu favor, mas também dos meios de comunicação e da famosa política do “pão e circo”.

Por meio da mídia, o governo manipula não só os moradores dos distritos, como também os moradores da Capital, que não vêem problema na forma que o resto de Panem é tratado. Inclusive, para eles, ser convocado para os Jogos Vorazes é motivo de honraria e dignidade. Os distritos 1 e 2 também pensam assim, treinando jovens para serem voluntários nos jogos, os quais acabam recebendo o nome de carreiristas.

O Estado percebeu que somente o medo não era mais suficiente para alienar e controlar a sociedade e passou a utilizar de recursos midiáticos, como a transmissão de entrevistas e desfiles chamativos com os tributos, além da transmissão dos jogos em telões por toda Panem. 

Essa alienação faz com que alguns habitantes comemorem o massacre realizado nos Jogos Vorazes, enquanto os outros não possuem coragem de se rebelar contra esse sistema, já que assistir aos jogos virou basicamente uma religião.

Poder e resistência

Há 75 anos, antes da história do primeiro filme, os distritos se uniram e, com a liderança do Distrito 13, rebelaram-se contra a Capital em busca de igualdade e dignidade. Porém, após a aniquilação do Distrito 13 por parte da Capital, os outros rebeldes renderam-se e perderam a esperança. 

Com a vitória da Capital, foi fechado o Tratado de Traição, que originou novas leis para “manter a paz” em Panem e instaurou os Jogos Vorazes, criados na intenção de punir os rebeldes e, todo ano, lembrar a sociedade do porquê nunca se deve ir contra a Capital.

O massacre entre os participantes dos jogos tornou-se um verdadeiro espetáculo público. Transformados em uma espécie de reality show, os Jogos Vorazes são responsáveis pela estabilidade da sociedade. Porém, da mesma forma que essa repressão consolida o poder da Capital, ela é, futuramente, a causadora de sua decadência. Já que Katniss se torna símbolo de esperança para uma nova rebelião. Como Michel Foucault teoriza, sempre que existir poder, existirá resistência. 

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