4 sociólogos brasileiros para usar na redação ou que caem no vestibular

4 sociólogos brasileiros para usar na redação ou que caem no vestibular

O Portal Estratégia Vestibulares preparou este artigo com diversas informaçõs dos sociólogos Gilberto Freyre, Sérgio Buarque, Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro

Com os vestibulares chegando, nada melhor do que entender mais sobre sociólogos brasileiros que podemos usar como repertório sociocultural nas redações. Pensando nisso, o Portal Estratégia Vestibulares, junto a professora Alê Lopes em suas aulas sobre “Sociólogos do Brasil”, preparou este artigo com os principais pontos a respeito dessa temática.

Segundo a professora, esses sociólogos usaram o Brasil Colonial para escrever seus livros. Os quatro principais autores, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque, Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro, trouxeram diversos aspectos brasileiros em suas produções, com composições de conteúdos como história e sociologia. 

A seguir, confira quem foram esses sociólogos que introduziram este pensamento no Brasil e quais são as diferenças entre as ideias deles, além de tópicos que podem complementar os estudos. Essas explicações podem te ajudar na hora de analisar as questões de provas e escrever a argumentação ou contextualização de uma redação.

Veja também: Sociologia e Antropologia Brasileira: formação social do Brasil

Gilberto Freyre

Gilberto Freyre foi um sociólogo, antropólogo, deputado e professor universitário que viveu no Brasil entre 1900 e 1987, contribuindo para uma nova identidade da sociologia brasileira. Sua principal obra é “Casa Grande & Senzala”, onde estudou novos aspectos para entender a formação do Brasil.

O pensador tinha como principal questão a formação da sociedade brasileira, onde sua marca era a construção de uma ideia de democracia racial. “Ele não desenvolveu o conceito de democracia racial, mas o modo como construiu seu argumento, deu espaço para que outras pessoas entendessem o que era uma democracia racial”, reforça Alê.

De acordo com ele, a tese da mestiçagem era um elemento positivo e constitutivo da cultura brasileira, onde a miscigenação passa a ser o traço cultural originário do Brasil. A oposição à eugenia, em que há a separação entre cultura e raça, é a chave interpretativa da cultura que substitui a noção da raça. 

Além disso, Gilberto Freyre defende o conceito de sociologia do cotidiano, com hábitos e rituais prosaicos e atribuições de sentidos e conexões de recorrências cotidianas. Não basta olhar somente os antagonismos, mas a relação entre eles, em que se percebe ambiguidades e contradições.

A professora conclui que o Brasil não era caracterizado pela raça, mas sim pela cultura desenvolvida a partir das estruturas do latifúndio do monocultor escravista.

“A família, não o indivíduo, nem tampouco o Estado, nem nenhuma companhia de comércio, é desde o século XVI o grande fator colonizador no Brasil, a unidade produtiva, o capital que desbrava o solo, instala as fazendas, compra escravos, bois, ferramentas, a força social que se desdobra em política, constituindo-se na aristocracia colonial mais poderosa da América”, diz Gilberto Freyre.

Além disso, o sociólogo fala sobre uma sociedade híbrida, que não houve apenas um único processo e sentido em que todas as relações sociais e culturais foram determinadas pelo elemento branco, e um intercurso cultural, onde há uma profunda confraternização de valores e sentimentos.

“Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça, dentro de um ambiente quase reciprocidade cultural que resultou no máximo de aproveitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado; no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, da do conquistador com a do conquistado”, afirma Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande & Senzala.

Sérgio Buarque de Holanda

Sérgio Buarque de Holanda foi um dos autores clássicos da sociologia brasileira, historiador e crítico literário, que viveu no Brasil de 1902 a 1982. Sua principal obra é “Raízes do Brasil”, em que também buscava entender sobre a formação da sociedade brasileira.

O sociólogo trabalha com as ideias de homem cordial e patrimonialismo. Para ele, no Brasil há um embate entre a tradição e a modernidade, que impede o avanço da modernização no Brasil. A tradição no Brasil é a família patriarcal na sociedade colonial, com a vida privada,  pessoalidade, e emoção e sentimento, enquanto a modernidade é o estado burocrático com a vida pública, impessoalidade e racionalidade.

A busca pela identidade brasileira está relacionada a uma trajetória ligada aos ideais modernistas. “A família patriarcal fornece, assim, o grande modelo por onde se hão de calcar, na vida política, as relações entre governantes, entre monarcas e súditos”, diz Sérgio Buarque.

Para ele, o patriarcado forma o meio no qual se desenvolve o “homem cordial”. O livro “Raízes do Brasil” retoma essa ideia em que há o sistema colonial português, patriarcado rural, homem cordial e aporias do liberalismo brasileiro, além das relações cordiais movidas pela emoção e pessoalidade. 

No mundo moderno liberal, cardinalidade é civilidade, ou seja, controlar os arroubos emotivos, e a garantir de respeito aos direitos e espaços de cada cidadão. Já no Brasil, entende-se cardinalidade como ética da emoção e sentimentalismo, em que o homem cordial brasileiro se vale da espontaneidade e da personalidade, que se vale da lógica dos favores.

Ainda assim, existem percepções e efetivo da “cordialidade” brasileira, sendo eles: uso gramatical no diminutivo, intimidade com os Santos, cultura do privilégio, nepotismo, corrupção, distribuição desigual das oportunidades e obstáculos ao liberalismo e a efetividade da meritocracia.

Além disso, ele trabalha com o conceito de patrimonialismo, que é a invasão dos interesses privados na esfera pública. O patrimonialismo é marcado pelo funcionário burocrata versus o funcionário patrimonialista, ausência de ordenação impessoal, desrespeito ao rigor de determinados rituais e procedimentos, desrespeito às leis, e procedimentos e predomínio constante das vontades particulares.

“O resultado era predominarem, em toda vida social, sentimentos próprios à comunidade doméstica, naturalmente particularista e antipolítica, uma invasão do público pela privada, do Estado pela família”, consta Sérgio Buarque em seu livro Raízes do Brasil. 

Florestan Fernandes

Florestan Fernandes foi um sociólogo, antropólogo, escritor, político e professor brasileiro que viveu no Brasil entre 1920 e 1995. Florestan foi aluno da primeira turma do curso de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e trouxe uma nova visão sobre diversos aspectos, sendo considerado o fundador da Sociologia Crítica no Brasil.

O sociólogo escreveu o livro “O Negro na Sociedade de Classes”, onde expõe como os negros possuem dificuldade em se adaptar aos moldes da sociedade, em virtude de um passado com configurações sociais, culturais e morais.

Suas mais importantes reflexões foram sobre o capitalismo dependente, o papel intelectual, relações sociais, e sobretudo, as relações raciais. Ele afirma que as estruturas de dominação do período da colonização foram preservadas no processo de modernização capitalista no Brasil, ocorrendo uma “modernização conservadora”.

Para ele, a questão sociológica é o drama da integração para se inserir na competitividade sociedade de capitalismo independente, como ele retrata em seu livro citado anteriormente.

A escravidão redundou em uma especialização restrita e fechada, que confinava a participação cultural a um número reduzido de áreas e estimulava a permanência de convívios apenas entre negros. “Ele diz que a escravidão gerou uma sociedade que não da para nós percebermos, mas ela é segregada”, reitera Alê.

O encontro do negro, branco e mulato produziu o “desajustamento” desde seu início, dando abertura para a segregação social. O elemento branco perverte a cultura negra e é preciso embranquecer ou negar sua ancestralidade. Desse modo, as pessoas desenvolvem um condicionamento e hábito específico chamado silenciamento cultural.

“A desagregação do regime escravocrata e senhorial operou-se, no Brasil, sem que se cercasse a destituição dos antigos agentes de trabalho escravo de assistência e garantias que os protegessem na transição para o sistema de trabalho livre. Os senhores foram eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que o estado, a igreja ou outra qualquer instituição assumisse encargos especiais para prepará-los para o novo regime de organização da vida e do trabalho”, diz Florestan Fernandes em seu livro A integração do Negro na Sociedade de Classes.

Para estruturar seus pensamentos, Florestan analisou a urbanização na cidade de São Paulo, que possuía uma sociedade competitiva, e espaços e formas de integração. Segundo ele, o elemento negro não foi preparado para emergir em uma sociedade urbana capitalista caracterizada pela competição.

Assim, a expansão urbana, a revolução industrial e a modernização ainda não produziram efeitos bastante profundos para modificar a extrema desigualdade racial que herdamos do passado. Embora mudanças tenham acontecido ao longo dos anos, não podemos afirmar que eles compartilhem, coletivamente, das correntes de mobilidade social vertical vinculadas à estrutura, funcionamento e desenvolvimento da sociedade de classes.

Entretanto, a liberdade não corrige o desajustamento social, uma vez que há a competição com o elemento branco, sobretudo imigrante, no mercado de trabalho. “A forma de absorção social pelo trabalho da população negra é nos piores estragos da sociedade”, afirma Alê.

Nestas formas de trabalho, ainda há a divisão entre negros analfabetos, que são excluídos e segregados, e alfabetizados, que são parcialmente inseridos nos setores marginais da economia urbana. A permanência da herança da escravidão se mantém e se reproduz nas estruturas de desiguidalde de oportunidade. 

“Não é na herança cultural transplantada no mundo rustico nem da insuficiência e qualitativa da substituição cultural, tomadas em si mesmas, que devem procurar os fatores dinâmicos tópicos do desajustamento estrutural do negro e do mulato no meio urbano. Mas nas condições sociais engendradas e mantidas no processo de pauperização. Essas condições é que fornecem campo propício à persistência e à influência sociopata daquela herança cultural”, diz Florestan Fernandes

Para o sociólogo, não existe democracia racial efetiva no Brasil, onde o intercâmbio entre os indivíduos pertencentes a “raças” distintas começa e termina no plano da tolerância convencionalizada. Esta pode satisfazer as exigências de “bom tom”, de um discutível “espírito cristão” e da necessidade prática de “manter cada um em seu lugar”.

Contudo, ela não aproxima realmente os homens senão na base da mera coexistência do mesmo espaço social e, onde isso chega a acontecer, da convivência restrita, regulada por um código que consagra a desigualdade, disfarçando-a acima dos princípios da ordem social democrática.

Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro foi um antropólogo, sociólogo, educador, escritor e político brasileiro que esteve no Brasil entre os anos 1922 e 1997, e destacou-se por seu trabalho em defesa da educação e da causa indígena no País. 

Para ele, o Brasil é uma etnia única e essa marca étnica é dada pela miscigenação que gerou a diversidade. O processo de formação foi marcado pelo esforço deliberado de supressão de toda identidade étnica.

Dessa maneira, Darcy Ribeiro acredita que nosso estado é um Estado Uniétinico, mas ainda assim, a unidade povo-nação não apaga as contradições, antagonismos e disparidade do nível sócio-econômico.

“Nós, brasileiros, somos um povo sem ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela, fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na ninguedade. Assim foi até se definir uma nova identidade étnico-nacional, a dos brasileiros”, comenta Darcy Ribeiro em seu livro O Povo Brasileiro.

Além disso, Darcy afirma que o antagonismo classista é o elemento central da desigualdade social. Subjacente à uniformidade cultural, esconde-se uma profunda distância social gerada pelo tipo de distância social, O antagonismo classifica que corresponde a toda estratificação social aqui se exacerba, para opor uma estreitíssima camada privilegiada ao grosso da população, fazendo das distâncias sociais mais intransponíveis que as diferenças raciais. 

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