Raça e etnia: qual a diferença entre esses conceitos?

Raça e etnia: qual a diferença entre esses conceitos?

Os conceitos de raça e etnia estão em destaque na sociedade atual, com diversos debates sobre desigualdade étnica, questões socioculturais, visões históricas, estruturas institucionais, projetos políticos, entre outros temas relacionados. Todas essas nuances que se embasam na sociologia para o estudo do racismo e das construções histórico-sociais ao longo do tempo. 

Embora, muitas vezes, utilizados como sinônimos, os termos raça e etnia podem ser compreendidos de maneiras diferentes e, a depender do contexto, podem expressar um palavreado pejorativo.

Seja em conversas informais, na interpretação de um texto ou na escrita de uma redação no vestibular, é importante compreender as diferenças e semelhanças entre raça e etnia, para garantir uma comunicação assertiva. Para te ajudar nessa compreensão, acompanhe este artigo do Estratégia Vestibulares que aborda ambos os conceitos.

Diferenças e semelhanças: raça e etnia

Raça

O conceito de raça remonta ao século XIX, quando o estudo do ser humano enquanto espécie tinha um importante caráter eurocêntrico. Grande parte dos pesquisadores da época tinha origem caucasiana e/ou pele branca, com predominância dos olhos e cabelos claros. 

Ao mesmo tempo, desenvolveram-se teorias que comparavam as civilizações de outros continentes com as populações europeias. Como os recursos naturais, o curso histórico, as culturas, os hábitos e outros aspectos eram muito diferentes, muitos desses estudiosos começaram a classificar os povos e sociedades europeias como superiores a outros povos. 

Do ponto de vista biológico, então, cientistas queriam entender se havia uma diferença significativa na formação de diferentes grupos humanos espalhados ao redor da Terra. Foi assim que surgiu a ideia de diferentes “raças” de seres humanos, como se houvesse uma categorização e hierarquização dos humanos. Nesses casos, povos que vivenciavam uma civilização que não estivesse nos moldes europeus eram considerados inferiores, principalmente negros, indígenas e asiáticos.

O evento que mais destaca essa visão eurocêntrica e etnocêntrica da ciência foi a Segunda Guerra Mundial. As motivações de Hitler e outros participantes do partido nazista incluíam questões raciais. 

Para contextualizar, então, independentemente das origens do termo, a palavra raça faz referência aos fenótipos encontrados entre os humanos, dividindo-os conforme suas características físicas. 

Atualmente, é um termo em desuso porque os estudos científicos mais atuais demonstram que não há alterações significativas no desenvolvimento e formação genética dos humanos distribuídos em todos os continentes. Assim, a espécie humana é única, sem raças, apesar de existirem dezenas de cores de olhos, variadas cores de pele, tipos de cabelo, alturas, formatos de crânio e corpo, entre outros atributos tão diversos entre os indivíduos. 

Etnia

O conceito de etnia, por sua vez, surgiu em um contexto sociológico. Trata-se de um texto de ampla utilização nas ciências humanas, porque abrange os diferentes grupos humanos com base em características que consideram o ser humano em sua integralidade. 

A ideia de etnia abrange, além de aparência física, as diferentes nuances de cultura, comportamentos, nacionalidade, religião, língua, culinária, tradições místicas e familiares de cada grupo humano. Há uma tendência em abandonar o ponto de vista biológico, racional e objetivo para uma compreensão mais sociológica, subjetiva, inclusiva. 

Em um grupo étnico há uma noção de pertencimento, em que indivíduos compartilham de elos sócio-culturais, inclusive a linguagem. No Brasil, por exemplo, existem mais de 300 etnias indígenas, que falam, juntas, mais de 250 línguas.

Uma das formas de marcar uma etnia, por exemplo, são as tradições religiosas. Seja por meio de batismos, danças específicas, festas de celebração ou rituais de passagem da vida infantil para a vida adulta. Esses eventos unem os indivíduos de cada etnia, diferenciando-os do mundo. 

Na compreensão de etnia, abandona-se a ideia de hierarquia entre os grupos humanos. Adota-se, então, uma visão de que cada círculo social apresenta uma complexidade única e valiosa em si mesma, o que confere um olhar social menos enviesado sobre essas pessoas. 

Em geral, uma etnia também não deve ser considerada um grupo rígido, que deve seguir inquestionavelmente as mesmas tradições. Por vezes, o contato com outras culturas e formas de organização resulta em troca de experiências, que influenciam ambas as populações que se comunicaram — assim, uma adota ou adapta costumes da outra e, dessa forma, os conceitos étnicos também são mutáveis. 

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Linguagem, história e preconceitos: raça e etnia

A compreensão desses termos, permite um raciocínio sobre a importância da língua ser uma ferramenta dinâmica de comunicação entre os povos. Por vezes, um termo não é suficiente para expressar a magnitude e diferentes aspectos de conceito que parece muito parecido, como podemos ver com raça, que aborda um ponto de vista mais biológico, e etnia, que transmite uma visão mais ampla sobre a questão. 

Além disso, o histórico associado aos termos permite compreender porque ainda são empregadas palavras como “racismo” e “preconceito racial”: se raça trata-se da hierarquização dos seres humanos conforme suas características físicas, então o preconceito associado a elas deve ser derivado dessa ideia.

Questões sobre raça e etnia no Enem 

Na questão abaixo, é explorada a temática do colonialismo, preconceito e construção social do negro em meio a uma sociedade centrada na ideia de raça como hierarquia, que inferiorizava  pessoas com pele escura, cabelos crepos, lábios e narizes mais protuberantes. Tente resolver sozinho e depois acompanhe a resolução proposta pela Coruja.

Enem (2017)

TEXTO I

Frantz Fanon publicou pela primeira vez, em 1952, seu estudo sobre colonialismo e racismo, Pele negra, máscaras brancas. Ao dizer que “para o negro, há somente um destino” e que esse destino é branco, Fanon revelou que as aspirações de muitos povos colonizados foram formadas pelo pensamento colonial predominante.

BUCKINGHAM, W. et al. O livro da filosofia. São Paulo: Globo, 2011 (adaptado).

TEXTO II

Mesmo que não queiramos cobrar desses estabelecimentos (salões de beleza) uma eficácia política nos moldes tradicionais da militância, uma vez que são estabelecimentos comerciais e não entidades do movimento negro, o fato é que, ao se autodenominarem “étnicos” e se apregoarem como divulgadores de uma autoimagem positiva do negro em uma sociedade racista, os salões se colocam no cerne de uma luta política e ideológica.

GOMES, N. Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Disponível em: www.rizoma.ufsc.br. Acesso em: 13 fev. 2013.

Os textos apresentam uma mudança relevante na constituição identitária frente à discriminação racial. No Brasil, o desdobramento dessa mudança revela o(a)

A) valorização de traços culturais.  
B) utilização de resistência violenta.  
C) fortalecimento da organização partidária.  
D) enfraquecimento dos vínculos comunitários. 
E) aceitação de estruturas de submissão social.

Resposta: Os textos apresentam movimentos que se chocam, pois, de um lado, há a ênfase histórica do pensamento colonialista –ou seja, a imposição de um padrão branco europeu -, do outro, a busca por uma “autoimagem positiva”. Isso porque, o “padrão branco europeu” em questão afirma que negros seriam inferiores. Assim, estamos diante de um confronto, sendo que a identidade racial negra, a partir da imagem, busca reconstruir sua imagem cultural. A alternativa correta demonstra já que o tipo de atitude apresentada Texto II, que visa a valorização de traços culturais.

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