Sociologia clássica: grandes pensadores e suas teorias

Sociologia clássica: grandes pensadores e suas teorias

Sociologia clássica é a nomenclatura utilizada para designar os estudos sobre a sociedade desenvolvidos pelos primeiros pensadores do ramo: Auguste Comte, como idealizador dessas pesquisas, Émile Durkheim, que consolidou os dados sociológicos como ciência, além de Max Weber e Karl Marx, que discorreram sobre as relações individuais e coletivas ao longo da história.

Neste artigo, você encontra um resumo sobre o pensamento destes quatro grandes pensadores da sociologia clássica. Ainda, veja a resolução de uma questão de vestibulares sobre o tema, comentada por um dos professores especialistas em ciências sociais do Estratégia Vestibulares. 

O que é sociologia?

A sociologia é uma ciência criada e popularizada no século XIX, durante o desenvolvimento da sociedade moderna, com a Revolução Industrial, transformações do estilo de vida e moradia, além das alterações nas relações pessoais e profissionais. 

Com o passar do tempo, teorias foram desenvolvidas para compreender as sociedades por meio de dados demográficos, estatísticas econômicas, além de uma correlação com as questões históricas, que influenciam na formação, estrutura e cultura de qualquer povo.

Trata-se de uma área de estudo das ciências humanas, especificamente no subgrupo das ciências sociais, com grande contribuição para a compreensão do mundo atual e suas relações. Além de ter uma correspondência com as ciências políticas, uma vez que sociedade e política estão intimamente relacionadas. 

O tema deste artigo é, em específico, a sociologia clássica. É o esqueleto fundamental das ciências sociológicas, o primeiro passo na História para a compreensão das sociedades por um olhar científico, embasado por dados, estudado metodologicamente. 

+ Veja também: Introdução às ciências sociais: relação entre homem e sociedade

Auguste Comte

Auguste Comte (1978-1857) é um filósofo francês conhecido por ser o primeiro estudioso a nota que a sociedade deveria ser estudada por meio de uma ciência bem consolidada, porque as características dos povos e sua organização eram únicas frente a outros objetos de estudos daquela época. 

Positivismo

A principal teoria do intelectual francês foi o positivismo, que propôs a evolução da sociedade em estágios. Segundo esse estudo, conforme o conhecimento científico é inserido nas civilizações, ocorre uma evolução coletiva, no âmbito político e intelectual, por exemplo. Então, cada civilização estaria em uma marcha progressiva constante, como se a ciência fosse uma forma de tornar os indivíduos mais perfeitos e independentes. 

Por que Comte não criou a ciência sociológica?

Embora tenha sido um dos primeiros pensadores a estudar a sociedade moderna, e propor uma ciência somente para essa temática, suas teorias não eram sólidas e construídas a partir de um modelo científico claro, que confere mais credibilidade aos dados obtidos. Assim, não pode-se afirmar que Comte criou uma ciência, mas foi o idealizador de uma ideia científica que foi aperfeiçoada por seus sucessores, de forma que muitos preferem o chamar de “pai da sociologia”.

Émile Durkheim

Nascido na França em 1858, Émile Durkheim foi um filósofo e antropólogo judeu, que foi responsável por constituir as ideias de Comte em uma ciência real e metodológica. O intelectual francês criou uma técnica específica para o estudo das ciências sociais, com isso, os dados ganharam mais notoriedade na comunidade acadêmica e o tema adentrou as universidades.

Fatos sociais

Entre todos os estudos de Durkheim, os mais notáveis são os fatos sociais. Nessa teoria, implica-se que existem elementos externos aos indivíduos que influenciam, direta ou indiretamente em suas ações.

Tais elementos são chamados de fatos sociais e além de serem externos, também são universais, atingindo a toda a sociedade, bem como são coercitivos, ou seja, existe um caráter de “pressão” ou “obrigação” do indivíduo em cumprir determinado comportamento. 

Por exemplo, instituições sociais são uma forma específica desses  fatos sociais. Em uma igreja, por exemplo, há um conjunto de regras pré estabelecidas, que são externas ao indivíduo e são necessárias que todos os membros as cumpram para garantir uma convivência harmônica na comunidade. 

Método sociológico

Os fatos sociais eram, então, o objeto de estudo de Durkheim. Assim como no método cartesiano, Durkheim propôs que a sociologia se baseasse em observar fenômenos sociais, criar hipóteses e relacionar com conhecimentos pré-existentes, que serão ou não validados por meio de ferramentas.

Para essa validação, era necessário atrelar conhecimentos de outras áreas para chegar a uma conclusão. Assim, o estudioso lançava mão de fórmulas, estatísticas e gráficos para analisar os aspectos da sociedade de forma objetiva.

Durkheim: pai da sociologia?

A discussão sobre quem criou a sociologia também envolve Émile Durkheim. Uma vez que esse teórico é o primeiro a desenvolver um método fixo, analítico e objetivo para estudar a sociedade. Então, alguns estudiosos optam por considerá-lo, também, como um pai da sociologia. 

Pode-se afirmar, ainda, que a soma entre os conhecimentos produzidos por Comte e por Durkheim constituem o início do estudo das sociedades. Então, é possível dizer que ambos são “pais da sociologia”, com implicações diferentes sobre cada um. 

Max Weber

Karl Emil Maximilian Weber (1864 – 1920) foi um sociólogo alemão, que também atuou em áreas como economia e direito. De religião protestante, o estudioso ficou conhecido não somente por estudar a sociedade, mas também por avaliar o sistema capitalista do ponto de vista religioso, como será debatido a seguir.

Ações sociais

Como contraponto às teorias de Durkheim, o sociólogo alemão propunha que não são elementos externos que moldam o indivíduo, mas que as ações sociais de cada indivíduo constroem uma sociedade.

Então, existem diferentes padrões de comportamento social esperado para os indivíduos e, a depender da escolha individual, o resultado coletivo será diferente, afetando toda a estrutura da  sociedade.

Diante disso, criou quatro ações sociais, em que o indivíduo pode escolher uma ação porque:

  • almeja cumprir um objetivo específico (ação social racional com relação a fins);
  • deseja manter relações afetivas (ação social afetiva);
  • é fiel a uma tradição cultural, familiar, religiosa (ação social tradicional); e
  • possui valores sociais bem determinados e deseja mantê-los (ação social racional com relação a valores).

Protestantismo e capitalismo

Weber viveu em um período de desenvolvimento e ascensão do capitalismo. Ao mesmo tempo, tinha valores religiosos protestantes, a partir disso, criou teorias que relacionam teologia e sociologia, principalmente na análise conjunta do protestantismo e do capitalismo. 

Seu texto marcante nesse assunto foi “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Nessa obra, o autor debate que, no protestantismo, especificamente no calvinismo, há uma ideia de que a prosperidade na vida é um sinal de que a pessoa foi escolhida por Deus. Então, quanto mais talentoso e desenvolvido um profissional for, maior a chance daquele indivíduo ser o indicado para viver no paraíso após a morte. 

Segundo Weber, essa mentalidade fortaleceu o capitalismo, uma vez que os homens tinham o desejo de trabalhar muito e angariar bastantes bens, para indicar que eram escolhidos por Deus. Ao mesmo tempo, evitavam o pecado, como prazeres fúteis, luxúria, ostentação. Com isso, ainda, o acúmulo de riquezas era maior, fortalecendo cada vez mais as bases capitalistas. 

Karl Marx

O pensador alemão Karl Marx (1818-1883), conhecido por desenvolver o socialismo científico, também está entre os intelectuais da sociologia clássica. Tendo passado pelo curso de Direito, afeiçoou-se pela filosofia, ciência para a qual se dedicou e, posteriormente, se envolveria com os estudos sociológicos. 

Luta de classes e oposição ao capitalismo

A teoria básica de Marx traz uma relação do panorama histórico-social, uma vez que o autor estudou a história da humanidade e observou que, em diferentes momentos e sociedades, havia uma luta entre duas classes sociais. Esse pensamento ficou conhecido como materialismo histórico-dialético.

Marx discorreu sobre essa configuração social e considerava-a injusta, uma vez que uma classe social sempre admitia vantagens sobre a outra. Por exemplo, no capitalismo da Era Industrial, havia um embate socioeconômico entre burguesia e proletariado. 

Socialismo científico e comunismo

Conforme estudava as desigualdades sociais entre burguesia e proletariado, Marx propagou a ideia de que, para vencer a típica luta de classes, era necessário que o grupo dominado atacasse os dominadores. Então a ação do proletariado, do ponto de vista político, era essencial para criar uma nova ordem social. A esse movimento ele deu o nome de revolução socialista.

A nova organização seria comandada pelos proletários, que criariam uma ditadura. Nesse novo governo, o socialismo, a propriedade privada seria extinta. O próximo passo seria eliminar a divisão da sociedade em classes, tornando todos os indivíduos iguais perante o Estado, abolindo privilégios econômicos e sociais, esse seria o comunismo. 

Marxismo

Uma vez que Karl Marx desenvolveu ideias tão revolucionárias para sua época, essas teorias, juntas, ficaram conhecidas como marxismo. Elas influenciam pessoas ao redor do mundo, de forma que outros teóricos compactuam com o socialismo, inclusive, muitos políticos buscaram aplicá-las durante seus governos, como Vladimir Ilyich Ulianov (Lênin) na URSS, Joseph Stalin na URSS, Che Guevara em Cuba, entre outros.

Questão sobre sociologia clássica

A questão abaixo esteve no vestibular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em 2017, acompanhe a resolução proposta pela professora de história e sociologia Ale Lopes, que constitui a equipe didática do Estratégia Vestibulares.

Émile Durkheim foi um dos pensadores que mais contribuiu para a consolidação da Sociologia como ciência empírica e para sua instauração no meio acadêmico, tornando-se o primeiro professor universitário dessa disciplina.

QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira e OLIVEIRA, Márcia Gardênia de. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: EdUFMG, 1995. p. 15.

Leia com atenção e responda:

A) Quais as referências históricas, econômicas e sociais que Durkheim utilizou para constituir a Sociologia como ciência. Exemplifique e comente, no mínimo, duas delas.

Comentário (item A): Durkheim se baseou no pensamento positivista de Auguste Comte, principalmente, porque Comte forneceu uma maneira de enxergar a desordem social como um problema de pesquisa. Do ponto de vista histórico e econômico, podemos lembrar que E. Durkheim refletia as influências dos acontecimentos da Revolução Francesa e Revolução Industrial. Foi nesse contexto que novas questões sociais emergiram, pois as relações sociais passaram a ser mais complexas. 

B) A grande preocupação de Durkheim era estudar a vida social como realidade objetiva. Para tal, ele elaborou um objeto de estudo da Sociologia, o fato social. Qual o objetivo metodológico de Durkheim ao elaborar o conceito de fato social? Comente ao menos duas de suas características.

Comentário (item B): Émile Durkheim pretendeu delimitar o problema sociológico, que deveria ser analisado exteriormente, de forma imparcial e objetiva pelo cientista social. Isso porque, o fato social era apreendido como uma “coisa”. tratando-o como uma “coisa”. Dentre as características do fato social, podemos lembrar: 

  • Generalidade, por atingir a todos ou a maioria dos indivíduos e/ou estar presente universalmente como uma lei. 
  • Exterioridade, uma vez que sua manifestação não depende das consciências individuais.
  • Coercitividade, pois são forças morais que se impõem às consciências dos indivíduos, levando-os à adequação e conformação social (adaptação às normas e à vida em coletividade). 

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