Literatura: como usar a matéria na redação?

Literatura: como usar a matéria na redação?

Você sabia que é possível desenvolver repertórios socioculturais a partir de obras literárias? Acesse este artigo e saiba mais!

O professor de Língua Portuguesa do Estratégia Vestibulares, Wagner Santos, preparou uma aula completa com tudo sobre diversas obras literárias e como podem ser usadas na redação dos vestibulares e do Enem. 

Nesse texto, contamos pra você tudo sobre a aula e como você pode usar obras literárias como repertório sociocultural para suas redações. Com essas indicações, é possível contextualizar suas argumentações, tornando-as mais fortalecidas e fundamentadas.

O que é Repertório Sociocultural?

Repertório sociocultural é o conjunto de conhecimentos e referências adquiridos por meio de livros, filmes, séries, documentários, matérias, jornais, pesquisas, frases, citações e muito mais. Os repertórios são usados, principalmente, na argumentação de redações, em que os participantes utilizam referências para sustentar suas opiniões em fontes de autoridade. 

Assim, o repertório é usado para fundamentar, argumentar e fortalecer aquilo que está sendo dito no texto. Os repertórios socioculturais são avaliados pelas bancas de correção de diversos vestibulares, como no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em que Competência 3 avalia a capacidade do estudante de juntar informações externas ao defender seu ponto de vista.

A seguir, confira obras literárias que podem ser usadas como repertório cultural para argumentação e contextualização e saiba como usar a literatura na redação. Com essas indicações, é possível desenvolver repertórios de temas relacionados a livros, obras literárias e citações.

Dom Casmurro

O livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, pode ser usado em diversos temas de redação, como protagonismo feminino, relacionamentos abusivos e tóxicos, empatia e obsessão humana.

Protagonismo feminino

Segundo o professor, “é possível trabalhar com o livro em um dos temas mais sensacionais que temos, que é a mudança da posição e postura feminina na sociedade, por conta da própria mulher”. Esse protagonismo feminino é percebido na postura de Capitu no século XIX, quando ela toma uma posição social de independência e atitude própria, o que era inaceitável naquele momento.

Há a construção do protagonismo como modificação dos papéis sociais. A sociedade constrói ideias fixas que seriam imutáveis em relação a esses papéis, tanto que Capitu cria uma série de barreiras para que esses papéis sejam modificados. Assim, ela demonstra sua postura, sendo acusada de manipular Bentinho para garantir afeição social.

Capitu é uma mulher com personalidade forte que mostra sua independência e causa desconforto em seu parceiro, que acredita em uma suposta traição. Assim, passa a ser vista como adúltera e percebemos uma posição social machista, principalmente quando Bentinho afirma que Capitu casou-se com ele por interesse em sua herança. 

“O trecho ‘Como vês, Capitu, aos quatorze anos, tinha já ideias atrevidas, muito menos que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na prática faziam-se hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto, não de salto, mas aos saltinhos’, comprova o protagonismo por parte de Capitu”, ressalta o professor.

Relacionamentos abusivos

O relacionamento entre Capitu e Bentinho é extremamente tóxico, e isso acontece devido às ações e expectativas criadas por ambos. Bentinho cria uma noção e visão de que ele é o sofredor da relação e que alguém o manipula, deixando claro que foi traído. “Para Bentinho seu relacionamento com Capitu é tóxico por ele ser homem em uma sociedade machista e estar como papel de vítima nesta visão”, explica o professor.

O trecho "As minhas [lágrimas] cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também, Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.", demonstra a manipulação e comparação da viúva de Escobar com Capitu. 

Empatia e Obsessão humana

Em um determinado momento, Dom Casmurro pensa claramente em matar seu filho Ezequiel. Com dificuldade de lidar com a possibilidade do menino não ser seu filho, ele cria uma obsessão e é possível observar uma violência psicológica por parte do pai

Além disso, em redações que envolvam obsessão humana, é possível argumentar através dos episódios de transtornos mentais que acontecem durante o livro, como quando Dom Casmurro tem a sensação de perseguição completa.

Cemitério dos Vivos

O livro Cemitério dos Vivos, de Lima Barreto, pode ser usado como argumentação em diversas propostas de redação, como saúde mental, exclusão social e empatia.

Saúde mental

Um dos primeiros pontos a ser debatido sobre a obra é em relação ao nome do livro. A ideia de cemitério dos vivos é colocar pessoas vivas dentro de um manicômio, como se estivessem enterradas, sendo excluídas da sociedade por serem problema

“Podemos pensar que o paciente do manicômio é um incômodo na sociedade e, por isso, quando é levado para dentro, é tratado como louco”, afirma Wagner.

Exclusão social e Empatia

Nesta obra, observamos as relações de exclusão completa, onde as pessoas são apartadas da sociedade e, quando colocadas no manicômio, há um processo de desumanização. Este processo provoca uma empatia, ao passo que as pessoas são tratadas e o doente mental é desumanizado, sendo apartado da sociedade. 

Assim, é tratado como se não fosse uma pessoa e sofrendo dentro do manicômio. Com isso, há a empatia ao pensar na desigualdade, exclusão social e desumanização sofridos.

O professor explica que “Lima Barreto conta que o manicômio era ‘povoado’ por pretos e pobres, mostrando ainda mais a exclusão social e o tratamento diferenciado”.

"Não me incomodo muito com o Hospício, mas o que me aborrece é essa intromissão da polícia na minha vida. De mim para mim, tenho certeza de que não sou louco; mas devido ao álcool, misturado com toda espécie de apreensões que as dificuldades da minha vida material há seis anos me assoberbam, de quando em quando dou sinais de loucura: deliro", dita a partir de uma perspectiva racial. 

Hibisco Roxo

O livro Hibisco Roxo, escrito por Chimamanda Ngozi Adichie, pode ser usado em diversos temas de redação, como processos de fanatismo, intolerância religiosa ou de gênero, imposição cultural e situação da mulher.

Processos de fanatismo

Neste livro, há o processo de crescimento de uma jovem nigeriana em meio a uma sociedade com um pai fanático religioso. Este fanatismo coloca em risco relações sociais e familiares, ao passo que o desenvolvimento depende necessariamente de como se deu sua relação familiar.

“O fanatismo, muitas vezes, infelizmente é uma macha para a religião, pois o processo não é religioso, mas sim das pessoas que estão incorporadas nessa religião, ou seja, as pessoas é que são problemáticas”, ressalta.

Intolerância religiosa ou de gênero

Kambili, uma menina criada por um pai extremamente rigoroso, tem uma quebra de visão louca dessa relação com a prima dela, que tem uma liberdade maior. Numa sociedade com  o pensamento religioso como do pai dela, o fato dela ser mulher é um problema.

Imposição cultural

Esse processo acontece por meio das religiões e culturas apresentadas no livro. Como o processo colonizante, em que a imposição cultural acontece por meio da religião, que vai além de um processo evangelizador. 

Situação da mulher

Já na situação da mulher, há uma relação direta com essa noção do conservadorismo. “Teoricamente, o conservadorismo não é ruim, mas aquele que se fundamenta em religião passa a ser um pouco mais complicado, à medida que a imposição de costumes é fundamentada num processo de crença”, explica o professor.

"Até então eu me sentira como se não estivesse ali, como se estivesse apenas observando uma mesa onde se podia dizer o que você quisesse, quando quisesse, para quem quisesse, onde o ar era livre para ser respirado à vontade", metáfora que demonstra como a opressão tira o ar.

Pai contra mãe

O livro Pai contra mãe é um dos mais pesados contos escritos por Machado de Assis. Com esta obra, é possível desenvolver argumentações com temas relacionados a empatia, vulnerabilidade social, racismo e machismo.

Foucault estabelece a ideia de que todas as relações sociais são de poder. Ou seja, além de Cândido Neves ser homem branco, ele possuía um status que a Arminda não tinha, que era a liberdade, ao passo que era uma escrava e fugiu por conta dos maus tratos que sofria.

"A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Era grotesca tal máscara, mas ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.", isso explica que, em nome da ordem social, nós aceitamos o grotesco. 

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