13 músicas de Rita Lee que podem ser usadas como repertório sociocultural

13 músicas de Rita Lee que podem ser usadas como repertório sociocultural

Confira algumas das várias músicas de Rita Lee que podem ser usadas como repertório sociocultural nas redações dos vestibulares e Enem

Morreu nesta segunda-feira (08), Rita Lee Jones, uma das maiores cantoras e compositoras da música brasileira, aos 75 anos de idade. Seu falecimento é decorrente de um câncer de pulmão, diagnosticado em maio de 2021 e tratado desde então.

Rita é considerada uma das pessoas fundamentais no desenvolvimento da música nacional, em especial o rock brasileiro, mas também no pop, bolero, carnaval e até bossa nova. É também uma das artistas mais transgressoras do País, com letras e atos impactantes nas últimas décadas.

Expoente do tropicalismo, Rita Lee integrou “Os Mutantes” e participou do álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”, um marco musical do Brasil da década de 60. Formou também o grupo “Tutti Frutti”, antes de partir carreira solo, no final da década de 70.

Ao todo, desenvolveu 40 álbuns, fez participações em várias novelas, escreveu livros infantis e ambientais e mais duas autobiografias, uma, inclusive, que está em pré-venda. Em seus últimos anos de vida, morou em um sítio no interior do Estado de São Paulo. Rita deixa três filhos: Roberto, João e Antônio.

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O Portal Estratégia Vestibulares listou 13 músicas (de várias que poderiam estar aqui) de Rita Lee que podem ser usadas como repertório sociocultural nas redações do Enem e demais vestibulares. Confira abaixo.

Mania de Você

Escrita por Rita e Roberto de Carvalho, seu marido e companheiro de vida e obra, a música é luxuriosa e revolucionária ao abordar a sexualidade em um ponto de vista feminino, algo raríssimo na época.

“Tocou profundamente os corações de tantas pessoas numa época tão difícil de repressão ostensiva, de pouca liberdade”, afirmou Roberto sobre a música em uma entrevista recente. A obra é de 1979, momento em que movimentos feministas ampliavam suas vozes reivindicando liberdade sexual para o gênero.

“A gente faz o amor por telepatia
No chão, no mar, na lua, na melodia
Mania de você, de tanto a gente se beijar
De tanto imaginar, imaginar loucuras”

Caos

A canção lançada em 2022 pelos Titãs foi escrita por Rita Lee, Roberto de Carvalho e Beto Lee. A letra tem forte inspiração no clima político e social brasileiro dos últimos anos. A letra traz um tom ácido que critica o tom bélico e reafirma a característica por vezes hippie e paz e amor de Rita e suas referências.

“Tô pilhado e de saco cheio
Da excrescência calhorda
Da horda de Vossas Excelências
Cuspindo no microfone
Cheirando a enxofre”

As Duas Faces de Eva

“Mulher é um bicho esquisito, todo mês sangra” foi motivo de censura, em 1981, pela então Divisão de Censura de Diversões Públicas, órgão censor do período ditatorial no Brasil. A argumentação judicial da gravadora de Rita na época era de que “a existência do ciclo menstrual não é mais motivo de vergonha ou medo”, citando peças publicitárias de absorventes anexos ao processo.

A multifaceta feminina e controversa é explorada na letra logo de cara: “nas duas faces de Eva, a Bela e a Fera”. A letra ainda reafirma “por isso não provoque, é cor de rosa choque”. 

“Sexo frágil
Não foge à luta
E nem só de cama
Vive a mulher”

Ovelha Negra

Ovelha Negra é um de seus maiores sucessos: embalou gerações de subversivos (agentes transformadores da ordem ou que visam derrubá-la, propagando ideias diferentes da maioria) e marginalizados, seja da sociedade, seja do âmbito familiar, ou mesmo de (ex) amigos. 

“Você é a ovelha negra da família” em tom meloso é, por incrível que pareça, um abraço fraterno de Rita em quem não se encaixa em uma série de padrões estabelecidos, local em que ela se inclui.

“Foi quando meu pai me disse filha
Você é a ovelha negra da família
Agora é hora de você assumir
E sumir”

A canção é um desabafo sobre sua expulsão do grupo “Os Mutantes”, por divergências intelectuais e recém-separação do seu casamento com Arnaldo Baptista. Uma curiosidade é que seu pai ficou chateado com a filha, já que muitos pensaram que ela de fato tivesse sido expulsa de casa, o que nunca aconteceu, já que ele sempre a apoiou.

“Não adianta chamar
Quando alguém está perdido
Procurando se encontrar”

Todas as Mulheres do Mundo

A música é uma homenagem à Leila Diniz, atriz que morreu em um acidente de avião aos 27 anos, em 1972. O nome é também o título do filme feito por Domingos Oliveira, cineasta que fora casado com Leila. 

“Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz”

Leila era uma das principais figuras feministas da época, sendo considerada uma combatente da repressão, moralismos e machismo impostos no País. A música cita diversas mulheres como Clarice Lispector, Fernanda Montenegro, Carmen Miranda, Princesa Isabel e Nossa Senhora Aparecida.

Rita define a música como “rock exaltação sobre bizarrices do universo feminino, e no final uma lista de mulheres gênias brasileiras cujo refrão é dedicado a Leila Diniz.”

Gente Fina é Outra Coisa

A canção “Gente Fina é Outra Coisa” também foi vetada pela censura imposta no Brasil com a justificativa de que ela poderia gerar “uma desagregação social e familiar”. Vale lembrar que os discursos da época eram carregados de moralismo e uma exigência por seguir a ordem estabelecida pelo governo na época.

“Hoje mesmo eu te vi
Pensei que fosse o seu pai
Que decepção
Eu fiquei triste de ver
A sua vida começando pelo lado errado
E você está acreditando mesmo
Que gente fina é outra coisa
Mas gente fina é outra coisa”

A música de Rita Lee já foi utilizada como questão de vestibular pela Faceres, em 2020, pedindo uma análise da letra dentro do contexto da época para encontrar os motivos que levaram a censura a vetar a música.

Pagu

Patrícia Galvão, a Pagu, foi jornalista, escritora, poetisa, diretora, cartunista e militante feminista dos anos 30 e 40, sendo, inclusive, a primeira mulher presa por comunismo, na década de 30. A homenagem de Rita foi feita em seu álbum 3001, lançado no ano 2000 e a canção foi regravada por Zélia Duncan e Maria Rita.

“Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem”

Além do trecho destacado, a letra ainda tem as frases: “só quem morreu na fogueira sabe o que é ser carvão”, “minha força não é bruta” e “sou rainha do meu tanque / sou Pagu indignada no palanque” e tantas outras, tornando-se um sucesso popular da sua época.

Luz del Fuego

Em mais uma homenagem, “Luz del Fuego” é o nome artístico de Dora Vivacqua, dançarina, escritora e atriz que também era militante feminista. Chegou a fundar o Partido Naturalista Brasileiro e discursava pela causa, muitas vezes se apresentando nua em praias do Espírito Santo e Rio de Janeiro. 

Luz foi brutalmente assassinada em 1967, aos 50 anos de idade, por pescadores que saquearam sua casa na Ilha do Sol, local naturista em que ela vivia. 

“Eu hoje represento a loucura
Mais o que você quiser
Tudo que você vê sair da boca
De uma grande mulher
Porém louca!

Eu hoje represento o segredo
Enrolado no papel
Como luz del fuego
Não tinha medo
Ela também foi pro céu, cedo!”

Além das três letras citadas em homenagem a mulheres consideradas subversivas (Luz del Fuego, Pagu e Leila Diniz), Rita ainda homenageou Elvira Pagã em música homônima.

Vote em Mim

Em 1982, em meio aos pedidos de redemocratização do país, Rita Lee convidou ao palco Sócrates, Casagrande e Wladimir, ícones de um Corinthians que se auto intitulava “Democracia Corinthiana”. A música era cantada a plenos pulmões enquanto um anônimo jogava a camisa do clube para Rita vestir-se.

Anos depois, em 1984, Rita esteve nos palanques com o trio, desta vez participando das “Diretas Já”, em história contada pelo portal Trivela. O bom-humor da música ilustra as opiniões rasgadas da compositora sobre o cenário político do momento.

“Faço comício no hospício
Jorro petróleo por qualquer orifício
E sem demagogia, por pura alegria
Quero o povo feliz

Meu amor, por favor
Vote em mim
Prometo que se eu ganhar a eleição
Só vou dar poder ao seu coração”

Arrombou a Mídia

“Arrombou a Mídia” é uma das versões de “Arrombou a Festa”, lançada por Rita em parceria com Paulo Coelho, que na época ironizava sucessos da década de 70. A paródia com a mídia foi lançada no programa Saia Justa, do canal GNT, que Rita co-presentava.

A letra faz reflexões sobre o papel da mídia e da televisão na sociedade brasileira, destacando frases de apresentadores em meio à melodia e criticando a futilidade e manipulações mostradas ao público ao longo das programações televisivas.

“Tem sempre na tela um apresentador
Vendendo a tragédia de algum cantor
A fé corre o risco de fugir da igreja
No canal do bispo, comercial de cerveja
De meia em meia hora, uma nova pesquisa
Mas como, se ninguém nunca me analisa?
Por sorte meu controle anda tão descontrolado
Eu mudo de canal e ele aperta o desligado…
Isto é uma vergonha!”

Arrombou o Cofre

“Arrombou o Cofre” também foi uma das letras censuradas pela ditadura, em 1983, no disco “Bombom” de Rita Lee. O G1 listou mais letras de Rita Lee que foram proibidas pela censura no Brasil.

A letra critica a corrupção do país e cita políticos como Paulo Maluf e Delfim Netto, além de Solange Hernandes, conhecida por ser uma das maiores censoras da época, no verso “na linha dura basta a Solange da censura”.

“Governadores, Deputados, Vereadores
Saqueando bancos e bancando defensores
Ninguém se ilude mais que a comida está no fim
Olhem só a pança do sinistro Delfim
Tá cheia de cupim”

Obrigado Não

Um clipe com um beijo homossexual dado por dois militares em plena TV aberta no ano de 1997? Rita Lee fez. “Obrigado Não” reúne uma série de temas polêmicos da época e até mesmo hoje em dia como aborto, legalização das drogas, casamento gay e comunismo.

“Quanto mais proibido
Mais faz sentido a contravenção
Legalize o que não é crime
Recrimine a falta de educação”

Dentre outras frases da música estão: “por que whisky sim? por que Cannabis não?”, “cuidado com polícia, cuidado com ladrão” e “foi-se a ditadura militar / foice e martelo não vão mais vingar / servir exército só se for da salvação”.

Brasil com S

Em uma das poucas músicas de Bossa Nova escritas por Rita Lee, “Brasil com S” tem tom nacionalista e ufanista, reafirmando que o Brasil é “terra de encanto, amor e Sol”, e que “não fala inglês, nem espanhol”.

“Na minha terra onde tudo na vida se dá um jeitinho
Ainda hoje invasores namoram a tua beleza
Que confusão veja você
No mapa-mundi está com Z
Quem te conhece não esquece
Meu Brasil é com S”

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